
ROMA NO MASP
Hoje faz trinta anos que Elis Regina nos deixou. Lembro tão bem daquele dia de janeiro de 1982, que parece que foi ontem. Eu já estava bastante triste por ter sido chamado para prestar o serviço militar. Cabeludo que era, tive a cabeça raspada e fiquei vários dias das férias de verão daquele ano me apresentando no quartel, onde sofria toda sorte de humilhações. No meio daquilo tudo, que já era suficientemente doloroso para mim, veio a terrível notícia: O Brasil perdia sua maior cantora, Elis Regina. Parafraseando Maysa, meu mundo caiu. Para coroar a tristeza, dias depois a revista Veja estampou na capa aquela manchete apelativa, sensacionalista e marron... Com o tempo, as coisas foram voltando ao normal. Um amigo da minha irmã falou com o pai general que mandou uma carta de Brasília e fui dispensado do serviço militar. E, de lá pra cá, eu segui firme no intuito de preservar a memória dessa que foi, para mim, a maior e melhor cantora do Brasil. Tive o prazer de assistir a três shows de Elis: Essa Mulher, em 1979, Saudade do Brasil, em 1980, e Trem Azul, em 1981. Quando fui assistir ao show Essa Mulher, em Porto Alegre, no Teatro Leopoldina, eu tinha apenas quinze anos de idade, com tamanho e aparência de no máximo uns dez, onze. Depois do show, me enchi de coragem e entrei no camarim. Elis foi uma fofa comigo e me deu esse autógrafo, que guardo até hoje e cuja foto ilustra o post. Tenho guardados, também, os ingressos dos três shows e o programa de Saudade do Brasil, a que assisti no Canecão, no Rio de Janeiro. Nunca a esqueci e nunca deixei de escutar os seus discos. Estou contando os dias para assistir ao show que sua filha Maria Rita vai fazer em homenagem aos trinta anos de sua morte, cantando músicas do seu repertório. E aguardo com muita ansiedade os materiais inéditos de shows que serão lançados, tudo em comemoração a esses trinta anos. Para mim, Elis ainda vive. Hoje já tenho quase cinqüenta, mas o menino de quinze anos que ganhou o autógrafo e falou pessoalmente com Elis, ainda vive também. Portanto, o título do post, Trinta Anos sem Elis, é apenas maneira de falar. Para mim, são trinta anos com ela... Longa vida para Elis Regina!
Nas fotos, o autógrafo no cordel de Zé Ramalho e Elis nos bastidores do show Falso Brilhante.
NÃO EXISTEM MAIS CRIANÇAS
Antigamente – quero dizer há vinte anos – as crianças eram crianças, os adultos eram adultos e os velhos eram velhos. Hoje, as crianças são adultos, os velhos são idosos e os adultos... Bem, os adultos pensam que são jovens... Falo por mim. Pra começo de conversa, as crianças estão crescendo cada vez mais depressa. Todo mundo que a gente viu nascer já está se formando, casando, tendo vida própria e sendo dono do próprio nariz. Todos os nossos ídolos de infância já passaram dos sessenta e a gente, que já está de cabelos brancos, não pode nem dizer a eles que é seu fã desde a infância, pra não correr o risco de ofendê-los, pois os sessentões de hoje tem, ou buscam desesperadamente ter, aparência de quarentões. As crianças estão cheias de opiniões sobre tudo, frequentam teatro, restaurantes, se vestem, pensam e agem como adultos. Acho um porre escutar gente de nove anos emitindo pareceres cheios de expressões como: Na verdade, curioso, absolutamente, bacana, apropriado, pitoresco, genial, e por aí vai. Atrizes e atores mirins dão entrevistas na TV dizendo que seu personagem no filme, minissérie ou novela foi um “presente” do diretor ou do autor, a quem geralmente se referem usando somente o primeiro nome ou um apelido. Algo como: Adoro as novelas do Maneco! Ou: O Jorginho me deu muita força. O melhor é quando dizem que atualmente estão sozinhas, ou seja, não estão namorando ninguém. Ou ficando. E eu não consigo me convencer de que já sou um senhor de quase cinquenta anos. Continuo agindo e me vestindo como se tivesse vinte e poucos... Às vezes sinto que vivo uma adolescência retardada, espécie de puberdade da maturidade. É quando se perde um pouco a noção de quem se é: Você acabou de ficar adulto e já está começando a envelhecer, pois, como falei no início, todo mundo que a gente viu nascer já está etc... Por que tudo está passando tão depressa? Por que sinto sono tão cedo? Por que não suporto mais barulho, fumaça de cigarro e luzes estroboscópicas? Por que crianças gritando me irritam? Fica a questão...
Na foto, eu criança vestido como tal.