segunda-feira, 16 de junho de 2025
AU REVOIR, RIO!
Deixo o Rio de Janeiro feliz por ter revisto a cidade (que não visitava desde janeiro de 2017), ter reencontrado amigos, assistido a espetáculos, descoberto lugares que não conhecia e também por ter tido a oportunidade de visitar a exposição de Cazuza. Foram poucos dias, cinco no total, mas de tão intensos pareceu muito mais. Deu muita saudade do tempo em que eu vivia na ponte aérea para as apresentações da Terça Insana por aqui… Gostei bastante de assistir ao espetáculo/depoimento de Ítala Nandi, Paixão Viva, espécie de palestra semi-encenada na qual ela conta toda a sua trajetória pelo cinema, teatro e televisão. Um formato interessante de ser explorado, ainda mais quando a pessoa em questão tem uma trajetória tão rica em realizações e relacionamentos como a dela. E ela o faz com um pé nas costas, como se estivesse em casa recebendo a plateia… Encerrei a programação teatral no domingo com o espetáculo Os Mambembes, colorida e animada montagem inspirada no clássico O Mambembe, de Artur de Azevedo. A peça celebra o amor pelo teatro e as dificuldades que os artistas encontram pelo caminho enquanto perseguem seu sonho. Estreou em turnê pelo interior do Brasil onde era apresentada na rua em cima de um caminhão. Talvez por isso os atores estejam gritando tanto o tempo todo em cena. Uma direção mais atenta os faria adaptar o registro da interpretação para o palco do teatro. Mas o espetáculo é lindo e os atores, estelares, todos ótimos… Não deu tempo de fazer tudo o que eu queria, mas consegui ir até o centro da cidade para um lanche na belíssima Confeitaria Colombo, que adoro sempre revisitar. Volto para São Paulo repleto de boas imagens, memórias e afetos. Esperando em breve poder retornar… Nas fotos, o belíssimo salão da Confeitaria Colombo, Ítala Nandi agradece os aplausos, elenco de Os Mambembes idem e detalhe do Aeroporto Santos Dumond onde escrevo enquanto espero meu voo de volta para São Paulo.
domingo, 15 de junho de 2025
LE BLÉ NOIR
Copacabana guarda muitas surpresas escondidas nas suas pequenas ruazinhas. Uma delas é o simpático Le Blé Noir, que descobri totalmente ao acaso enquanto fazia um tour de reconhecimento das redondezas. Uma creperia francesa que serve aquele crepe bretão, feito com trigo sarraceno escuro (o blé noir do título) e a cidra da Bretanha, que é deliciosa e não tem nada a ver com aquela brasileira bagaceira que as pessoas jogam no mar como oferenda para Iemanjá e faz a coitada ter ressaca e dor de cabeça rsrs… O ambiente é super agradável, com luz baixa e música idem. Só não me senti na Bretanha porque nunca estive lá. Mas cheguei perto: Lembrei de um restaurante bretão que fui com meu amigo João Faria em Paris, ao lado do Beaubourg, na praça Stravinsky, aquela que tem a fonte com esculturas de Niki de Saint Phalle. Foi lá que conheci o crepe de blé noir e a cidra bretã. Matei a saudade e descobri um novo cantinho para chamar de meu aqui no Rio. De sobremesa pedi a cidra, que veio servida em uma inesperada xícara. Adorei. Essas descobertas que faço ao acaso enquanto estou flanando pelas ruas das cidades que visito são as que mais me agradam; muito mais do que aquelas que alguém nos recomenda ou que estão bombando na internet (como as do tiktok, por exemplo). Por essas e outras coisas legais é que adoro viajar. E voltar aos lugares que já conheço. Vou formando assim o meu portfólio local... o Blé Noir Fica na rua Xavier da Silveira, 19-A em Copacabana e abre às 19:30. Recomendo!
Nas fotos, a fachada do restaurante, o vinho que acompanhou meu prato, detalhe do salão e a xícara de cidra.
sexta-feira, 13 de junho de 2025
EXAGERADO
Várias surpresas e alegrias nessa minha volta ao Rio. Exemplo delas é a exposição Cazuza Exagerado, em cartaz no rooftop do Shopping Leblon. De caráter imersivo, ela te faz entrar em uma espécie de túnel do tempo que percorre toda a trajetória do ídolo pop. Da infância até a doença que o levou precocemente. Passando pelo teatro, as primeiras canções, a banda Barão Vermelho e a consagração da carreira solo. A exposição é linda, super bem montada, rica em detalhes, objetos pessoais e lembranças que a mãe Lucinha Araújo guardou do único filho com muito amor e cuidado. A medida que se anda pelo espaço da mostra, vai-se entrando em diversos ambientes relacionados à trajetória de Cazuza. Como o Circo Voador, o Cassino do Chacrinha e a Pizzaria Guanabara, por exemplo. Mais do que as canções, a poesia sempre foi a marca de Cazuza, o meio através do qual ele melhor expressou seu romantismo exacerbado. Ou exagerado, nas palavras do próprio. Felizmente a poesia tem o merecido destaque na exposição. Ela transborda a cada ambiente. Em manuscritos, em páginas datilografadas; nas máquinas de escrever que ele usava, nas máquinas fotográficas, nos bilhetes que escrevia para os pais, amigos e namorados. Aliás, foi no dia dos namorados que visitei a exposição. Um lindo presente para mim, que passei o dia longe do meu. (Sempre tive Cazuza como uma espécie de namorado imaginário). Fiquei especialmente emocionado diante da máquina de escrever Remington, exatamente igual à que uso em cena no meu espetáculo solo Caio em Revista. E, claro, a garrafa de Jack Daniel’s que uso também. A emoção me pegou na foto dele com Caio feita por Vânia Toledo. Assim como em uma outra na qual ele aparece ao lado de minha saudosa amiga Lidoka. Quando cheguei no ambiente que reproduz o camarim do último show no Canecão eu já estava jogado a seus pés com mil rosas roubadas. E as lágrimas rolaram soltas na sala que refaz o Canecão em si, com uma projeção de Cazuza sobre o palco cantando O Tempo Não Para… Adorei uma sala cujas paredes, teto e chão são totalmente cobertos por fotos do cantor que, animadas por inteligência artificial, o mostram cantando trechos de seus grandes sucessos. Pra que mentir, fingir que perdoou? A emoção acabou, que coincidência é o amor, a nossa música nunca mais tocou… Que engraçado, parece que foi ontem. Me vi jovem e romântico outra vez. Que bom que o tempo não para e nos traz Cazuza de volta nesta belíssima exposição. É como se ele me perguntasse: Mais uma dose? E eu respondesse: é claro que eu to a fim. A noite nunca tem fim, babe. Por que a gente é assim? Nas fotos, as várias fases de Cazuza, o Circo Voador, Remington & Jack Daniel's, Caju e o Velho Guerreiro e eu no camarim do Canecão.
quinta-feira, 12 de junho de 2025
A BALEIA
De volta ao Rio de Janeiro - depois de oito anos - para assistir à estreia para convidados do espetáculo A Baleia, do americano Samuel D. Hunter, mais uma belíssima direção do mestre Luis Artur Nunes. José de Abreu lidera com galhardia e muito talento o elenco afiadíssimo que é composto por Luisa Thiré, Gabriela Freire, Eduardo Speroni e Alice Borges. Como sempre acontece nas direções de Luis Artur, a grande estrela do espetáculo é o texto. Que, no caso, é brilhante. Samuel D. Hunter mergulha na interioridade dos personagens trazendo à tona todas as suas fraquezas, tristezas, falhas, arrependimentos e decepções. Não sem delicadeza, algum humor e belas imagens. Assim como citações de Herman Melville. Apesar de denso, o texto tem cenas curtas, o que agiliza a história e, quando a gente vê, as duas horas do espetáculo já se passaram. Um grande deleite para o espectador mais atento, que gosta realmente de teatro. Teatro de verdade, com T maiúsculo. Sem grandes pirotecnias cênicas, Luis Artur constrói o seu espetáculo lançando mão basicamente da matéria prima essencial que são os atores. Coisa raríssima de se ver hoje em dia, diga-se de passagem. Um diretor que dirige atores e faz o texto surgir inteiro e bem trabalhado sobre o palco. Cada frase é dita e compreendida em sua totalidade. Já tive a graça de ser dirigido por ele duas vezes - em A Fonte, de Érico Veríssimo, e mais recentemente no meu solo Caio em Revista - e de ser seu assistente de direção em vários outros espetáculos. Além de ter sido seu aluno na faculdade de teatro. Posso dizer com conhecimento de causa que ele se supera a cada novo trabalho. Costumo dizer que trabalhar com Luis Artur Nunes é uma espécie de pós-graduação, como um mestrado ou doutorado. A gente aprende muito enquanto divide com ele a sala de ensaio e os palcos. Sou muitíssimo grato por viver no mesmo tempo que esse grande homem de teatro. E aproveito para agradecer aqui por mais esse lindo presente que é A Baleia. A peça fica em cartaz até 20 de julho aqui no Rio, no teatro Adolpho Bloch, e depois A Baleia irá singrar outros mares Brasil afora. Eu se fosse você não perdia! Nas fotos, o elenco agradece os merecidos aplausos e eu, bem pimpão, entre o diretor e o protagonista Zé de Abreu.
sábado, 7 de junho de 2025
HUMOR PROIBIDO
Quando eu estava na Terça Insana as pessoas viviam me perguntando qual era o limite do humor. Até hoje, toda vez que dou uma entrevista, me fazem essa pergunta e eu invariavelmente respondo: A elegância. Humor tem que ser engraçado (obviamente), inteligente (é o mínimo que se espera dele) e, claro, elegante. É claro que estou me referindo a um humor de bom gosto, refinado. Como era, por exemplo, o de Caio Fernando Abreu e o de Antonio Bivar (sim, eles também faziam humor). E como é, modestamente, o meu. Pelo menos é o tipo de humor que gosto de fazer e de consumir. Mas sei que a maioria dos humoristas e comediantes passam longe dessa minha idealizada elegância. Até porque, vamos combinar, por aqui elegância não vende. Não dá dinheiro. Ou, para ser ainda mais popular, não paga boleto. De uns tempos para cá todo mundo reclama que está tudo muito chato, que não se pode falar mais nada, que tem muito mimimi. A verdade é que nunca pode. Mas, como não havia limite - olha ele aí- todo mundo falava o que quisesse e quem se sentisse ofendido que desligasse a tevê ou simplesmente não fosse ao teatro. Só que o mundo evoluiu (pouco pro meu gosto) e as pessoas passaram a ocupar seus espaços na sociedade sendo quem são. E não querem mais, obviamente, ser alvo de chacota. Todo o humor que cresci assistindo era preconceituoso e discriminatório. Doía demais ver Jorge Dória dizer, referindo-se ao filho gay, “onde foi que eu errei” e todos a minha volta acharem aquilo engraçado. Quando a Terça Insana surgiu representou uma espécie de respiro. O humor que praticávamos dava voz aos discriminados, ao invés de deprecia-los. Vinha como uma renovação daquele velho humor que a televisão repetia há décadas: Da mulher gostosa e burra e da bicha estereotipada, por exemplo. Acho muito feio o que a maioria dos comediantes de stand up brasileiros faz, mas me limito a não consumi-los. Seria muita pretensão da minha parte querer que se calassem (Também acho feio o que a maioria dos fanqueiros e fanqueiras cantam). O humor sempre pôs o dedo nas feridas. Os bobos da corte eram pagos pelos reis para fazerem piadas justamente sobre eles, os reis. Acho um exagero, por exemplo, um humorista ser condenado à prisão por ter feito piadas preconceituosas no seu show. É claro que racismo, homofobia, misoginia e anti-semitismo são crimes. Que o processem, que lhe apliquem multas por danos morais, que tirem seu show da internet. Mas condenar à prisão acho desmedido. Lembra muito aqueles episódios ocorridos durante a ditadura militar, em que soldados invadiam teatros, batiam nos atores e os levavam presos apenas por discordarem do regime. Como aconteceu com o elenco de Roda Viva, que tinha no elenco artistas do calibre de Marília Pera e Zezé Motta, para citar apenas duas. Me pergunto o que seria de Dercy Gonçalves hoje em dia. Ou de Chico Anisio que, no auge do governo Figueiredo (o do prendo e arrebento) se dirigia diretamente a ele dizendo: Alô, João Batista? Salomé de Passo Fundo. E em seguida mandava ver nas críticas… Não quero de forma alguma comparar esses grandes artistas do passado com essa “galera do stand up” de hoje. Não há termos de comparação. O que me entristece é que, na minha humilde opinião, o humor perdeu a graça. Perdeu o requinte e a inteligência. Sutileza, então, nem se fala. Mas aí já seria querer demais. Dizem que rir é o melhor remédio e eu concordo. Acredito que realmente é. Mas que tal rirmos de nós mesmos ao invés de depreciar o próximo? Fica a dica... Na foto, a impagável Dercy torcendo a cara para o mau humor.
Assinar:
Postagens (Atom)