quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

BEIJA-ME A BOUCA, AMOR

Estamos vivendo uma era tão tecnológica e virtual, que tudo o que não existir pelo menos digitalmente, aqui na web, irá inevitavelmente desaparecer. O teatro então, que é por natureza uma arte efêmera, será inexoravelmente esquecido. Foi pensando nisso em uma tarde chuvosa que resolvi contar aqui no blog um pouco sobre cada um dos espetáculos que dirigi... Começo com Beija-me a Bouca, Amor que foi a minha estreia na direção. Uma colagem de esquetes e canções, bem no estilo show de variedades que eu viria a experimentar anos depois como ator na Terça Insana. Estávamos no ano de 1986, em Porto Alegre. Eu fazia parte do elenco do Grupo Tear, de Maria Helena Lopes, e já estava no terceiro ano da faculdade de teatro, quando recebi o convite de Zé Adão barbosa e Lúcia Serpa – minha colega no Tear – para dirigi-los nesse formato que surgia como uma moda de verão nos palcos dos bares e casas noturnas da capital gaúcha. O roteiro costurava com canções dois textos curtos de Karl Valentin – O Chafariz e A Dança – e um de autoria de Renato Campão, chamado Brigitte Bardot. Algumas canções foram extraídas de um medley que Elis Regina cantava no show Falso Brilhante – entre elas O Guarany, de Carlos Gomes – e, para arrematar o repertório, Beija-me Amor, de Arnaldo Baptista e Élcio Decário, do repertório de Rita Lee, que inspirou o título do espetáculo. Havia ainda um divertido duelo vocal entre os atores no qual eles utilizavam trechos de músicas começadas por “se você”... Estreamos no Porto de Elis, local icônico da vida cultural e noturna da cidade, onde cumprimos temporada às terças-feiras (olha a terça aí de novo). De lá fomos para a Sala Jazz Tom Jobim, do Restaurante Lugar Comum, outra referência Porto Alegrense da década de oitenta. Participamos também do projeto Esquete às Seis e Meia, do Teatro São Pedro. Sempre com muito sucesso e recebendo rasgados elogios, o Beija-me, como o chamávamos carinhosamente, foi remontado em 1989, com Pilly Calvin substituindo Lúcia Serpa, que já havia se mudado para São Paulo. Nessa remontagem incluímos mais um esquete (se não me falha a memória escrito pelo próprio Zé Adão) e uma canção, especialmente composta para Pilly cantar em espanhol. Com essa nova versão fizemos temporada na Sala Álvaro Moreyra, do Centro Municipal de Cultura, voltamos ao Porto de Elis e fizemos até algumas viagens para o interior do estado. Nos apresentamos na cidade de Carazinho e em Soledade, minha terra natal. Uma pequena curiosidade: Em mais de trinta anos de carreira no teatro, Beija-me a Bouca, Amor foi o único espetáculo que apresentei em Soledade até hoje... As fotos para a divulgação foram feitas pela fotógrafa Irene Santos, parceira em muitos trabalhos, e ficaram maravilhosas. Como essas que ilustram o post, com Zé Adão e Lúcia Serpa juvenis e cheios de graça. Deixou saudades...

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