sábado, 21 de março de 2015

ÓPERA DO MALANDRO

Eu sempre amei essa peça de Chico Buarque, livre adaptação da Ópera dos Três Vinténs, de Brecht e Weill. À época em que foi encenada eu era muito criança e não pude assistir, pois vivíamos a ditadura militar - que por incrível que pareça, tem gente que hoje em dia quer de volta - e a terrível censura. Que, por incrível que pareça, também tem gente que quer de volta. Mas lembro que o Círculo do Livro lançou um exemplar com o texto, várias fotos da montagem e algumas partituras. Comprei imediatamente e tenho até hoje. Depois, ainda no começo dos oitenta, as canções foram liberadas e saiu o LP duplo com toda a trilha sonora. Uma joia rara que também guardo até hoje. Tem o próprio Chico, Marlene, Elba Ramalho, Zizi Possi, As Frenéticas, Nara Leão, Alcione e muitos outros grandes da MPB de então. Mas montagem, mesmo, eu só havia assistido à de Gabriel Vilela, aqui em São Paulo, no ano de 2000, no extinto TBC. Sem falar, é claro, da Ópera dos Três Vinténs em si, que assisti à da Comédie Française, em 2011, e à de Bob Wilson, em 2012. Ontem à noite tive o prazer de assistir à encenação de João Falcão para esse clássico do teatro musical brasileiro. E vou dizer uma coisa: É maravilhosa. No elenco, todo formado por homens, só há uma mulher, que interpreta João Alegre, o mestre de cerimônias/autor do espetáculo. Os demais integrantes se revezam com velocidade espantosa entre as putas de Duran e os integrantes da gang de Max Overseas. O efeito é impressionante, não só pela presteza das trocas mas, sobretudo, pelo talento dos atores/cantores/dançarinos. De tirar o chapéu. O bando de Max remete a Bob Wilson versão tecnicolor. E a Geni de Eduardo Landim é arrebatadora como um Dzi Croquette reencarnado. Entre deusas e bofetões, entre dados e coronéis, eis o malandro na praça outra vez. Você não vai ser louco de perder!

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