segunda-feira, 23 de maio de 2011
















EFERVESCÊNCIA
Desde que cheguei em Porto Alegre, na última quarta-feira, a cidade continua comprovando sua merecida fama de celeiro de talentos. E, por incrível que pareça, a efervescência cultural que vivi aqui nos anos oitenta, continua. Talvez porque eu não more mais aqui e veja a capital gaúcha com olhos de estrangeiro, mas o fato é que tem sempre alguma coisa interessante acontecendo em algum lugar. De pequeno, médio ou grande porte, no mainstream ou no underground. Na quinta-feira fui ao Zélig assistir ao show do Antônio Carlos Falcão cantando músicas de Chico Buarque intercaladas por textos de autores como Shakespeare e João Cabral de Melo Neto ditos pelo cineasta Jorge Furtado em palco-instalação transformado em relicário por Alexandre Fagundes e iluminado por Marga Ferreira, da Claraluz. Fiquei feliz e emocionado quando Falcão me ofereceu Trocando em Miúdos. Belo show em bela moldura. Na sexta, depois de um passeio pela zona sul, com direito a café no Armazém Machry, foi a vez de Vitor Ramil abrilhantar o Theatro São Pedro com seu talento, dando voz e melodia aos poemas de Jorge Luiz Borges e João da Cunha Vargas. Milonga contemporânea. Falando da aldeia para o mundo. No sábado, happy hour prolongado, com meu amigo Paulo Vicente, na Casa de Teatro, do Zé Adão Barbosa. A Casa de Teatro, se por mais não for, tem seu mérito por reunir pessoas interessadas em teatro e artes em geral, tornando-se um centro propagador de idéias e trocas de experiências. Enquanto bebíamos algo no andar térreo, um show acontecia no segundo piso e o Zé nos mostrava as instalações e o acervo de figurinos da Casa. Fomento é pouco: Ebulição. A mais nova revelação da música é também daqui: Filipe Katto. No domingo, depois de mais um passeio pela zona sul, com direito a mais um café no Machry, a peça Dois de Paus: Discussão da relação gay bem ao modo heterossexual. No teatro da Sociedade Israelita, no velho e bom Bom Fim. Hoje tem início a Semana Ivo Bender, justo tributo ao nosso maior dramaturgo vivo. Ivo foi meu professor na faculdade de teatro e estarei logo mais no Centro Municipal de Cultura para homenageá-lo. Eu fui um dos últimos da minha geração a sair de Porto Alegre. Antes de mim já haviam ido para o chamado eixo Rio-SP Grace Gianoukas, Nora Prado, Lúcia Serpa e Ilana Kaplan, entre outros. Mas é interessante constatar que hoje já não é mais uma questão de sobrevivência profissional deixar a cidade. Muitos dos que ficam seguem fazendo sua arte e conseguem viver dela. Como os próprios já citados Falcão e Zé Adão Barbosa. Porto Alegre tem lugares adoráveis de se frequentar como o Dometila Café, cujo proprietário Cleiton recebe os visitantes com uma chuva de pétalas de rosa. Pétalas de rosa também vem nos drinques e pratos que ele serve. E fica de frente para uma bela praça, com mesinhas na calçada. Mas, como tudo tem pelo menos dois lados, o lado mau se manifestou hoje à tarde no ponto de ônibus. Estava eu bem tranquilo esperando um T5, que me levaria ao Menino Deus para almoçar com minha amiga Andresa Espagnolo, quando um carro pára e o sujeito diz: “Pra mim sair na Farrapos eu pego à esquerda”? Fiquei olhando com uma cara neutra, de nada, pensando em coisas como: Bom dia? Por favor? E, antes que eu abrisse a boca para dizer que MIM não sairia na Farrapos pegando à esquerda nem à direita, um senhor ao meu lado respondeu com a informação... Mas isso são detalhes tão pequenos de nós dois, não é Porto Alegre? Tchau.


Nas fotos, Praia de Ipanema, na zona sul de Porto Alegre, Vitor Ramil no Theatro São Pedro e o palco-relicário do Show Escrete, de Falcão.

Um comentário:

  1. Teus textos sao sempre brilhantes, com conhecimento e a sensatez de quem de fato sabe o que esta dizendo. Eu adoraria curtir Porto Alegre contigo, bjs.

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