terça-feira, 22 de junho de 2010


CAFONICES

A sábia, genial e eternamente moderna Rita Lee já entoava, lá nos setenta, nos versos da canção Prisioneira do Amor: “Cafonas fueran los besos que me distes; cafonas tus presentes, tu amor; e para afastar-te da lembrança eu vou assistir mais televisão”. Pitonisa pop, ela já previa a marcha rumo à cafonice que seria capitaneada pela televisão. Inicialmente tida como veículo da modernidade, a televisão acabou inevitavelmente descambando para o seu contrário através de remakes sem fim de programas de auditório, de humor e reality shows. Tudo se criou, se experimentou e se clonou à exaustão. Hoje, no mundo inteiro, você pode assistir aos mesmos programas em qualquer emissora de TV aberta. Parece que nem saiu de casa. E o estilo (se é que se pode chamar assim) show de realidade saltou da televisão para a realidade em si. Quer coisa mais cafona do que transformar, via facebook, por exemplo, a própria vida em show? Eu acho que ir a um restaurante e fotografar o prato antes de comer é de uma cafonice incomensurável. Mas postar a foto no facebook achando que tá chique é muito mais! Só perde para foto de ingresso de show acompanhada da legenda: Eu fui!
E a divulgação da própria vida segue com frases do tipo: “Em cinco dias Europa!!!” “Fila de uma hora pra entrar na Louis Vuitton” e etc.
Mas fala a verdade: uma boa cafonice, de vez em quando, não é bom? É maravilhoso. Vide a eterna Maysa cantando Besa-me Mucho. E show de drag, então? Um verdadeiro deleite. Mas cafona no mau sentido, hoje em dia, é falta de educação. Gente que tem dinheiro, mas não sabe se comportar. Que compra roupas caras, de grife, e não sabe usar. Que freqüenta bons restaurantes, mas não sabe se portar à mesa. Que fala alto. Que fala no celular o tempo todo. Que não cumprimenta os vizinhos. Que joga lixo no chão. Que quase te atropela quando está dirigindo. Que viaja, mas não aproveita para se reciclar e expandir os limites estreitos das suas cabeças. Como diria Cazuza, gente careta e covarde, que não muda quando é lua cheia...
Eu, cafona no bom sentido que sou, to louco pra ir ao show do Wando no Bar Brahma, quinta-feira. Alguém se habilita?
Ah, e na canção dos seventies, Rita termina cantando: Mi corazón, sangrando de tristeza e de saudade. Si tu não voltares me suicido, pois sem ti não há felicidade...Adoro.

2 comentários:

  1. Bob, esqueceu o Twitter, tem coisa mais cafona que postar sua vida a cada cinco minutos. E coisas do tipo: "acabei de comer dois pratos de feijoada", ou, "comprei um par de tênis azuis, e lindos"... Tá! Isso acrescentou o que na vida da pessoa?

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