quarta-feira, 16 de junho de 2010


CAZUZA

Acho que a primeira vez que ouvi falar de Cazuza foi no começo dos anos oitenta. Eu já conhecia e curtia o som do grupo Barão Vermelho, do qual ele era vocalista e principal letrista, quando, totalmente por acaso, me caiu nas mãos uma entrevista que ele dera à Revista Status (to velho!). Nela Cazuza abria a boca e o coração, falando abertamente de sexo, drogas e rock and roll. Dizia coisas que me falavam à alma. Minha identificação com sua postura diante da sociedade foi total. Eu, garoto tímido do interior. Eu que, praticamente virgem, acabara de entrar para a escola de artes cênicas. Eu que queria ser um astro como ele já o era, apesar da pouca idade. A partir dali comecei a seguir seus passos apaixonadamente. Tinha certeza absoluta que ele era o amor da minha vida e que havíamos sido feitos um para o outro. Viver esse amor plenamente era só uma questão de nos encontrarmos. Assim, do nada, virando uma esquina. Numa mesa de bar. Numa boate suja. Em qualquer infecto cubículo da noite underground. Galeria Alaska. Val Improviso. Eu era um jovem cheio de ilusões. Sempre fui movido a sonhos. Arte. Poesia. E muito ingênuo também...Lembro que um dia, já em 1985, eu estava ensaiando minha primeira peça, aquela que seria minha estréia no teatro profissional, um infantil escrito e dirigido por um colega da faculdade, quando, no intervalo do ensaio, fomos até um boteco que havia na esquina da faculdade de engenharia, onde ensaiávamos, para tomar um café. Chegando lá encontrei Cazuza e os meninos do Barão bebendo muita cerveja com Steinhager. Às três horas da tarde. E eles fariam show à noite. Fiquei tão nervoso que perdi a fala. O jeito. O gesto. Meus colegas da peça não entendiam o que estava acontecendo comigo. Saí de lá meio sem acreditar que estivera tão próximo e ao mesmo tempo tão distante dele. Depois assisti a seu primeiro show solo no morro da Urca, no Rio de Janeiro. Em 1987 assisti no Teatro Ipanema, também no Rio, a seu show Só se For a Dois. Eu estava em cartaz no Rio com meu grupo e fui sozinho a essa apresentação. Ninguém quis ir comigo. E, claro, não tive coragem de ir falar com Cazuza no camarim. Quando já estava bem doente ele foi se apresentar em Porto Alegre com o show Ideologia, mas não pude assistir, pois estava em cartaz. Mas tirei foto em frente ao out-door que puseram perto da minha casa. Logo depois que ele morreu eu fui morar em Paris. Quando lançaram seu álbum póstumo, um amigo me enviou uma fita K7 (Velho!!). E eu andava por Paris e viajava pela Europa com meu walkman (Velho!!!) escutando Cazuza sem parar. Minha canção preferida desse álbum se chamava Paixão e dizia: Olhinhos apertados, tristes, porque vocês estão me olhando? Sorrindo feito japoninha...
Quando sua mãe Lucinha Araújo lançou o livro Só as Mães São Felizes eu devorei cada página como se estivesse vivendo com ele sua história. Depois, quando saiu o filme Cazuza, assisti em prantos e com saudade de ter vivido o que não vivi. Saí do cinema e fui direto pra casa escutar todos os seus discos - Eu disse discos: de vinil - enquanto bebia uma garrafa de vinho - Eu disse garrafa: inteira. Dia desses revi o filme, pois um amigo me deu uma cópia em DVD, e foi tudo de novo: lágrimas, vinho, saudades do que não vivi. Hoje vi em uma banca de jornal uma edição especial da Revista Bravo em homenagem a ele e tive uma vontade incontrolável de escrever esse post. Não foi muito pensado, veio assim, de repente. Cazuza cantava: O nosso amor a gente inventa pra se distrair. E quando acaba a gente pensa que ele nunca existiu...
E ele devia ter mesmo razão.

6 comentários:

  1. Maravilhoso texto! Cazuza é único e é pra sempre! E eu sou sua super fã! Eu e meus filhos (7 e 15 anos) adoramos ver os seus videos como Betina Botox, Emiliano Salvatore, etc. E eu tive o prazer de assistir você no teatro em São José dos Campos. Parabéns pelo seu trabalho!

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  2. Estou comentando neste post, mas sobre o post do seu retorno a SP.
    Essa sensação nostálgica é bom, mas a de estar em casa também é reconfortante, não é?
    Como diria Doroty; "there's no place like home".
    Vi também que a boa novidade sobre a revista. Fiquei super contente por você. Vou querer ler, por isso, tenho que correr atrás disso o quanto antes.
    Quando vem a Curitiba me visitar? Passar uns dias aqui, para curtir a calmaria da cidade provinciana?! hauhauha O convite está feito e não é de agora. Espero que o sucesso siga assim, e que tudo esteja bem.
    Grande beijo.

    Melo

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  3. Bob, fui eu quem te deu esse dvd? Sabe que por coincidência revi esse filme há duas semanas e ele continua tão atual pra mim. Nem te falo que chorei pencas.

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  4. Sim!!! Foi você que me deu. E eu adorei!

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  5. eu sou boba mesmo, choro ate hoje quando escuto ele e chorei lendo teu texto!
    O mundo nao para!!!!!!!amo de paixao!

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