domingo, 27 de junho de 2010


AMIGAS

Betina Botox e Paulinha Perygo eram vistas sempre juntas na noite gay de São Paulo. Dos Jardins ao Centro. Passando por lugares que nem é bom lembrar. Chamavam a atenção por onde passavam. Ok, elas eram exageradas. Sim, elas eram pintosas. Tá, elas eram qua-quás mesmo. Mas eram adoradas por todos. Por todos os freqüentadores da noite, que fique claro. E, por falar em claro, parece que durante o dia não eram lá muito bem vistas, espalhafatosas que eram. Mas, segundo elas próprias, eram apenas diferenciadas. O problema em lidar com o diferente não era delas e sim das outras pessoas. TODAS as outras pessoas. Eram amigas inseparáveis. No prazer e no sufoco. No êxtase e no Engov. Enfrentavam juntas e de cabeça erguida o terrível inimigo Senhor Preconceito, sempre à espreita para ataca-las impiedosamente. Paulinha fazendo a fofa & meiga, tipo deixa disso, vamos embora detesto ignorância, e Betina sempre enfrentativa, chegando mesmo a apontar o dedo na cara dos Bofes do Mal. Consta que certa feita se despediam com um selinho numa esquina da Augusta, quando passam, numa Brasília, quatro bofes gritando: Que mico, viado! E a Betina, prontamente: Mico é vocês desfilarem o seu preconceito numa Brasília velha, caindo aos pedaços, em plena Augusta! E do lado Jardins, que é o chique, não é nem do lado Centro, que é o da putaria! Testemunhas afirmam que, se não fosse Paulinha arrastar Betina pra dentro do Ritz, ela já estaria engalfinhada com os bofes que, a essa altura, paravam a Brasília em fila dupla pra ver qual é. Teve a vez em que batiam pernas à tarde quando, em plena Haddok Lobo, cruzam com uma jovem senhora empurrando o carrinho com seu bebê e Betina exclama: Que amor esse bebezinho! E a mulher responde, impiedosa: Hi, filhinho, fala pra eles: sai pra lá! Aquilo doeu como faca no peito das duas, que, mesmo sendo as mais rápidas nas respostas, dessa vez ficaram mudas e de queixo caído diante de tamanho preconceito. Incutido desde a mais tenra infância. E comprovaram que é de pequenino que se torce o pepino. Ninguém sabia ao certo a idade delas. Parece que a Paulinha era um pouco mais nova do que a Betina. Pelo menos era ela quem lembrava o que acontecera na noite anterior quando Betina, de ressaca, tinha tudo apagado pela amnésia alcoólica. O que se sabe e se conta é que eram amigas desde o tempo em que a Alma Smith descia a rua da Consolação sobre o capô dos carros gritando: Quem for gay que me olhe! E, levando as mãos aos peitos, perguntava: Quantos? Amigas de sair montadas na Banda do Redondo, Paulinha linda, parecendo a Adriana Garambone e Betina, a cara da Tereza Raquel. Amigas de mijar e tecar juntas. Ou, quando isso não era possível, tipo no banheiro do Massivo, que não tinha porta, só um portãozinho de saloon, uma ficava cuidando pra outra fazer em paz o que tinha de ser feito. Eram vips e bem vindas em todas as casas noturnas. Amigas da Normanda, da Leia, da Lu & Gabi, da Betânia, da Marcelona e do Aníbal. Ultimamente andam sumidas. Paulinha está morando em Berlim, onde faz shows em cabarés, e Betina, casada com seu Bofe Escândalo, quase não sai mais de casa. Nem para ir à Parada. Mas parece que a noite não é mais a mesma. Dizem que até a Leia já anda cansada...
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes e pessoas da vida real NÃO terá sido mera coincidência...

(Texto de minha autoria, publicado na seção “Crônica” da Revista Junior do mês de junho).

3 comentários:

  1. E pensar que a primeira vez que soube das duas juntas foi na Banda do Redondo... idos anos.

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  2. gosto do texto mas senti falta de um final mais divertido. bjs.

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  3. ROBERTO, PRECISO DE SEU CONTATO, SOU DE ILHÉUS E QUERIAMOS UMA PROPOSTA DE SHOW PARA SETEMBRO.
    AGUARDAREMOS UMA RESPOSTA NO E-MAIL
    robertoventuriny@hotmail.com

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