quinta-feira, 6 de maio de 2010



PRIMAVERA EM PARIS

Cole Porter tinha razão: Paris é adorável na primavera. Aliás, como diz a canção, every moment of the year. As árvores estão todas verdes e carregadas de folhas. Plátanos inclusive. E o melhor: fica dia até as nove e meia da noite. Pra melhorar só se voltar a esquentar. Até porque nem era mais pra estar fazendo frio. E, como dizia Ernest Hemingway, Paris é uma festa! E continua sendo. De segunda a domingo. Vinte e quatro horas por dia. Uma festa de cultura, de consumo, de informação, de gastronomia, de pornografia, do que você quiser. Você tem fome de que? Paris tem coisas incríveis, como o Teatro de La Huchete, onde assisti ao espetáculo La Leçon, de Ionesco, que está em cartaz desde a sua estréia em 1948! Não apenas La Leçon, mas, também, La Cantatrice Chauve completa cinquenta e dois anos em cartaz. Eles fazem sessões de segunda a sabado, às dezenove, vinte e vinte e uma horas. São peças curtas, de uma hora no máximo, aliás, uma das características da dramaturgia do autor, e o teatro é bem pequeno. Deve caber umas oitenta ou cem pessoas. É como se fosse um cineclube, só que, ao invés de filmes, assiste-se a peças de teatro. Cheguei cedo e fiquei fazendo hora no Le Depart Saint-Michel, restaurante-café tipicamente francês com um terraço coberto, espécie de vitrine com vista da Fontaine Saint-Michel. Enquanto bebo meu vinho, observo. É maravilhoso como os franceses conseguem ter vida própria, ter estilo em meio à globalização massificadora do mundo contemporaneo. Café é com açúcar. Pão? Com manteiga. E não tomam vinho naqueles aquários gigantes que o resto do mundo ocidental considera chique. Tomam em pequenos cálices bem mais charmosos...Pela manhã estive no Beaubourg. (Pronuncia-se Bobur). Eu sempre vou, várias vezes ao Beaubourg, o Centro Georges Pompidou, conjunto cultural que abriga museu, loja, galerias, teatro, salas de cinema, livraria, café, restaurante, espécie de shopoing center da cultura onde a gente vê de tudo. Sua arquitetura, moderna, colorida e tubular, se destaca grandiosa em meio aos prédios da velha Paris. Adoro ir ao Beaubourg. Em frente ao prédio tem uma imensa área aberta, como uma ágora romana, onde se reunem jovens artistas e performers do mundo inteiro e, não raro, pode-se assistir a pocket shows de mímica, contorcionismo ou música de qualquer planeta. Ao longo de toda a fachada do prédio tem escadas rolantes panorâmicas que nos dão uma visão incrível de Paris em diferentes planos, à medida em que as vamos subindo. Aproveitei para rever o acervo do museu de arte moderna e, dessa vez, fiquei bastante tocado com as obras de Fernand Léger. Frida Kalo e Andy Warrol não estavam expostos, dommagge...Mas tem muitos Picassos, Matisses, Kandinskys. É sempre emocionante ver essas obras, digamos, pessoalmente. Você percebe a pincelada, às vezes até um local onde a tinta escorreu e o artista deixou. E fica imaginando o impacto que tiveram na época em que foram feitas. E fiquei impressionado com a obra de Lucien Freud, que ganha exposição individual em uma das galerias. Impressionado também fiquei com os desenhos de Antonin Artaud, ator e diretor de teatro francês, criador do teatro da crueldade, feitos durante o período em que ficou internado em hosptais psiquiátricos. Enquanto comia algo no café, lembrei que foi no teatro do Beaubourg que assisti, quando morava aqui, em 1991, ao espetáculo Aujourd'hui c'est mon Anniversaire, do encenador polonês Tadeusz Kantor, que foi sua última encenação, pois ele faleceu naquele ano.
Entre o Beaubourg, que foi no fim da manhã, e o teatro, que foi à noite, bati muita perna pela cidade...No mais, estão voltando as flores. Aliás, elas já estão aí, por toda Paris...because my love is near!

3 comentários:

  1. Obrigado, por dividir com nós, aqui no Bruzuca, teus olhares ...
    bjs

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  2. Apesar dos poucos dias em que estive em Paris (pronuncia Parri kkkkkkkkkkkkk), pude me transportar pelas tuas palavras e lembrar do Beaubourg e do Pompidou, onde ficava parado, sentado vendo o tempo passar e a pura arte correr pela atmosfera.
    Paris é FODA, pq flutua entre o moderno e contemporâneo sem agredir né?!

    *Adorando o 'diário de bordo'.

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