sexta-feira, 7 de maio de 2010


MARAIS

Marais é o nome do bairro mais charmoso de Paris. Mais charmoso na minha opinião, bien sur. Pronuncia-se marré. É claro que sempre teremos Montmartre com suas escadarias, artistas de rua, o Sacre Coeur e a incrível imagem de Paris vista do alto. Mas eu sempre vou preferir o Marais. Foi lá que morei nos anos noventa. No número 18 da rue des Écouffes, em um pequeno studio no primeiro andar com janela para a rua. O Marais é como Jardins em São Paulo, Ipanema no Rio, Moinhos de Vento em Porto Alegre. É onde chique, moderno e descolado se equilibram. Convivem as sinagogas e os judeus ortodoxos com os bares gay e a fauna LGBT. Galerias e grafittis. Falafel e macarons. Aliás, os macarons estão por toda a parte. Chegou no camelô, como gosto de dizer quando algo se populariza excessivamente. Igrejas e sex shops. Design contemporaneo e arquitetura medieval. No Marais tem a Place des Voges, com a casa onde morou Victo Hugo, que pode-se visitar, pois hoje é um museu. Falando em museu, é lá também que ficam os museus Picasso e Carnavalet. É lá, na rue Sainte Croix de la Bretonnerie, que fica a livraria gay Les Mots a la Bouche. Gosto muito de sentar no Petit Fer à Cheval, um pequeno café com apenas quatro mesinhas na calçada, pra ficar bebendo um vinho e vendo o povo passar. Quando morava em Paris eu sempre ia no Petit Fer, pois morava na rua ao lado. Íamos Patrícia Cirne Lima, que morava comigo, e eu. E quando chegávamos, o garçon, que já nos conhecia, dizia: Voilá les étoiles du Brésil! Também costumo ir com frequência no bar ao lado, o L'étoile Manquante, que fica de frente para o Le Central, primeiro bar gay de Paris. E o mundo desfila pra mim. Uma verdadeira semana de moda. Ouço os mais diversos sotaques e línguas. Passam pessoas, cachorros, bicicletas. Muitas bicicletas, agora, nas ruas de Paris. Acho ótimo. Além das bicicletas públicas, da prefeitura, que você compra um cartão, põe crédito e utiliza, tem as particulares. Sabia que se você comprar uma bicicleta a prefeitura de Paris reembolsa o dinheiro? Bom exemplo a ser seguido pelas nossas prefeituras. Marais, em português, quer dizer pântano. E parece que o local era mesmo um pântano antes de ser bairro, por isso tem esse nome. Mas, hoje, só se for no sentido de ebulição, efervescência, se é que o termo tem esse sentido que lhe estou atribuindo. Eu ando muito por Paris os dias inteiros. Mas sempre acabo voltando pro Marais, até porque meu amigo João Faria, que me hospeda em seu apartamento, mora à côté. Aliás, João é vizinho de porta do popstar do pornô gay francês François Sagat, famoso pela cabeça raspada tatuada em forma de cabelo. Outro dia o vi entrar no mercado que fica em frente ao prédio. Fiquei me perguntando se a menina do caixa sabe pra quem está vendendo aqueles produtos que são comprados diariamente pelas mais prosaicas donas de casa...

Na foto, Luis XIV, o Rei Sol, bonita no Musée Carnavalet.

5 comentários:

  1. caro roberto,
    gostaria de saber de onde vem a expressão "eu sou pobre, eu sou pobre, de marais - rais - si" !!! pergunte aí, por favor!
    obrigado e bom passeio!

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  2. Vem do pântano mesmo, onde só viviam os pobres! A loka...

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  3. Oi querido, atraves dos teus textos posso desfrutar de Paris tambem e aprender um pouco mais com o teu conhecimento amplo e variado. Bjs, saudades....

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  4. Através dos textos dele só posso sentir uma coisa: puta inveja, meu! Ces't sufi (sei lá como se escreve essa coisa). Aproveite, então! beijão

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  5. Às vezes penso que vivi em Marais, tudo que leio a respeito me é muito familiar.

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