segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025
FRAGMENTOS
No bloco de notas do meu celular tenho uma pasta chamada: Fragmentos para o blog. Lá coloco frases, ideias, trechos para serem desenvolvidos em futuros posts. Percebi que alguns deles já estavam lá há tempos e ainda não tinham sido desenvolvidos. Transcrevo-os aqui, como fragmentos mesmo, para dar uma ideia de como um post às vezes começa...
-Paris é uma cidade muito linda. Quem não a conhece ou, pelo menos, não a conhece muito bem, talvez não saiba como ela se desenha. É mais ou menos assim: Existe a Paris entre muros, que é a cidade preservada tal como era no seu auge, e a Paris moderna dos bairros que a cercam, os banlieus. O que tenho a dizer em sua defesa é que a cidade é sempre linda. Mesmo quando mais ao sul, Paris se parece com São Paulo. É o caso de Vanves. Se você sai no terraço de um prédio nesse bairo da capital francesa você jura que está em São Paulo. Já fui muito mal interpretado quando disse isso a um francês morador do bairro. Mas, como eu amo Paris e amo São Paulo, acho as duas cidades lindas. E compará-las, para mim, sempre será um elogio...
-Muito difícil falar de O Quarto ao Lado, o novo filme de Almodóvar, sem dar spoiler. Bem, é muito difícil falar dele. Não o digeri ainda, estou sob o impacto do filme. Qualquer pessoa que tenha mais de quarenta anos já viveu um grande amor, já teve desilusões e, certamente, já perdeu pessoas amadas. É também nessa fase, digamos “o outono da vida”, que a gente se conscientiza mais da inevitabilidade da morte; e tem a percepção de que ela está cada vez mais próxima. Ainda assim, parece que nunca estaremos preparados para lidar com ela. Decidir, então, sobre ela, menos ainda. Ousar programá-la, escolher dia, hora e local nem pensar. Envolve crenças religiosas, leis, tabus, preconceitos e uma série de impedimentos. Levanto aqui tudo isso porque também me incluo no rol das pessoas que tem dificuldade de lidar com a morte. Sofri muito com todas as pessoas amadas que já perdi e sofro só de pensar que uma hora qualquer irei me perder também. Pois é disso que o filme trata. A personagem de Tilda Swinton está com câncer terminal e, exausta de sofrer com o tratamento, decide morrer. Ao contrário da Suíça, que permite a eutanásia assistida, nos Estados Unidos, onde se passa a história, ela é considerada crime. A personagem convida uma amiga que não via há anos para ser sua acompanhante nos dias finais da sua existência. Ah, e consegue a pílula letal na deep web, de maneira totalmente ilícita. Juro que eu não queria ser a pobre dessa amiga...
-Nesse momento, em que tanto se discute a inteligência artificial, resolvi falar do seu oposto: A burrice natural. Diferente do seu antônimo, ela não precisa ser criada ou recriada por programas de computador; nasce com a pessoa e, através dela, se espalha contagiando toda a manada. Digo, a galera. E, dessa forma, sempre que algo aponta para o desenvolvimento, para a expansão, para a evolução ou para a transcendência, a burrice natural naturalmente (com o perdão da redundância) se expressa de maneira opositora...
-Bateu legal? Bateu gostoso? Perguntou o senhor idoso ao seu amigo, idoso também como todos os ocupantes da mesa do bar. Ele se referia a um shot de cachaça que o outro acabara de sorver. Sim, respondeu o amigo. Ainda bem, porque na nossa idade o prazer é esse: A cachaça, a comida, os amigos. E prosseguiu: Quando meu pai perdeu o meu irmão ele ficou muito triste. Quando perdeu a minha irmã, ele desacreditou completamente de Deus. Quando a gente perguntava pra ele de Deus, ele respondia: Se Deus existe, se existe algum deus, ele coloca a gente aqui no mundo e diz: Se vira! Posso te fazer uma pergunta? Os seus filhos são exatamente o que você queria que eles fossem? Nessa hora o meu drink bateu e perdi a continuação da conversa...
-O ônibus demorou horrores para passar. Fiquei fritando no sol escaldante de fim de verão. Ainda bem que pelo menos meu rostinho e minha calva estavam protegidos pelos óculos escuros, o chapéu e o protetor solar. É claro que quando ele finalmente chegou retirei o chapéu para que os demais percebessem minha idade avançada - evidenciada pela brancura dos poucos cabelos - e me deixassem passar na frente... Por hoje é só! Acho que faz juz ao título, não?
Nas fotos, anoitecer em Paris e as divas de Alomdóvar em O Quarto ao Lado.
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Amigo querido, todos os fragmentos expostos acima merecem um post só pra si. Aguardo-os ansiosamente.
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