domingo, 19 de janeiro de 2025
BABY
Eu não dava nada pelo filme Baby, em cartaz nos cinemas. Só a sinopse tinha tudo para me fazer passar longe: Garoto sai de um centro de detenção juvenil e se vê sem rumo nas ruas de São Paulo, sem contato com seus pais e sem recursos para reconstruir sua vida. Durante a visita a um cinema pornô ele encontra Ronaldo, um homem mais velho, que ensina ao rapaz novas formas de sobrevivência. Ui! Que medo... Mas sabe aquela metáfora manjada do lírio que nasce no lodo? É exatamente isso: Baby é uma linda história de amor, amizade e empatia em meio ao mais infecto bas-fond. De onde a gente só espera violência e crime é que brotam esses sentimentos, tão raros hoje em dia. Que o centro de São Paulo é dominado pelo tráfico de drogas e pela prostituição a gente já sabe. Comigo está tudo azul, contigo está tudo em paz: Vivemos na melhor cidade da América do Sul. A novidade é o zoom que o filme faz na vida dos integrantes desses grupos. A humanidade que pulsa de maneira comovente e nada piegas ou apelativa. Os protagonistas tem muito carisma, a gente torce por Baby e Ronaldo. Queremos que as coisas deem certo para eles. Baby é jovem, frágil, abandonado, mas se vira. Ronaldo é rodado, tem casca grossa, mas é puro afeto, generosidade e ternura. Aposto que é isso que tem encantado as plateias estrangeiras por onde o filme tem sido exibido com sucesso. O mundo está frio, briguento, adorando odiar... Eu já tinha gostado de Corpo Elétrico, o filme anterior desse realizador, Marcelo Caetano. Mas Baby me surpreendeu. O filme encerra ao som da belíssima Valse, de Tom Jobim, que se não me engano foi letrada por Ronaldo Bastos e gravada por Milton Nascimento no álbum Clube da Esquina 2 com o título de Olho d'Água. Nesse verão agradável de São Paulo, com a lua minguante e nubladinha, é um bom programa para os que, como eu, ainda acreditam no cinema nacional e nas relações humanas. Pois, como canta Alcione na trilha sonora, a volta do mundo é que dói lá no fundo, a volta do mundo é questão de segundos. Enquanto isso, no bailão, Dalida canta "Laisse moi dancer" e o globo de espelhos gira...
Na foto, o belo cartaz do filme.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um amigo daqui de Salvador me disse uma vez que fazia questão de ver cinema nacional, pelo nosso cinema, pelos nossos talentos e pelos empregos que ele gerava e, a partir daí, tenho incluído nosso cinema no meu roteiro. Surpresas boas acontecem não só nas grandes produções como Ainda Estou Aqui e Grande Sertão, mas também nos documentários e filmes de menor orçamento como Nas Ondas de Dorival Caymmi e Malu.
ResponderExcluirBaby está nessa categoria, filme feito na coragem pelo submundo de SP, com atores que cativam e emocionam ao contar suas cicatrizes.
Sempre fui fã de cinema brasileiro. Vi muito Jabor, Cacá Diegues, Bruno Barreto e companhia. Sem falar em todos os Mazaropi, Teixeirinha e Trapalhões da infância...
Excluir