quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
MISSIVAS
Dezembro veio intenso - como em quase todos os anos - e cheio de surpresas, descobertas, reencontros e o melhor, me trouxe várias pessoas que não sei como eu ainda não conhecia. É tão bom conhecer pessoas! Que bom que, mesmo depois de tantos anos, isso continue acontecendo. Nada mal para um mês que ainda não acabou... Entrei o último mês do ano ainda em cena com minha peça Caio em Revista. Foram as três primeiras terças-feiras de dezembro mais encantadoras dos últimos anos. Também entrei o mês lendo Cartas Fora do Armário, do querido Fred Itioka, que reúne missivas escritas por filhos gays para seus pais. Isso me fez lembrar da única carta que meu pai escreveu para mim, quando eu morava em Paris. Na verdade nem chega a ser uma carta, é um bilhete um pouquinho maior. Após subir e descer a escada revirando armários consegui encontrá-la. O que mais me fez feliz ao reler foi o começo, onde ele escreve "Roberto, querido filho", e o final, quando se despede dizendo "um abraço com saudade do pai Valpides", com aquela sua caligrafia inesquecível... A leitura me trouxe saudade do tempo em que a gente escrevia cartas em geral, não só para os pais, mas para amigos também. E me fez constatar que hoje, com o desenvolvimento da tecnologia, a comunicação é muito melhor, mais prática, rápida e acessível. A gente morria de saudades das pessoas quando só tinha as lentas missivas para ter notícias delas... Assisti ao espetáculo O Vazio na Mala, com texto de Nanna de Castro e direção de Kiko Marques, no qual Noemi Marinho dá um show de interpretação e leva o público às lágrimas. A peça já começa com a sua personagem escrevendo uma carta - olha as cartas aí novamente - numa antiga máquina de escrever. Eu sou apaixonado desde criança por máquinas de escrever, cresci (não muito) escrevendo em uma portátil que meu pai tinha em seu escritório, como já contei aqui no blog. Hoje escrevo à máquina em cena no meu solo Caio em Revista, quando faço a colunista Nadja de Lemos. Voltando à peça de Noemi (estou prolixo), é sempre um prazer assistir às performances irretocáveis desta grande dama do nosso teatro. Saí bastante tocado do teatro Paulo Eiró... Fui ao cinema assistir ao filme Queer, de Luca Guadagnino, com incontida curiosidade provocada pela farta divulgação que alardeava as cenas tórridas de sexo entre o James Bond Daniel Craig e o jovem ator Drew Starkey. Ledo engano, achei o filme chato como o outro desse diretor a que assisti (Me Chame Pelo Seu Nome) e apenas duas ceninhas de sexo que não chocariam nem Damares. Vale por Daniel Craig em si: Ele arrasa! Mas confesso que dei uns cochilos... Recebi amigos na noite de Natal, como há anos não fazia, e me senti muito feliz em ver a casa cheia novamente. Voltou a chover muito em São Paulo, como em todos os verões; perdemos Marisa Paredes, a grande estrela dos filmes de Almodóvar e, hoje pela manhã, perdemos também Ney Latorraca, ídolo de toda uma geração de atores entre os quais me incluo. Impossível esquecer as performances dele e de Nanini na peça O Mistério de Irma Vap, assim como seus personagens Mederix, Barbosa e Vlad na televisão... Dezembro teve lindas noites de lua cheia e céu estrelado como há muito eu não via. Quando chove bastante o ar da Pauliceia fica mais limpo, dissipa-se a poluição e podemos observar encantados a esses fenômenos naturais. Paro por aqui. Matei a vontade de escrever uma missiva...
Na foto, minha máquina de escrever no cenário de Caio em Revista, o cartaz de Queer, eu com Noemi Marinho e o divo Ney Latorraca.
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Salvador, 27 de dezembro de 2024
ResponderExcluirQuerido Roberto,
Quem vos escreve é outro amante de missivas, sempre gostei e sempre escrevi, uma pena que não te conheci desde sua época em Paris, teria escrito pra ti longas missivas coloridas com diferentes papéis e colagens.
Dezembro passou como num flash, Queer é um filme bem louco e até chato em alguns momentos, para mim só vale pela interpretação cuidadosa do Daniel Craig e do Drew Starkey, uma bela surpresa. Marisa Paredes vai fazer falta e o nosso Ney, ou melhor, Seu Neyla, muito, mas muito mais.
Me despeço desejando um excelente ano novo, um 2025 nos palcos, é o que mais quero pra ti.
Grande abraço do amigo de sempre,
Odilon
Odilon, darling! Chegamos a nos escrever algumas quando fiquei de resguardo em Soledade me curando da hepatite, lembra? Que bom que concorda comigo em relação ao Queer. Tenho visto pessoas se rasgarem para o filme... Feliz 2025 pra você, meu amigo querido!!!
ExcluirLembro do resguardo em POA mas não lembrava que havíamos trocado cartas nesse período.
ResponderExcluirAos poucos nossa memória começa a nos trair. É preciso estar sempre mexendo com ela! Bjo.
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