terça-feira, 19 de maio de 2020

SINAL FECHADO

A pandemia levou meu sorriso. E, junto com ele, levou meu assunto. Quem dera a responsável por isso tivesse sido a Rita, como na canção de Chico Buarque. Não quero mais falar, conversar, participar de lives, assistir a lives e nem tenho tido vontade de escrever. Levei o isolamento social ao pé da letra. Tenho evitado até mesmo me olhar no espelho do banheiro. Fiquei mais bicho do mato do que já era...
Há dias em que o parágrafo acima resume meu estado de espírito durante esse tempo de confinamento. Felizmente, outro tipo de ideias e sentimentos também me invadem, alternadamente, quando, por exemplo, admiro entardeceres da sacada do apartamento enquanto bebo vinho e ouço música. E assim vou levando...
Quando saio à rua rapidamente para fazer compras e vejo os lugares todos fechados, vazios, as pessoas usando máscaras, tenho a sensação de estar vivendo em uma daquelas peças do teatro do absurdo, como O Rinoceronte, de Ionesco...
No começo, duvidei. Mas quando vi a porta de ferro do Ritz abaixada, a ficha caiu. Aquilo não fechava desde 1981! Não tinha mais como negar, o confinamento já era uma realidade. A Rua Augusta vazia à luz do meio-dia. Uma fila serpenteando em frente ao supermercado fazia o Santa Luzia parecer um aeroporto. Nem uma única flor ornamentava os jardins e suas alamedas desertas...
Me vem à memória os versos da canção Sinal Fechado, de Paulinho da Viola. Um diálogo travado rapidamente por duas pessoas que, em seus carros, esperam o sinal abrir para seguirem seus rumos:
-Olá, como vai?
-Eu vou indo e você, tudo bem?
-Tudo bem, eu vou indo correndo pegar meu lugar no futuro. E você?
-Tudo bem, eu vou indo em busca de um sono tranquilo. Quem sabe?
Meu esforço nesse momento está concentrado em não perder este meio de comunicação e de contato: Meu blog. Me recuso a deixá-lo morrer. Mesmo que apenas uma vez por mês eu hei de dar as caras por aqui. Ainda que tenha pouco a dizer...
-Me perdoe a pressa. É a alma dos nossos negócios.
-Qual! Não tem de quê. Eu também só ando a cem...
Na foto, entardecer na sacada do apartamento.

3 comentários:

  1. Bob, é assim mesmo, você que era tão "rueiro" e participativo em exposições, filmes, peças, descobridor de pequenos restaurantes e lojinhas, grafites e jardins, tem dias que não tem jeito e nos revoltamos, e nesses dias nem o espelho nos aguenta. Eu sigo aqui, lendo seu blog e por favor, não me deixe só.

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