domingo, 3 de maio de 2020

PASSAGEM DAS HORAS

O título do post se refere a um poema de Fernando Pessoa que adoro e que levei à cena nos idos anos oitenta, na faculdade de teatro em Porto Alegre; com Angel Palomero, Naira Scavone e o saudoso Fernando Severino no elenco. Mas não é sobre os versos de Pessoa que pretendo discorrer aqui, e sim sobre do que se trata o nosso momento. Precisamente, a passagem do tempo. Das horas, dias, semanas, meses. E nesse passar, o mês de maio chegou. Um dos meus preferidos do ano. Principalmente quando estou em Paris. Saudades, né minha filha? Rsrsrs. Três coisas tem me mantido bastante atento e, ao mesmo tempo, distraído: A série mexicana La Casa de las Flores, no Netflix, a reprise da novela Brega & Chique, no Canal Viva, e a leitura do romance A Educação Sentimental, de Gustave Flaubert. A seguir, pílulas sobre cada um dos três.

ALMODÓVAR MEXICANO – Estou apaixonado pela série La Casa de las Flores. Uma espécie de novela mexicana, bem ao estilo de Maria do Bairro, com toques de Almodóvar. Quando digo “toques” de Almodóvar estou sendo super discreto. O correto seria dizer “desbragadamente inspirada” em. Primeiro, pelo tom debochado e cômico com que o diretor aborda os temas dramáticos. Depois, por uma série de fatores que preenchem os episódios: Bichas, travestis, transexuais, ninfomaníacos, órfãos, michês, streapers, traficantes, viciados, adúlteros e, evidentemente, cenários com cores saturadas. Sem falar na exaltação à cafonice e ao kitsch, que adoro... As atrizes, como sempre acontece nesse tipo de produção, dão shows de interpretação. E nos brindam com lágrimas, ataques de nervos, rompantes de luxúria & frenesi. A trilha sonora, evidentemente, um deleite à parte. Com direito a uma cena de dublagem do clássico brega da dupla Pimpinela, Siga Seu Rumo, por aqui imortalizada na performance de Marisa Orth junto à banda Vexame...

VALE A PENA REVER – O Canal Viva reprisa às 14:30 a novela Brega & Chique, que causou frisson nos anos oitenta pela performance de Marília Pera como a milionária finíssima que, da noite para o dia, se vê sem marido e sem tostão. Por outro lado, a personagem de Glória Menezes, pobre e cafona à la mort, acorda milionária por uma herança deixada pelo falecido marido que elas, evidentemente, não sabem tratar-se do mesmo. E, diga-se de passagem, não morreu. Um veaudeville de encher as tardes. Serve também para constatar o quanto as novelas brasileiras ainda eram artesanais pouquíssimo tempo atrás. Interpretações teatrais, cenários fake, captação de noturnas que mostrava quase nada, e, claro, erros de texto que passavam batido. Isso cá entre nós ainda acontece. (Emoji de carinha chorando de rir). Mas o talento dos atores, ah! Saudades, né minha filha?

ROMANTISMO A GO GO – Minha história com o romance A Educação Sentimental, de Gustave Flaubert, é curiosa. Já tentei diversas vezes ler essa obra e sempre acabava desistindo. Primeiro foi quando morava em Paris e, para praticar o idioma, resolvi ler no original. Desisti nos primeiros capítulos com uma dúvida: Seria o motivo a língua francesa ou eu não tinha gostado mesmo? Acho que o idioma francês não deve ter sido a razão, pois na mesma ocasião, li obras ainda mais complexas como Calígula, de Camus, e A Idade da Razão, de Sartre, no original e não tive nenhum problema de compreensão. De volta ao Brasil, mais duas tentativas que deram em nada. Até que finalmente, ano passado, vi uma edição bonita e acessível na Livraria Cultura e resolvi adquirir. Pois não é que agora, com a pandemia e o consequente isolamento social, retomei a leitura e estou adorando? O livro é a minha cara. Boemia, amizades entre homens que beiram a homoafetividade e paixões platônicas. Quer mais? A história se passa em Paris. Com riqueza de detalhes, nomes de ruas, de bares, restaurantes e cafés. Que, claro, assim que lá voltar irei conferir. Só me resta dizer o quê? Saudades, né minha filha...
Desejo que o mês de maio seja mais leve para todos, apesar de tudo! Vamos em frente na certeza de que dias melhores virão.
Nas fotos, a família baphônica de A Casa das Flores, Marília Pera como Rafaela Alvaray e a capa da edição do romance de Flaubert.

4 comentários:

  1. Adorando La Casa de Las Flores!!!
    Indicação de Angel Palomero.

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    1. Coca, querida! Que ótimo. Angel sabe das coisas... Bjos!

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  2. Comecei a assistir no sábado a série La Casa de Las Flores por indicação de outro amigo. No episódio 6, da primeira temporada, na chegada do ex-marido advogado, pensei: isso é a cara do Roberto.
    Hoje, abro seu blog e cá está você a comentar essa série almodovariana que me arranca altas risadas. Além disso vem na carona Brega & Chique, que adoro mas não assisto todos os dias, e, de quebra, uma boa indicação de leitura. Um post três em um.

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    1. Querido Odilon! Que bom que te trago boas indicações. E que segues me lendo. Bjos!

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