quinta-feira, 28 de maio de 2020

NUDEZ

Meu amigo Tude Bastos tem o saudável hábito de tomar banho de sol como veio ao mundo no terraço da casa dele, que fica em um condomínio fechado na zona norte de São Paulo. Além disso, ele também faz caminhadas nas redondezas. Vestido, evidentemente. Pois não é que dia desses, quando voltava da caminhada diária, foi abordado por um vizinho que se disse incomodado pela sua nudez? Meu amigo argumentou que dentro do seu espaço privado cada um pode se vestir – ou, no caso, se despir – como bem entender. E quem não quiser ver que não fique olhando. O vizinho ofendido disse ser delegado de polícia. Tude encerrou a conversa sugerindo então que ele fosse consultar o código penal. Como os ânimos andam exaltados e as pessoas procurando briga por qualquer motivo, meu amigo achou por bem fazer um cercadinho de tecido ao redor do seu solário e tudo ficou resolvido. Fiquei pensando sobre o ocorrido e me dei conta do quanto a nudez ainda é um tabu aqui neste fim de mundo em pleno século vinte e um. Lembro que quando morei na França, há trinta anos, via pessoas tomando sol nuas em praias e parques públicos em vários países da Europa. Na piscina em que eu nadava em Paris, eram mulheres que limpavam o vestiário masculino, circulando tranquilas entre homens sem roupa. Eu acredito na teoria de que a história, a sociedade, a humanidade, evoluem em espiral. Por isso, de tempos em tempos, temos a sensação de estar andando para trás, como é o caso do Brasil de hoje. É quando ondas conservadoras tentam a todo custo cercear liberdades individuais, reprimir expressões artísticas e culturais libertárias e proibir tudo o que não esteja de acordo com determinados padrões ou dogmas pré-estabelecidos. O bom é que quando completa a volta, a espiral torna a andar para frente e a gente conquista mais espaços e liberdades. E o que dá esperança de viver tempos melhores é que o movimento da espiral é ascendente... Assim, logo, logo, meu amigo poderá retirar o cercadinho do solário e bronzear seu corpo nu sem incomodar voyeurs involuntários...
Na foto eu, como vim ao mundo, pela lente do fotógrafo Leekyung Kim.

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