sexta-feira, 22 de março de 2019

RETIRANTE ABDUZIDO

Hoje faz vinte e três anos que estou morando em São Paulo. Tenho com essa cidade uma relação ímpar. Adotei-a como minha e me sinto adotado por ela. Uma cidade múltipla, pulsante, surpreendente. Oferece de tudo vinte e quatro horas por dia de segunda a domingo. Não para. Não pode parar nunca. Aqui me sinto no mundo e não fora dele como me sentia antes. Ela me dá tudo o que espero de uma grande cidade. Uma metrópole. Sampa é cosmopolita. É claro que não se compara a Paris, Londres ou Nova Iorque. Mas em termos de Brasil nada se compara a ela... Como toda boa madrasta, também sabe ser cruel e indiferente. Ela dá, mas exige bastante em troca. Se você não estiver dando nada para ela prepare-se para amargar dias de abandono. Agora me pergunto: Que relação não tem lá suas crises, seus altos e baixos? Felizes para sempre é uma ilusão. Não passa de conto de fada... Amo reclamar de São Paulo. Me sinto no direito, afinal, sou da família. Só não venha falar mal dela pra mim, combinado? Defendo com unhas e dentes.... Parece mentira que já se passou tanto tempo desde que cheguei aqui. À beira de completar trinta e três anos, a idade de Cristo, e cheio de sonhos a realizar. Um deles realizou-se logo na chegada: Era exatamente morar aqui. Ao longo desses anos todos tenho aprendido muito com São Paulo. Um aprendizado vasto e contínuo. Suas facilidades e perrengues, praticidades e estorvos, belezas e feiúras, enfim, suas idiossincrasias. Mas, acima de tudo, aprendi a respeitar essa cidade. E amá-la sempre. Cada vez mais. Cheguei aqui como apenas mais um retirante. Hoje já me sinto abduzido pela Pauliceia. Quase um paulistano...
Na foto, jardim japonês do Largo da Pólvora, no bairro da Liberdade, um dos meus refúgios preferidos em meio à caótica metrópole.

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