sexta-feira, 1 de março de 2019

LISÍSTRATA

Apesar de ter sido minha segunda direção, considero Lisístrata a minha estreia como diretor. Foi com esse espetáculo que os críticos e o grande público me descobriram como profissional. Foi também com Lisístrata que ganhei todos os prêmios do ano: Prêmio Açorianos de Melhor Direção, Prêmio Quero-quero (Sated) de Melhor Direção (que dividi com Luís Arthur Nunes, por A Fonte, no qual eu também atuava) e Prêmio Scalp de Teatro. Esse último, apesar de "menos importante", é o que mais considero, justamente por ser underground. Sem falar que o troféu é uma bela escultura em arame de Fiapo Barth que até hoje enfeita a minha sala... Voltando ao espetáculo: Apesar de ser um texto clássico, uma comédia grega de Aristófanes, minha montagem era bastante autoral, com uma concepção bem definida e que já revelava claramente um estilo, uma postura de diretor, uma assinatura. A peça tinha dez atores, um elenco considerado grande para os padrões da época em Porto Alegre. Encabeçado pela estrela (então local) Ilana Kaplan no papel título, o grupo trazia ainda Nora Prado, Ciça Reckziegel, Adriane Mottola, Miriam Tessler, Gisela Habeyche, Paulo Vicente, Angel Palomero, Mario Ruy e o saudoso Fernando Severino. Minha adaptação partiu da tradução de Millor Fernandes. Para agilizar a trama, suprimi todas as passagens do coro. No lugar delas, coloquei cenas mudas, que comentavam a história e avançavam a narrativa. Essas cenas foram criadas a partir de improvisações com os atores, que eram estimulados por mim com um tema relacionado à trama. Depois eu as redesenhava, com base em ícones da pintura e estatuária clássicos. A trilha sonora, que embalava essas cenas mudas, era basicamente composta de músicas clássicas que foram pesquisadas e selecionadas por mim, com o auxílio de Ciça Reckziegel. Não sou nada modesto em relação a esse que considero um dos meus melhores trabalhos em teatro até hoje. Uma montagem simples no que se refere a pirotecnias cênicas, Lisístrata começava e terminava com o palco totalmente vazio. Calcada principalmente nas interpretações, no conjunto, nos tableaus e frisas. Poucos elementos cênicos manipulados pelos próprios atores compunham a cenografia. E a luz precisa de Marga Ferreira definia a ambientação e atmosferas. Esse requinte estético em nada afastava minha Lisístrata do público. Pelo contrário, a peça tinha grande apelo e aceitação populares, o que atestavam as grandes plateias que a prestigiaram. Fizemos várias temporadas em Porto Alegre e algumas viagens ao interior, totalizando um ano em cartaz. Em Palmeira das Missões fomos convidados para inaugurar a Casa de Cultura local. Tenho especial carinho por essa montagem que começou como um trabalho de direção meu na escola de teatro e, devido ao grande sucesso, ganhou os palcos profissionais. Dediquei-o ao professor Ivo Bender, como prova de meu carinho e reconhecimento. E lá se vão já trinta anos...
Nas fotos, de Fernando Brentano, Ilana Lisístrata Kaplan impede suas companheiras de cederem à tentação, As Três Graças Miriam Tessler, Gisela Habeyche e Ciça Reckziegel e Nora Prado personifica A Paz no cortejo que antecedia o banquete final.

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