quinta-feira, 14 de junho de 2018

CONTO POSTAL

Meu caro amigo,
Não sei quem você é nem onde está. Não sei ao menos se você existe de fato. Mas de repente senti uma vontade incontrolável de escrever uma carta para um amigo distante. E resolvi fazê-lo aqui, via internet. Como quem joga ao mar uma garrafa com uma mensagem, na esperança de que ela vá dar a alguma praia e que alguém a encontre e a leia... Por aqui tudo bem. Sem grandes novidades. Tenho levado uma vida tranquila e agradável, malgrado as turbulências que sacodem o mundo lá fora. Fora da minha casa, eu quero dizer. Mais especificamente, da minha vida. Desenvolvi uma espécie de blindagem que me permite seguir existindo em meio ao caos em que tudo parece estar imerso. Dito assim pode soar egoísta. E digamos que seja um pouco, mesmo. Mas o que é um pequeno ato de egoísmo frente à crueldade humana? A falta de escrúpulos, a intolerância, a ganância e a exploração do próximo? Sim, sigo levando a minha vida em paz. Espero que o mesmo ocorra com você. Onde quer que você esteja...
Às vezes, para passar o tempo quando já estou cansado de ler ou de escrever, assisto a programas de variedades na televisão. Dia desses, enquanto trocava de canal, vi uma garota super alternativa, descolada, vegana, sustentável e outras mumunhas mais, que ensinava, em um canal de tv a cabo, como fazer um mojito "super diferente". Você acredita que não havia nenhum ingrediente do mojito na receita que ela mostrou? Se você não sabe, o que eu duvido muito, pois imagino que você viva fora do país e viaje bastante, mojito é um drink feito com rum, hortelã, limão, açúcar e água com gás. No lugar do rum, a garota colocou cachaça. No lugar da hortelã, poejo. O limão foi substituído por laranja. Não colocou açúcar e acrescentou chá de hibisco. Ou seja: Nossa jovem apresentadora & bartender não colocou nenhum ingrediente da receita original. Ah! Já esquecia: Água com gás ela colocou. Mas água com gás está longe de ser o ingrediente definidor de um mojito, você há de concordar. Então fiquei me perguntando: Já que a pessoa é tão criativa, por que raios não inventa um nome novo para o seu incrível drink? Posto que mojito, inequivocamente, não é...
Não sei porque senti vontade de escrever isso aqui na carta. Mas imagino que esteja tentando, mesmo que inconscientemente e de maneira indireta, dar a você uma espécie de trailer do que ando vendo e vivendo. Se é que você existe e, supondo que exista, esteja interessado... Espero que esteja tudo bem com você. Ou eu deveria dizer vocês? Será que você encontrou alguém com quem dividir a sua interessante vida internacional? Se isso de fato ocorreu saiba que fico muito feliz por você. Ou melhor, por vocês. Pois mesmo não conhecendo a pessoa pela qual você se apaixonou e com a qual decidiu dividir a sua vida, sinto que gosto dela só de saber que o faz feliz. No mais, sigo tentando aprender a tocar piano. Ou melhor, eu sei tocar piano. O que quiz dizer é que sigo tentando me transformar em um pianista. O duro é que cada vez tenho menos tempo para isso. A vida está passando a cada dia mais depressa. E o fim parece estar cada dia mais próximo...
Desculpe se não consegui escrever uma carta bela e inspiradora, cheia de boas notícias e grandes novidades. Mas, pelo que me lembro do tempo em que escrevia cartas, era mais ou menos assim que funcionava: A gente dizia como estava, dava um panorama geral do presente, contava algumas coisas banais, uma novidade se tivesse, perguntava como o interlocutor estava, desejava coisas boas para ele e sua família e se despedia esperando resposta. Acho que cumpri meu objetivo. Ah! Já ia esquecendo: Minha gata pariu uma ninhada de seis gatinhos e resolvi ficar com todos. Pelo menos a casa vai ficar cheia e mais animada... Bem, paro por aqui. Fique bem, fiquem bem. Espero que recebam essa carta. E, se possível, que a respondam. Um grande beijo e um grande abraço,
Do seu amigo distante.
PS - A Marieta manda um beijo para os seus. Um beijo na família, na Cecilia, nas crianças. O Francis aproveita pra também mandar lembranças a todo o pessoal. Adeus...

Um comentário:

  1. Adoro a história do mojito. Esses jovens tão criativos com essa mania de reinventar o já inventado. Como você, não sei porque não inventam.

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