terça-feira, 25 de novembro de 2014

CASTANHA

Fiquei passado com o filme Castanha. Ou melhor, trespassado: O filme fura, espeta, cutuca com vara curta. Confesso que fui ao cinema esperando pouco mais do que me divertir com as hilariantes criações do comediante, que acompanho desde os anos oitenta, quando ele integrava a genial Cia. Tragicômica Balaio de Gatos. Tive um baque! Ao longo da projeção um nó foi se formando e apertando cada vez mais. O filme confunde, instiga e provoca no melhor sentido. Roteirizar a própria vida, transformá-la em ficção, poderia resultar em catástrofe não fosse o despudor com que Castanha o faz. Mais do que isso, a crueza. Zero glamour. Zero arrogância. Zero auto-promoção. Castanha faz sua própria biografia não-autorizada. O que poderia soar regional ou interno demais, atinge o universal por tocar nas profundezas humanas. O cotidiano que dói, que maltrata, que exclui e que faz rir, também. Mais do que o indivíduo ou o núcleo familiar, o país está retratado no filme. Feio como só ele sabe ser quando quer e com quem quer. Remete aos primeiros filmes de Almodóvar só que ainda mais pungente e sem a glamurização da comédia. A Porto Alegre do filme pode ser qualquer cidade do mundo. Assim como a boate onde ele apresenta seu show, que poderia estar localizada em qualquer periferia do planeta. O filme tira o espectador do seu mundo e o apresenta a um outro, completamente diferente, talvez completamente igual, mas inteiro, duro, seco. E o devolve cheio de indagações. Que filme é esse? É ficção? É documentário? Castanha existe? Só por isso já valeria a pena. Mas Castanha, o filme, vale por muito mais. Entre outras coisas, por Celina, a mãe de Castanha, para mim a estrela do filme. E, claro, por Davi Pretto, o brilhante diretor e roteirista. Não é cinema gaúcho. É cinema universal. João Carlos Castanha é um grande ator, sabe-se há muito. A novidade é que Castanha, o filme, é uma grande obra. E Davi Pretto, um grande cineasta. Corram, antes que saia de cartaz!

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