terça-feira, 14 de outubro de 2014

SEM PALAVRAS

Outubro já está na metade e eu apenas chegando ao segundo post do mês. É raro de acontecer, mas às vezes é exatamente assim que me sinto: Sem palavras. Ontem fui assistir ao belíssimo filme Atilla Marcel, de Sylvain Chomet, no qual o protagonista, Paul, só pronuncia uma única palavra: Papai. E o filme acaba. Fiquei impressionado com a atuação daquele jovem ator francês, Guillaume Gouix, que passa pelas mais variadas emoções ao longo da história sem pronunciar uma só palavra. Aliás, só uma. Un seul mot: Papa. Acho que o filme me tocou justamente por esse detalhe: A ausência de palavras do personagem. E me refiro aqui, no meu caso, à palavra escrita. Pois, felizmente, falar eu continuo falando. Pouco. Mas falo. Acho que estamos vivendo um momento em que tudo é dito demais, falado demais o tempo todo. A própria Clarice Lispector, hoje tão citada pelos que tem muito a dizer, já declarou: "Minhas desequilibradas palavras são o luxo de meu silêncio". Eu modestamente venho dizendo há um bom tempo que silêncio em si é um artigo de luxo. E não apenas o silêncio externo, real. Mas o interno, também. O silêncio da alma. Fiquei lembrando do impressionante monólogo sem palavras Depois do Expediente, a que assisti aqui em São Paulo, nos anos oitenta, com a maravilhosa e saudosa Ileana Kwasinsky... A gente ouve tantas coisas, lê tantas coisas o tempo todo, recebe tanta informação, útil ou não, que se perde no alarido geral. Quero dizer que estou em crise de escrita. As palavras me escapam. Adoro dizer isso em francês: Les mots m'échappent... E é bom que assim seja, de vez em quando. Até que essa crise passe, talvez eu não escreva mais nada aqui. Não farei críticas nem elogios. Não reclamarei de ninguém nem de nada. E, sobretudo, não tentarei convencer ninguém a votar no mesmo candidato que eu. Que pra isso já basta o Facebook. E deixa eu parar por aqui porque, para quem está sem palavras, já estou escrevendo demais. Estou parecendo o filho de um famoso casal de atores que foi na estreia do musical de sua mãe, postou uma foto no instagram e escreveu: "Sem palavras para a estreia da minha mãe, etc, etc, etc..." e seguiu transformando em extenso parágrafo o que deveria ser apenas a legenda da foto. Eu ri imaginando o que ele escreveria se estivesse COM palavras... Bom, agora chega! E até, quem sabe, novembro! Enquanto isso, não deixem de assistir ao intrigante Atilla Marcel.
Na foto, o silêncio cheio de palavras não ditas de Guillaume Gouix.

3 comentários:

  1. Eita Roberto, é mesmo, o Camargo.
    Será?
    Primos? hehe
    Sobrenome que veio da minha mãe, que inclusive, deixou familia perdida no Brasil. Moro no DF.

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