sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

CHIMARRÃO

Assim como os japoneses tem a sua cerimônia do chá, minuciosa e delicadamente repetida através de séculos, também os gaúchos, seleto grupo de brasileiros nascidos no extremo sul do país, ao qual pertenço, tem o seu chimarrão. Que não deixa de ser um chá, cuja erva-mate é servida em uma cuia de cabaça na qual se introduz a água quente e sorve-se o líquido pela bomba, uma espécie de canudo de metal circundado por ornamentos que tem, de um lado, um pequeno coador e, do outro, uma ponteira para os lábios. A minha, que herdei de meu pai, é banhada em prata e ouro com minhas iniciais gravadas no ornamento. A versão feminina do chimarrão leva açúcar e é conhecida como mate-doce ou mate de comadres. O chimarrão não é exclusividade dos gaúchos. Outros povos, tais como catarinenses e paranaenses e até mesmo argentinos e uruguaios, também costumam apreciá-lo. Só que em versões diferentes, em cuias menores ou mesmo em copos ou xícaras, e recebe o nome de tererê, bem menos inspirador, diga-se de passagem. No Rio Grande do Sul o hábito do chimarrão é agregador, ele reune os amigos em um círculo conhecido como roda de chimarrão. Cada componente toma uma cuia, sorvendo o líquido até fazê-lo roncar e passando em seguida para o amigo ao lado. Como não moro mais no Rio Grande e a maioria das pessoas que conheço aqui em São Paulo não tem esse hábito, tomo sozinho o meu mate diário. A erva, além de ser de boa qualidade, precisa ser nova e bem verdinha. Meu falecido pai era adepto da marca Tertulia e em uma ocasião, quando relatava ao representante da marca que faria uma viagem a Roma, este propôs um desafio a meu pai: Se ele tirasse uma foto com um pacote da erva em frente ao Coliseu, não precisaria pagar pelo produto durante um ano. E assim foi: Meu pai tirou a foto, trouxe-a para o amigo, que mandou publicá-la no jornal local e forneceu Tertulia de graça para nós por doze meses. Como se pode ver, assim como o chá dos japoneses, o nosso chimarrão também tem lá suas minúcias e delicadezas. Na foto, meu pai levando a erva para passear.

Nenhum comentário:

Postar um comentário