sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012


FELICIDADES
Sabe quando o dia está sombrio e úmido e o céu, coberto de cinza, não sugere nada além de uma possível tempestade e, de repente, se abre um buraco no meio das nuvens e o sol invade o dia iluminando tudo, banhando plantas e flores de luz dourada, os pássaros voam rápidos e melodiosos, cantando o prenúncio de uma boa nova no ar? Isso é um pequeno instante de felicidade. E pode acontecer no meio de uma crise existencial, de uma desilusão amorosa, de uma pinimba financeira ou de mais felicidade ainda. Ou quando o seu saldo bancário beira insistentemente o negativo e você está cheio de planos que envolvem despesas como comprar roupas novas, livros, CDs, viajar, passar o carnaval na Bahia ou, sei lá, fazer aquele curso de enologia imperdível com o somelier do momento e, do nada, alguém deposita na sua conta um dinheiro extra que você nem lembrava mais que estava há um tempão para receber? Trata-se de um outro instante de felicidade possível. De natureza diametralmente oposta ao anterior, mas igualmente feliz. E quando sua gata dá à luz cinco gatinhos? E quando aquela orquídea linda que você ganhou do seu melhor amigo, depois de meses, resolve florir outra vez? E, falando em amigo, quando aquele amigo queridíssimo que mora longe e que você não vê há um tempão resolve aparecer e vocês bebem juntos aquele chardonnay que esperava geladinho por esta oportunidade? Outro pequeno instante de felicidade possível. Quando a gente para pra pensar e, lembrando desses momentos todos, faz a soma e chega à conclusão de que somos felizes, voilà: Outro pequeno momento de felicidade possível... Peço desculpas aos céticos, aos pessimistas e, até mesmo, aos realistas. Mas eu, definitivamente, vim ao mundo para ser feliz. E, como já bem cantou Cazuza, porta- voz da minha geração: "As possibilidades de felicidade são egoístas, meu amor".
Na foto, um pequeno instante de felicidade em frente ao Sesc Belenzinho, aqui em SP.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012


CASADO COM PARIS
Terminei essa semana a leitura do livro Casados com Paris, presente de minha amiga Rosana Silveira, que devorei paulatinamente, como um cupim silencioso vai transformando em renda portas e janelas sem que ninguém perceba. Não se trata de Kafka, embora a metáfora a ele remeta... O livro, de autoria de Paula McLain, narra a história do amor e do desamor de Ernest Hemingway e Hadley Richardson na Paris boêmia dos loucos anos vinte. Mais a minha cara, impossível. Tanto que, nos últimos capítulos, comecei a economizar a leitura para que durasse um pouco mais. É assim que me sinto em relação a essa cidade: Casado. Senão, pelo menos, um eterno enamorado. Paula McLain escreve na primeira pessoa, como se fosse a própria Senhora Hemingway vivendo o amor e a traição pelo homem e escritor com quem escolheu viver. Interessantíssimo para quem, como eu, já havia lido recentemente Paris é uma Festa, escrito pelo próprio Hemingway, que apresenta a sua visão daqueles anos inesquecíveis. Não à toa, ele nomeou o último capítulo de sua obra de Paris Continua Dentro de Nós... Teve também o filme de Woody Allen, Meia Noite em Paris. Parece que os anos vinte em Paris estão em alta. Saiu até um guia, E Foram Todos Para Paris, com os lugares que os escritores da época gostavam de frequentar. Agora estou um pouco perdido e, sem saber direito o que ler, retomei a leitura da autobiografia de Lobão, que tinha abandonado pelo cansaço que seu estilo me provoca. Ele é extremamente verborrágico e tudo é exageradamente adjetivado... Vamos ver no que vai dar. Saudades de Paris...
A foto, que reúne duas das minhas maiores paixões, Paris e leitura, é de um site só de imagens antigas da cidade, que me foi recomendado por meu amigo Guto de Castro.

sábado, 18 de fevereiro de 2012


AQUELE BEIJO
No verão de 1985, em férias da faculdade de teatro, fui ao Rio de Janeiro visitar minha irmã Rita que, à época, estava morando na Cidade Maravilhosa antes de se aventurar em outras maravilhas do mundo. Foi nessa ocasião que assisti ao espetáculo Tupã, a Vingança, de Mauro Rasi, com direção de Miguel Falabella, estrelado pela minha eterna musa Lucélia Santos. E imediatamente me tornei fã de Miguel Falabella. Quando o descobri autor, então, o negócio ficou sério. Quando digo sério, não é que ele escreva dramas ou tragédias. É que suas comédias são sérias. Seriamente escritas. Habilmente urdidas. Planejadamente arquitetadas. Coisa de profissional. Considero Miguel Falabella uma espécie de Pedro Almodóvar brasileiro. Sua metralhadora atira para todos os lados, implacável, crítica, feroz, ferina até. Mas ao mesmo tempo dá voz a todos os excluídos e aos incluídos também. Mais ou menos como o avesso do bullying. Nada mal em tempos de Pânico e quetais... Quando chegou à TV, como novelista, ocupou no meu pódio, senão o posto de melhor dramaturgo, o de mais assistido. Não perdi um só capítulo de Salsa e Merengue. Falabella conseguiu desbancar, no meu ranking, Gilberto Braga e Silvio de Abreu. Que passaram a ocupar, respectivamente, o segundo e o terceiro lugar. Eu, que atualmente me considero um ex-noveleiro, triste órfão de Janete Clair, me rendi a Aquele Beijo e paro o que estiver fazendo para assisti-la. E fico torcendo para que ele, o autor, entre em off comentando, no melhor estilo "rubricas da peça", a interioridade dos personagens. Metalinguagem para a classe C. Adoro. Quem acha que isso é jogar pérolas aos porcos precisa rever os seus conceitos. Aliás, quem é que não gosta de pérolas? Viva Ana Girafa e o Covil do Bagre! Vivam, também, Maruska e a Comprare! E, claro, a Chocotona... Um dos meus sonhos ainda não realizados é um dia trabalhar com Miguel Falabella. E poder, finalmente, lhe dar Aquele Beijo...
Na foto, Ana Girafa vestida como Lady Gaga.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012



ROBERTO RODRIGUES
Não é porque é meu chará. Mas Roberto Rodrigues, ilustrador do começo do século passado e irmão do dramaturgo Nelson Rodrigues, era genial. Aliás, continua sendo, malgré os mais de oitenta anos da sua precoce morte, assassinado friamente aos vinte e três anos de idade. A história é longa e quem se interessar pode pesquisar à vontade. No livro de Ruy Castro sobre Nelson, O Anjo Pornográfico, há detalhes bem interessantes. Quero me deter aqui na obra em si. Quem segue o blog sabe da minha admiração pelos grafittis, gravuras, óleos sobre tela e artes gráficas e plásticas em geral. Eu já havia lido o Anjo Pornográfico há muitos anos e nem me lembrava da história de Roberto. Até que, dia desses, lendo a revista Joyce Pascowitch (Sim, Joyce é cultura!), me deparei com interessantíssima matéria sobre ele, fartamente ilustrada com exemplares do seu trabalho. As gravuras são carregadas de lirismo e poesia, com forte pegada dramática e de uma morbidez explícita. Segundo as palavras do próprio Roberto, "tanto é belo um idílio romanesco, quanto um crime bárbaro". Fiquei impressionado com a modernidade do traço e com a ousadia dos temas. Minha preferida chama-se O Elogio da Cocaína e, infelizmente, não a encontrei na internet para ilustrar o post. O consolo é que uma importante exposição e o lançamento de um livro com as ilustrações serão lançados ainda esse ano. Espero ansiosamente...
Nas fotos, o retrato de Roberto por Cândido Portinari e uma de suas obras.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012


TRASH TOTAL
Trash para mim sempre foi o cult movie de Andy Warhol e Paul Morrissey estrelado pelo belíssimo Joe d'Allesandro, que na trama vivia um viciado em heroína. Assisti em Paris, no começo dos anos noventa, quando não havia internet e o mundo ainda não era globalizado. Hoje tudo é trash. Aliás, tudo, não. Tudo o que bomba. Tudo o que faz sucesso. Em nome do trash ou sob a sua roupagem, liberou geral. Não é mais necessário nenhum compromisso com o bom gosto, o refinamento estético, a cultura ou qualquer outra dessas bobagens totalmente descartáveis... Viva o vídeo caseiro. Viva a pobreza de espírito ou de cenário. Viva a piada chula. Viva o português falado e escrito errado. Viva a exploração da miséria alheia ou própria. Viva o mico pago em rede nacional. Gente, pra que perder tempo com literatura ou boa música? Leia logo a Minha Novela e ouça o hit do verão. Nem vou citar qual, pois até que eu poste esse texto ele poderá ser outro. O que vale é o momento. Se você não está aqui porque foi para o Canadá ou porque nesse verão resolveu fazer algo diferente, perdeu. O Big Brother, por exemplo, datou. Pega mal falar. Bem ou mal, não importa. O trash do momento é Mulheres Ricas. E a musa trash, Val Marchiori. Aliás, falar mal também datou. Assim como zoar. O trash do momento é xoxar. O xoxo fala mal meio que homenageando, entende? Não? Então não perca o novo programa da Galisteu. Você vai entender isso e muito mais... Fica a dica. Aliás, fica a dica também é trash...

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012


NÃO TENHO MAIS IDADE
Vivo dizendo que não tenho mais idade para fazer determinadas coisas. Quanto mais velho fico, ou seja, quanto mais idade adquiro, mais digo não tê-la para isso ou aquilo. E, embora pareça paradoxal, é a mais pura verdade... Não tenho mais idade, por exemplo, para curtir balada. Eu até poderia, se não começassem tão tarde. Uma hora da manhã é o meu limite máximo para ir para a cama. E é quando elas, as baladas, estão apenas começando... Outro dia me enchi de animação e fui, com minha amiga Flora Jatobá, a uma delas, a Santo Forte. Mico total: Deixei a Flora na porta e voltei para casa antes mesmo de entrar! Também não tenho mais idade para lugares barulhentos e esperas muito longas em restaurantes. Não tenho mais idade para grandes aglomerações humanas. Shows, só em teatros. Em estádios e ginásios, to fora. Praias, de preferência desertas ou fora de temporada. Também não uso mais calça apertada. Aliás, não tenho idade para usar mais nada apertado. Nem baby look. Não tenho mais idade para trocar a noite pelo dia, me drogar, nem beber bebidas ruins. Não tenho mais idade para viajar de ônibus nem para me hospedar em albergues. Não tenho mais idade para não cuidar da pele, da coluna e dos dentes... Ou seja, está cada vez mais caro ser eu. Por essas e por outras é que prefiro ficar em casa lendo ou escrevendo.