quinta-feira, 4 de agosto de 2011



ESCREVER
Lembro que desde criança sempre gostei de escrever. Talvez por eu ter sido uma criança e um adolescente tímido e reservado, a escrita, além de ser uma espécie de companhia, sempre foi um ato solitário, para o qual eu não tinha necessidade de absolutamente ninguém. E talvez ainda seja por isso que eu continue gostando de fazê-lo. É sintomático que eu tenha criado esse blog dias depois de ter saído da Terça Insana. Ele seria a minha companhia e a minha maneira independente de continuar a produzir coisas. No caso, idéias. Uma forma de exercitar a criatividade sem a necessidade de um grupo. Já se vai um ano e meio desde que o blog foi criado. Confesso que tive medo que me faltasse assunto. E, por vezes, realmente faltou. Mas bem ou mal ele continua me salvando. Digo salvando por lembrar Clarice Lispector, uma de minhas escritoras preferidas, que dizia ser escrever uma forma de salvação. Sempre sonhei com uma atividade artística que pudesse exercer sozinho, sem precisar de mais ninguém. Acho que os pintores, escultores, artistas plásticos em geral, conseguem tal façanha. Mas, como não tenho o menor talento para me expressar plasticamente, só me restou a escrita. Eu sempre fui do teatro, uma atividade essencialmente grupal. Não existe teatro sem a presença do outro. Nem que seja para assistir. E sempre sonhei ser escritor. Já contei aqui no blog que comecei a ler muito cedo, estimulado por meu tio Cantídio Borjes. Com jota, como ele costumava salientar. O hábito da leitura me levou ao da escrita. Escrever eu já escrevo, mas continuo sonhando com a possibilidade de ser pago para tal. Sair do agito das grandes metrópoles, me isolar em uma pequena praia para me dedicar à criação de textos. Pode haver algo melhor? Mais romântico? Poético? Para mim, não há. Recentemente fui muito tocado pelo filme de Woody Allen, Meia Noite em Paris. Para quem me conhece, por motivos óbivos: Paris e escrever, duas das minhas paixões, reunidas em uma só história... Eu adoraria poder pegar aquele táxi que me levasse no tempo para a Paris de Hemingway e Gertrude Stein. Terminei recentemente a leitura de Paris é uma Festa, de Hemingway, e continuo lendo a prestações a Autobiografia de Alice B. Toklas, de Gertrude, que contam, ambos, as aventuras daqueles artistas todos na Paris dos primeiros anos do século passado. Saudades... Eu sinto saudades do que não vivi. E que poderia ter vivido, tal a identificação que tenho com determinadas coisas passadas em épocas anteriores à minha. A escrita tem esse poder mágico. De transportar. De expandir horizontes. Sobre a folha em branco, ou sobre a tela em branco do Word, tudo é possível. Pode-se transformar o tédio em excitação, a solidão em amor correspondido, a tirsteza em alegria e vice-versa. Pode-se criar climas, suspense, terror. Pode-se fazer rir, escever com humor. Pode-se ocupar uma tarde fria de inverno, com o sol entrando pela janela do apartamento, para fazer companhia às palavras, aos pensamentos e às idéias do autor. E para, quem sabe, aquecer o seu coração. E, talvez, o coração de quem lê... Deus salve as pessoas que escrevem e as pessoas que lêem! Graças a elas o mundo pode ser sempre um pouquinho melhor...

Na foto, Clarice em ação.

Um comentário:

  1. Gracas aos escritores que expressam-se tao bem como tu, o habito da leitura e o deleite para os que amam aprender sempre um pouco mais. Este texto esta particularmente delicioso. Parabens!

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