sexta-feira, 14 de janeiro de 2011


DIZER OU NÃO DIZER
Acabo de assistir ao filme Mine Vaganti que, em português, ganhou o título de O Primeiro Que Disse. Como diz minha amiga Agnes Zuliani, no seu personagem Ordinária, brasileiro adora entregar o filme no título... Mas, tirando o título brasileiro, esse filme italiano faz rir e emociona do início ao fim. Tomaso, o protagonista, que vive em Roma com o namorado, decide revelar à família que é gay. Seu irmão Antonio, que vive com a família tocando os negócios, se antecipa e revela antes do irmão que também é. O pai expulsa Antonio de casa e Tomaso se vê enredado na vida do irmão, assumindo o lugar que ele ocupava junto aos familiares e vivendo o dilema de contar ou não a sua verdade. Mas não é exatamente sobre o filme que pretendo falar, e, sim, sobre esse recorrente dilema de dizer ou não o que se quer, o que se sente, o que nos incomoda, o que desejamos do fundo do nosso ser. Foi com essa reflexão que saí da sala de cinema. Tudo deve mesmo ser dito? E as entrelinhas, servem pra quê? E a capacidade de percepção e observação do outro, não contam? E os silêncios que, muitas vezes, dizem tanto ou mais do que o mais eloquente dos discursos? Eu nunca fui daquelas pessoas que dizem tudo o que querem. Muitas vezes, prefiro calar. Sempre gostei mais de ouvir e, com isso, passei a perceber que as pessoas, em geral, falam demais. Costumam ter opinião formada sobre tudo e, como se isso não bastasse, fazem questão de expressar essas opiniões constantemente. De preferência, contrariando a opinião do interlocutor. E as discussões não tem fim... Por outro lado, há coisas que, se não são ditas, jamais serão compreendidas ou percebidas. Muitas tem, inclusive, que ser re-ditas. E outras são repetidas ao longo de toda uma vida e não serão absorvidas jamais. Ó dilema cruel! Dizer ou não dizer? Heis a questão... Voltando ao filme, o próprio Tomazo diz ao namorado, após esse se declarar numa conversa telefônica: Eu também te amo, só não consigo FALAR assim como você. E o mais interessante do filme é justamente ver a verdade de Tomazo sendo, pouco a pouco, percebida e assimilada por todos os integrantes da familia, sem que quase nada seja dito. Alguns, mais sábios como a avó, mais sofridos como a sócia, com mais vida interior como a tia, ou mais atilados mesmo como a irmã, percebem logo de cara. Os outros vão sendo enredados num crescendo que culmina com a chegada dos amigos de Tomaso que, de passagem pela cidade para ir à praia, são recebidos e hospedados pela família. Aliás, a estada das bibas na residência familiar gera as cenas mais engraçadas do filme... E assim, nesse diz ou não diz, o filme diz muito do ser humano, da vida, das relações, fazendo rir e emocionando constantemente. O que já não é pouco a ser dito...
Na foto, o ator Riccardo Scamarcio, intérprete de Tomazo.

5 comentários:

  1. E agora o dilema... quando será que esse filme passará em telas baianas? Lindo texto Bob, e uma ótima reflexão, afinal, o corpo fala, o olhar fala muito, e a boca deveria ficar fechada mais vezes.

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  2. Adorei, quero vero ver o filme!! rs!!

    mas penso, q as vezes é necessário falar sobre as coisas pra descobrir oq pensamos sobre elas, ou pra descobrir uma nova perspectiva!! enfim...

    bjs saudades!

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  3. Para que revelar tudo do intimo se as atitudes, gostos e conceitos sao de fato nossa essencia? Ademais, acredito que todos os dias decobrimos algo novo que acrescenta na eterna construcao do nosso ser. Mi manchi tanto, baci.

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  4. E tem outra outra: muitas vezes escrevemos o que não conseguimos falar. Eu, ultimamente, tenho falado mais com a caneta do que com a boca.
    Abraço!
    Muque de Peão

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