sábado, 8 de janeiro de 2011


VERÕES
Desde criança sempre adorei o verão. Minha preferida e esperada estação do ano. Em Soledade, onde morava na minha infância, fazia muito frio o ano inteiro. O verão eram basicamente dois ou três meses de calor, de dezembro a fevereiro, e, mesmo assim, tinha que se levar um agasalho se fosse sair à noite. Ele também estava associado às férias, as tão igualmente esperadas férias grandes, que era quando podíamos frequentar as piscinas do Soledade Piscina Clube. Que, aliás, ficavam fechadas do meio dia às três da tarde. Que espera sem fim! Agente acabava de almoçar ficava contando os minutos pra poder entrar na água... Meus pais não tinham o costume de “veranear”, que é como se chama passar as férias na praia, em bom gauchês. Por isso, só fui conhecer o mar quando já tinha catorze para quinze anos. Fui, com minha irmã Regina e seu namorado Elimar, para Capão da Canoa, onde ficamos, Regina e eu, hospedados em um hotel. O Elimar ficou na casa dos pais dele. Que, esses sim, veraneavam em Capão. Lembro bem até hoje a sensação de desequilíbrio que tive quando a água andava debaixo dos meus pés voltando para o mar...O litoral gaúcho não tem praias bonitas: a água é marrom, venta, não tem coqueiros, nada. Apenas uma vasta extensão de areia que se perde em linha reta. Mesmo assim, para mim, foi inesquecível. Hoje gosto de descobrir novas praias, pelas quais acabo invariavelmente me apaixonando. Como foi o caso das recentes Camburizinho e Ilhabela. Quando vou pra lá fico fazendo planos de mudar de vida, deixar a cidade grande, os palcos, a agitação toda da metrópole e me dedicar à contemplação. Mas o verão me agrada nas cidades também. Até Paris eu prefiro no verão, ou, pelo menos, na primavera. A gente pode bater perna o dia inteiro, sentar em frente aos cafés e restaurantes que tem, quase todos, mesas na rua. Sem falar que fica dia claro até quase dez horas da noite. Hoje comprei dois CDs da cantora Stacey Kent, que ouvia bastante quando estava em Paris, na primavera-verão passados, quando saía para passear com o I pod do meu amigo João. Sua voz me trouxe imediatamente a lembrança de restaurantes flutuantes, bateau mouches lotados de turistas que passavam acenando, banhos de sol à beira do Sena, coups de champagne em terraços de cafés e restaurantes no meio da tarde, novas pequenas ruas que ia descobrindo, lugares que ia revendo, telhados vistos do alto, memórias dos anos passados por lá que, volta e meia, passam na minha cabeça como um filme de Truffaut...
Meu verão em São Paulo está sendo de muita chuva. Excessão feita aos dias que passei em Ilhabela, antes do Natal, com minha outra irmã, a Raquél. Estou contando os dias pra chuva parar, pra eu viajar, estar outra vez junto ao mar, como contava os dias para a chegada do verão em Soledade, na minha infância querida que os anos não trazem mais... Teve o verão que fui com minha amiga Patrícia para Barcelona e Ibiza. O que fui para as Ilhas Gregas. Os incontáveis verões que passei em Florianópolis. Os que passei na Praia da Pinheira. A primeira vez que fui para a Ilha do Mel, no Paraná, em 1984, de barraca, com meu amigo Marcel Bahlis. Trancoso, em 1985. O que passei em Torres, na casa do meu amigo Guto de Castro, em 1996, antes de me mudar, em março do mesmo ano, para São Paulo. Incontáveis verões. Inesquecíveis. Todos devidamente registrados em fotografias. Mas muito melhor registrados na minha memória... Bon été!
Na foto, praia na ilha de Creta em 1991. Como era verde o meu vale...

Nenhum comentário:

Postar um comentário