terça-feira, 6 de julho de 2010


A VOZ HUMANA

Esse é o título de uma peça de Jean Cocteau, o monólogo de uma mulher que fala ao telefone com o amante que a deixou. Mas não é sobre a obra de Cocteau que quero falar aqui, e sim sobre a voz humana em si. Ou em qualquer outro tom. Brincadeira...Sempre adorei ouvir pessoas cantando. Minha mãe era muito fã de Carmen Miranda e lembro que ela sempre cantarolava pra mim os hits Camisa Listada e A Preta do Acarajé. E contava que ela e minhas tias cantavam no coro da igreja. Desde pequeno eu gostava de cantar e, quando tinha uns cinco anos, mais ou menos, ganhei de presente uma guitarrinha de plástico com a qual eu me acompanhava cantando Era Um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones para todas as visitas que chegavam na nossa casa. Lembro também de uma ocasião em que minha mãe ficou hospitalizada e eu fazia a alegria das freiras do hospital cantando Amei a Negra Cor de Carvão. Nem sei de quem é essa música, mas, com certeza, hoje em dia seu autor seria processado por racismo... Me vem à memória, enquanto escrevo, umas viagens de ônibus de Soledade a Porto Alegre, que eu fazia para visitar minhas irmãs que estudavam na capital, nas quais ia cantando Conto de Areia, da Clara Nunes, para o ônibus inteiro. Quanta falta de noção! Hoje estudo canto com minha ídola Cida Moreira e até que não faço feio. Cheguei mesmo a cantar o Willcommen, do Cabaret, e o Tango do Covil, da Óprea do Malandro, de Chico Buarque, em um espetáculo da Terça Insana. Mas minha paixão mesmo são as cantoras. Adoro ouvir cantoras cantando. Desculpem a redundância, mas é que hoje em dia tem muita dançarina cantando. É só para fazer a diferença. Minha mais recente descoberta foi Melody Gardot, por cuja voz estou enfeitiçado. Após sofrer um grave acidente que lhe causou sérios danos neurais e motores, essa americana de New Jersey descobriu a música como forma de terapia para se recuperar e reaprender funções básicas do corpo e do cérebro. Hoje, além de excelente cantora, Melody compõe e toca piano. Vale a pena procurar. Sem falar em todas as minhas divas como Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Nina Simone e Elis Regina. E, por falar em Elis, ontem à noite assisti, no Tom Jazz, ao novo show de sua filha, Maria Rita. Eu amo essa menina. Assisti a seu primeiro show no extinto Supremo Musical, que ficava na Oscar Freire com a Consolação, um clube de jazz muito pequeno onde era possível ver o artista bem de perto. Depois, com o lançamento nacional, cds e dvds, Grammys e quetais, ela passou a se apresentar em casas muito grandes, daquelas que a gente tem que se apertar em pequeníssimas mesas junto com outras seis pessoas enquanto desvia dos garçons para poder ver bem de longe os músicos no palco. Agora, felizmente, ela retomou o formato piano, baixo, bateria e voz, no Tom Jazz, que é uma casa pequena, onde o show fica intimista e acolhedor. Sensacional. Maria Rita está melhor do que nunca, madura, inteira, bela e cantando muito bem. Uma festa para todos os sentidos. Suas interpretações para Só de Você, de Rita Lee, e A História de Lilly Braun, de Chico, são antológicas. Sem falar em Soledad, de Jorge Drexler...Dignas do DNA que herdou de pai e mãe. E agora dá licença que vou escutar: É uma pena, mas você não vale a pena...E lembrar minha mãe cantarolando: Vestiu uma camisa listada e saiu por aí...

2 comentários:

  1. Roberto,

    Fiquei com invejinha (branca, hehe) por não ter ido ao show...
    Que foto linda da Maria Rita! Se for tua, parabéns!!!!
    bjs
    Anne

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