terça-feira, 9 de setembro de 2025

SO LONG, RO RO

Quando Angela Ro Ro lançou seu primeiro álbum, que tinha apenas seu nome como título, fiquei imediatamente encantado. Além de excelente cantora, ela também assinava todas as composições e tocava piano. Suas canções belíssimas, intensas e carregadas de um romantismo exacerbado calaram fundo no meu coração. Eu tinha quinze para dezesseis anos e já era um romântico de carteirinha. As fotos da capa e da contracapa do disco a mostravam belíssima, lembrando muito Maysa - não apenas pela aparência mas também pela voz grave e rouca. O primeiro show dela a que assisti foi em Porto Alegre, no saudoso Teatro Leopoldina. No palco ela revelava uma outra faceta, não menos encantadora: Era extremamente engraçada. Dali em diante perdi a conta de quantos shows da cantora fui assistir. Além das canções, que eu escutava em casa até quase furar os LPs, o que me fazia ir vê-la no teatro era sua verve cômica. Angela falava quase tanto quanto cantava e o que falava era sempre divertidíssimo (principalmente quando fazia o outing de colegas cantores e cantoras que não se assumiam) e brilhantemente inteligente. Até hoje rio quando lembro de um show dela a que assisti no Teatro Rival, no Rio, no qual ela contou que certa feita o cantor Agepê deu em cima dela e ela o situou dizendo: Pô, Agepê, qual é! Sou eu, Angela Ro Ro! Adorável… Seu segundo álbum, Só nos Resta Viver, é um dos meus preferidos. Ele traz ao mesmo tempo a Angela intensa, romântica, desbragada e sua faceta gaiata, leve e debochada em composições como Meu Mal é a Birita, Blues do Arranco e Tango da Bronquite. Sem falar na regravação do clássico de Nelson Gonçalves Fica Comigo Essa Noite, que lhe caiu como uma luva... O terceiro álbum, Escândalo, é uma obra prima. Desde a capa em formato de jornal sensacionalista até a canção título que Caetano Veloso compôs especialmente para ela. Ela era verdadeiramente um escândalo. De talento e de personalidade. Paro nesses três, para que o post não fique interminável. Mas eu seria capaz de discorrer sobre todos eles por laudas e laudas. Que lástima ela nos deixar assim, tão cedo. Em tempos de longevidade setenta e cinco anos é cedo sim. Ainda mais para uma artista do quilate de Angela Maria Diniz Gonçalves... Infelizmente não tenho foto com ela, nunca fomos apresentados, não fizemos nenhum trabalho juntos e ela morreu sem saber que eu existia. Queria tanto poder ter dividido com ela uma boa mesa de bar! Ainda assim, sua importância na minha vida foi enorme. E continuará sendo. Grande cantora, compositora, pianista, enterteiner, one woman show... Termino clamando aos céus: Senhor, pare de levar embora os artistas, esses seres iluminados que nos fazem transcender a mediocridade da existência. E, citando a própria: “Quem dera pudesse a dor que entristece fazer compreender; os fracos de alma, sem paz e sem calma, ajudasse a ver que a vida é bela, só nos resta viver”... Ainda bem que o legado de Angela Ro Ro ficará para sempre. Assim como as canções, como as paixões e as palavras… Nas fotos, Angela na capa do primeiro LP e o ingresso do show Só nos Resta Viver no Teatro Leopoldina.

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