domingo, 4 de setembro de 2022

SETEMBRO FRIO

Domingo frio. Chuvinha fina. Saí cedo de casa. Rua Augusta vazia. Avenida Paulista vazia. Metrô vazio. Me pergunto se estou mesmo em São Paulo... O Conjunto Nacional também está vazio. Como vazio – e fechado ainda, claro – está o antigo Viena, agora Ráscal, na esquina da Augusta com a Alameda Santos. Impossível não lembrar do confinamento, que esvaziou cidades mundo afora. O que gerou uma certa beleza. Triste, porém beleza. No filme francês Mais que Amigos: Vizinhos, por exemplo, que se passa durante o lockdown, vemos imagens de Paris completamente deserta que são de tirar o fôlego... Que saudade me deu de curtir o frio no sul. Rever Porto Alegre, Soledade. Tomar chimarrão, comer bergamotas, beber um bom vinho... O inverno começa a se despedir para dar lugar à primavera, toda florida e auspiciosa. E quando ela chega, vocês já sabem: É dois, três e acabou o ano. Busco então minhas memórias do frio, para fazer durar mais um pouco a estação mais glacial do ano que, para nós tropicais, nem chega a ser tanto: A sopa servida no grupo escolar na hora do recreio. Lembro até hoje do cheiro e do gosto. O chão branco de geada de manhã cedo indo para a escola. O pinhão assado na chapa do fogão à lenha e depois maceteado com o martelo (Meu Deus, por onde andava o verbo macetear??). Sem falar nas noites frias, melhor dizendo geladas, na praça de Soledade com os amigos. Nem o rigor do inverno nos fazia ficar em casa. (Ah, a juventude!). De Porto Alegre também guardo na memória diversos invernos. Um pouco mais amenos que os de Soledade, diga-se. Madrugadas de boemia e – pasmem! – cerveja gelada. Não admira que eu vivesse com crise de rinite e bronquite... A lareira acesa na casa dos meus pais. Todo mundo assistindo televisão debaixo de cobertores. Pores de sol gelados, tanto em Porto Alegre quanto em Soledade, trago muitos comigo. O post, que inicialmente era uma tentativa de saudar a chegada do mês de setembro e da primavera, enveredou por searas geladas que me levaram à mais tenra idade. Coisa boa a memória conservar lembranças, ainda que congeladas. Esse texto funcionou como uma espécie de micro-ondas que as deixou fresquinhas para serem compartilhadas com vocês... Me trouxe também a lembrança do livro Neve na Manhã de São Paulo, de José Roberto Walker, que aproveito para indicar a leitura. Ótimo mês de setembro a todos! Na foto, Sampa fria e deserta na manhã de domingo.

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