quinta-feira, 21 de outubro de 2021

CONTOS ATREVIDOS

Parece mentira, mas já faz mais de um ano que Antonio Bivar nos deixou. Me sinto um pouco órfão, pois sempre fui muito fã desse inquieto e inquietante escritor que enveredou por diversos formatos da literatura, indo da dramaturgia ao conto, passando pela biografia, a autobiografia e o romance. Como já li quase tudo o que ele escreveu e sabendo que não irá lançar mais nada, resolvi reler os seus Contos Atrevidos, único exemplar da rica obra do autor dedicado ao formato. Coisas do isolamento social. A gente, às vezes sem ter o que fazer, remexe guardados e acaba tombando sobre livros que nem lembrava ter lido. Pois este é de 2009 e eu o li em março de 2010. Curioso é que na época o livro não me marcou e eu nem mesmo me lembrava de nenhum dos seus trinta contos. Agora, relendo com a tranquilidade adquirida depois de quase dois anos de confinamento, consegui finalmente apreciá-los com a devida atenção. Dá até para entender por que, à época, eu não tenha conseguido focar minha atenção nessas curiosas pequenas narrativas: Tinha acabado de sair do elenco fixo da Terça Insana no auge do sucesso, tirara um ano sabático só para viajar e curtir e, sedento de vida real que estava, não me ative à ficção Bivariana... Hoje eles, os contos, me dizem muito justamente dela, a vida. Como em Uma Casa Simples, que traz o relato de um viúvo aposentado que encomenda ao amigo arquiteto a casa dos sonhos que finalmente irá construir para passar o resto de seus dias. Ou como em Tattoo or Not Tatto, em que uma adolescente de quinze anos se aconselha com a mãe socióloga quanto a fazer ou não uma tatuagem para se sentir incluída na sociedade. Fora a riqueza e variedade dos universos abordados, Bivar é craque em criar nomes curiosos e divertidos para seus personagens. Ao longo das cento e vinte páginas da publicação desfilam seres como Vidal Sansão, Vanilda Bertioga, Mona Lessa, Evandro Temporão, Tédia Lobato, Édila Mara e Clarice Abreu Jamra, para citar alguns. Esses pequenos relatos, fatias de vidas anônimas ou não, vem todos recheados de humanidade. E, por serem aparentemente tão banais e cotidianos, levam o leitor à reflexão. Tudo o que nos cerca - os amigos, a família, os amores, alegrias, tristezas, dores, perdas, decadências, sucessos, viagens, fracassos, angústias, frustrações, realizações - por menor e mais particular que pareça, é universal. Essa potente lente de aumento focada por Bivar no microcosmo dos personagens os expande ao infinito. Pequena curiosidade revelada pelo autor na introdução: Todos os contos foram escritos à mão em bloquinhos não pautados de 8x10cm. Como sinto e ainda vou sentir falta de Antonio Bivar... Nas fotos, a capa de Contos Atrevidos e Bivar em si nos verdes anos.

2 comentários:

  1. Querido, confesso que li muito pouco do Bivar, e esses "Contos Atrevidos" nem conhecia. Vou me esforçar mais. Adoro do fundo de crochê em que o livro repousa.

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  2. Odilon, darling. Chez Weidy é quase tudo de crochê... rsrsrs. Vá atrás de mais Bivares. Vale a pena!

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