quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

PASSADO PRESENTE

Chuva forte que cai lavando o dia e fazendo a alegria das plantas. Sozinho em casa, paro para observar o vento deitando os galhos, a água cobrindo tudo, as nuvens negras assombrando o céu de verão. O pensamento vai longe... Vejo uma enxurrada correndo no meio-fio em frente à casa da minha infância em Soledade. Minha irmã e eu fazendo barquinhos de papel para jogar ao sabor das águas... Minha amiga Ilana Kaplan anda remexendo guardados e tem postado fotos de relíquias do nosso passado em Porto Alegre. Hoje mesmo postou uma colagem que fiz para ela pelo seu aniversário, no ano de 1992. Eu, que sou o rei dos guardados, fiquei surpreso por não me lembrar que havia feito tal presente. Claro, os meus guardados eu vivo remexendo, estou sempre em contato com eles, por isso estão vivos na minha memória. Mas os dos outros não tenho mesmo como lembrar. Fiquei pensando em quanta coisa minha deve haver guardada por aí, na casa dos amigos, dos familiares. Ainda mais porque no passado tudo era físico, analógico, ao contrário de agora que tudo é digital. A gente mandava muita carta, cartão postal, fazia colagens, gravava fitas K7, verdadeiros dossiês. Coincidentemente, meu amigo Eduardo Serrano me disse essa semana que tem postais que mandei para ele quando morava em Paris. Fiquei curiosíssimo. Quando leio coisas que escrevi para alguém no passado sempre sinto uma certa vergonhazinha rsrsrs... Uma vez Gil Veloso me enviou uma foto de um postal que mandei para Caio Fernando Abreu - também de quando morava em Paris - que foi quando Caio e eu nos conhecemos. A imagem era uma foto de Pierre et Gilles, de um garoto nu em um mar de purpurina e bolhas de sabão. Gil ficou com vários objetos pessoais de Caio e queria confirmar se o Roberto remetente era eu. E era... Hoje, coincidentemente também, meu amigo Marcos Breda postou uma foto com Caio, pois está fazendo 25 anos que ele nos deixou. Lembranças cruzadas... Quando o presente está entre parênteses como agora, à espera do fim da pandemia, à espera, enfim, do fim de muitas coisas ruins pelas quais estamos passando no Brasil e no mundo, é meio inevitável que o passado fique vindo nos visitar. Principalmente a mim, um saudosista, passadista & acumulador inveterado. E tudo passa, tudo passará. E nada fica, nada ficará, como cantava Nelson Ned, outra lembrança do passado. A chuva acalmou, o céu clareou, as águas correram levando as lembranças consigo. Melhor, as nuvens correram levando as lembranças consigo. Fica mais atual, lembranças guardadas em nuvens... Acho que vou arrumar umas gavetas! Nas fotos, o céu plúmbeo de agora, minha colagem para Ilana e reprodução do postal que mandei para Caio.

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