terça-feira, 23 de agosto de 2016

PAUVRE FRIDA

Ando sentindo muita pena de Frida Kahlo. E não é pelas dores lancinantes que a artista mexicana sofreu ao longo da sua vida pós-acidente. Mas pela banalização eminente de sua figura. Explico: Frida tornou-se um ícone pop. Para o bem e para o mal. Para o bem porque quanto mais pop algo ou alguém se torna, mais alcance terá junto ao público médio, popular, pop enfim. E para o mal porque sua imagem se tornou uma estampa, algo que é infinitamente reproduzido até o degaste total. Andando pela Rua Augusta, por exemplo, a gente percebe que nove em cada dez vitrines de lojas "descoladas" exibem o rosto de Frida estampado em algum objeto de uso pessoal ou de decoração. Tem Frida em camisetas, almofadas, canecas, tecidos, porta-copos, quadrinhos, bolsas, cadernos, agendas e abajures. Frida virou tema de decoração. Nada que já não tenha sido feito com Marilyn, James Dean ou Che Guevara. Ou com o Seu Madruga. Só que no caso de Frida, não é apenas o seu rosto que se banaliza, mas a sua obra, posto que é basicamente composta por auto-retratos e são eles, os portraits, que são reproduzidos à la mort... Pra que transformar Frida Kahlo em Romero Britto? Sempre me incomodei com essa ideia da reprodução das coisas. Se uma coisa é bonita, bacana, original, interessante, se alguém teve uma ideia genial, de sucesso, pra que vou perder tempo e quebrar a cabeça para ter a minha própria? Basta copiar o que já deu certo... Sei que exagero, mas uma coisa leva à outra, leva à outra, leva etc. Eu sempre fui muito apaixonado por Frida Kahlo, sua obra e sua história pessoal. Li sua biografia, seu diário e tudo o que saía sobre ela muito antes de a terem transformado nessa xerox. Ante mesmo de Madonna sonhar vivê-la no cinema. E Salma Hayek tê-lo realizado. Mas, enfim, ninguém é dono de nada. Muito menos eu. Agora já estou pensando em Warhol e suas Ten Lizes, obra que reproduz dez vezes o rosto de Elizabeth Taylor e que tive a oportunidade de ver no Beaubourg alguns anos atrás... Paro por aqui. Senão, daqui a pouco, vou ficar como a Marta Suplicy no debate de ontem após a resposta do Haddad: Sem entender nada!
Na foto, a Coluna Partida de Frida.

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