segunda-feira, 11 de junho de 2012

CARTA
Querido leitor, o que me move a escrever esse post é a saudade. Saudade que sinto do tempo em que escrevia e recebia cartas. Para quem não tem a menor idéia do que estou querendo dizer, cartas eram espécies de e-mails, torpedos, scraps, só que analógicas, escritas à mão em folhas de papel bem fino, envelopadas, seladas e enviadas via aérea correio postal. Ah, e não eram tão breves como as mensagens digitais. Tinha-se tempo de sobra para contar as novidades e, ainda por cima, desabafar. Sim, nas cartas a gente falava da alma. Das inquietações. Dos desejos secretos, conforme a intimidade que se tinha com o interlocutor. Tinha-se uma outra noção da passagem do tempo... Nada era tão fast como hoje em dia. Lembro com que incontida ansiedade esperava a resposta de uma carta de amor... Recortar e colar eram, literalmente, recortar com a tesoura e colar com cola. Fotos, frases, qualquer coisa que se visse em jornal ou revista e fizesse lembrar o destinatário... Quando morei em Paris, no começo dos anos noventa, ainda não havia internet nem telefone celular. Falar por telefone só com a família uma vez por semana, pois era caro. Para os amigos, restavam as cartas. Eu adorava! Algumas eram verdadeiras obras de arte. Lembro que um tempo que sempre dedicava a escrever minhas missivas era o que ficava na lavanderia esperando a roupa secar. Cartões postais também eram outra forma de comunicação bastante utilizada. Em Paris tinha cartões lindos, que à época ainda não havia aqui no Brasil. Eu gostava de escrever na parte de trás do cartão inteira e colocá-lo em um envelope, pois, se utilizasse apenas a parte destinada a escrever, para mim era pouco... Sinto saudade de escolher um belo papel. Saudade de decidir qual envelope usar. Que selo colar. Com que perfume borrifar a carta. Lembro que antes mesmo de entrar para a escola e ser alfabetizado, já escrevia cartas para minhas irmãs que moravam no internato em Cruz Alta e para as colegas delas que conhecia. Eu já sabia o nome de todas as letras e ia ditando para minha mãe o que queria dizer a elas... De uns anos pra cá eu tenho treinado o desapego de tudo o que é material. E isso faz com que a cada ano eu me desfaça de coisas que guardo e não utilizo de alguma maneira. Meio que para liberar espaço na casa. Foi assim que, há uns cinco ou seis anos atrás, me desfiz de toda a minha correspondência, que guardava desde há muitos anos. É claro que algumas – poucas – foram poupadas, como algumas cartas de amor e uma – a única – que meu pai me escreveu quando meu morava em Paris. Alguns anos depois eu me arrependi desse ato intempestivo. Ainda mais agora, que nem se escreve mais cartas. E eu fui ficar sem as minhas... Saudades. No mais, tudo bem. Sigo minha rotina de procurar não ter rotina... E alimento a fantasia de me corresponder com quem quer que seja via blog. Sem mais para o momento, me despeço aguardando ansioso por sua resposta.

Beijo grande, já com saudades, do seu,

Roberto.

2 comentários:

  1. Outro dia tentei jogar as cartas fora, não consegui. Deu uma culpa, um receio de me arrepender depois. Guardei-as novamente. Acho que vou deixar esse trabalho para quem for juntar meus cacos depois que eu morrer.

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  2. Oi, Roberto!
    Acho uma pena as pessoas terem perdido este hábito. Acho lindo essa coisa de trocar correspondência. Estou morando há cinco meses em Buenos Aires e, sempre que posso, envio cartas aos meus amigos. Só assim sinto que estou chegando próximo de expressar tantas sutilezas que ocorrem por aqui. E-mails, SMSs, telefonemas... parecem não tem a mesma eficiência. Cartas são muito mais gostosas e intimistas.
    Parabéns pelo blog!
    Li alguns posts e gostei muito. ;)

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