sexta-feira, 15 de junho de 2012


DESIGN
Ele me disse para ficar à vontade. Eu estava com uma certa dificuldade para me sentir assim: À vontade. Disse para eu me sentar. Olhei em volta e não vi nenhuma cadeira. Tudo era tão design. Tão clean. Tão high... Fiquei parado em frente a um objeto me perguntando se ele seria realmente utilitário, algo para, por exemplo, se sentar, ou se seria meramente decorativo. Impossível não lembrar de Danuza Leão e suas restrições a Philippe Starck... Sirva-se de algo para beber, ele disse, agora já se dirigindo para o banheiro. Com essa onda de arrastões nos restaurantes tenho preferido ficar em casa, emendou. E eu, estático diante de tantos recipientes de cristal, tentei decifrar seus conteúdos: Seriam bebidas? Perfumes? Essências? E todos esses objetos, seriam copos? Vasos? Cinzeiros? Ouvi sua voz, vinda do quarto: Gosta de Cole Porter? Sim, tentei me fazer ouvir, intimidado pela suntuosidade decorativa do ambiente. Gosta mesmo ou só está dizendo que sim para me agradar? Redarguiu inquisidor. Quer mesmo saber? Pensei. Não quero agradar você. Essa frase se concluiu no meu pensamento quando eu já adentrava o elevador, que saía da própria sala de estar... Respirei aliviado ao chegar na rua. Entrei no primeiro boteco, sentei-me a uma mesa, dessas bem mesa mesmo, com tampo quadrado e quatro pernas, pedi um uísque que me foi servido em um copo bem copo mesmo, redondo, de vidro, e bebi feliz ao som do velho e bom Roberto Carlos que tocava na jukebox: Nunca mais você ouviu falar de mim...

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