sexta-feira, 29 de abril de 2011





DA NECESSIDADE DE TER
Pense bem: De tudo o que você possui – estou me referindo a bens materiais – o quê você realmente necessita? Difícil responder... O mundo moderno cria constantemente tantas necessidades descartáveis, que fica impossível não ter sempre um novo bem de consumo do qual a gente precise muito para viver. Como não ter uma TV de plasma que grava tudo em HD? Como ficar mais um ano sem trocar de carro? Não acredito: Você não tem um i-phone? Como você é analógico... Pois é. Eu sou mesmo uma pessoa analógica. Gosto de analizar bem as coisas que faço, que digo, que escrevo e, sobretudo, as coisas que compro. Por incrível que pareça eu não tenho a necessidade mais urgente da sociedade atual: A de consumir. Sou o tipo de pessoa que não se realiza possuindo, e sim, sendo. Difícil de entender. Equação complicada. Não vou nem entrar no mérito da origem dos bens de consumo. Como são produzidos, comercializados, exploração de menores, mão de obra escrava, desmatamento, poluição, isso tudo seria assunto para outro post. Melhor, para outro blog. O do Sakamoto, por exemplo. Quero me ater à inversão de valores institucionalizada na sociedade de consumo na qual vivemos. As pessoas estão se medindo pelo que possuem. Pelo que consomem. Isso gera banalizações, clonagens, imitações de padrões à exaustão. Você precisa tomar champanhe. O champanhe precisa ser rosé. Pra isso você precisa ir ao lugar da moda. Para entrar no lugar da moda você precisa pagar caro, pois não é qualquer um que entra. Ah, você precisa usar a roupa da moda. Mas tem que ser da grife da moda. E você precisa estar constantemente conectado à internet. Pra isso você precisa ter um i-phone. Ou, pelo menos, um i-pad. O seu carro tem que ter alarme. Tem que ser blindado, a violência atingiu níveis inimagináveis. Tem que ser importado também. Bom, mas isso é óbvio. Tudo tem que ser importado... Eu não tenho i-phone. Não tenho i-pad. Aliás, não tenho nem carro. Minha TV é de tela côncava. Eu gravo os programas no videocassete. Escuto CDs no diskman. E nada disso afeta o meu caráter, por exemplo. Nem faz de mim um ser menor, impossibilitado de viver em sociedade. Meu celular é antigo, deve ter uns três anos. Eu não considero antigas coisas de apenas três anos. Eu gosto de coisas antigas. Gosto de coisas que durem. Gosto de ser educado. De falar baixo. Eu guardo um papel no bolso até encontrar uma lixeira. Ou, se não encontro, até chegar em casa. E jogo, então, no lixo seco. Eu costumo pedir licença, dar bom dia, dizer por favor antes de solicitar algo a alguém. Eu desligo – vejam só – eu desligo o celular no cinema enquanto todos o deixam no silencioso e atendem chamadas e respondem mensagens o tempo todo durante o filme. No teatro também. Eu faço silêncio durante a noite para não incomodar os vizinhos. Eu pago todas as minhas contas em dia. Eu me visto bem, mas segundo o meu próprio gosto e estilo, não ligando para a marca das roupas. Prefiro comprar livros, CDs ou DVDs ao invés de coisas para ostentar. Eu odeio ostentar. Eu gosto é de ser. Ser honesto, ser sincero, ser educado, ser leal, ser solidário, ser bacana, ser divertido, ser cordial, ser amigo, ser gentil, ser eu mesmo. Difícil ser assim, tão démodé... Eu devo ser mesmo muito analógico. E totalmente fora dos padrões atuais.
Mas tenho, obviamente, o meu lado "perua". Também aprecio o consumo. Só que com moderação... Ah! Também não acompanhei a transmissão do casamento real pela TV.


Ilustrando o post, obra do artista americano Alex Gross.

Um comentário:

  1. E viva a analogia e o papel melando o bolso (ou a bolsa) até chegar em casa (comum aqui em Porto Alegre, com tão poucas lixeiras pela rua).... Bjs!

    ResponderExcluir