domingo, 14 de março de 2010


ESPÍRITO DOS ANOS SETENTA

Recentemente assisti a uma montagem do musical Hair, na Broadway. Na Broadway verdadeira, de Nova Iorque, não na genérica, aqui da Brigadeiro Luiz Antonio. E, mais recentemente ainda, acho que na semana passada, assisti ao ensaio geral da montagem brasileira de Cats. Como ontem à noite fui assistir ao espetáculo As Meninas, do original de Lygia Fagundes Telles, a imagem da década de setenta está firme e forte na minha cabeça. Eu atravessei os setenta dos sete aos dezessete anos de idade. E, consequentemente, trago em mim muito dessa década emblemática. Mas, às vezes, eu tenho a impressão de que o espírito dos anos setenta continua vagando por aí...Blowing in the win, saca bicho? E não é delírio, não. Vocês com certeza já o viram barbudo e cabeludo, no centro de uma grande cidade, com o violão plugado num amplificador, cantando “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante”, ou qualquer outro sucesso do maluco beleza. Quem mora aqui em São Paulo, certamente também já o viu no Centro Cultural, ali na Vergueiro, abordando as pessoas com a pergunta: Curte poesia? E oferecendo seu livrinho de xerox. Ou então em alguma feira hippie, vendendo incenso e carrancas de durepox. Os anos setenta foram anos muito loucos. Havia um sonho no ar: Liberdade. Mas liberdade no sentido mais amplo da palavra, tipo, sei lá, ir à praia sem protetor solar, saca? Transar sem camisinha... Gostar do Village People! Dizem que naquela época, se você fosse a uma festa e não transasse com ninguém pegava muito mal. E não era só isso: tinha que beber, fumar e cheirar. Nem que fosse o cangote de alguém. Os anos setenta deixaram marcas. Na moda, na sociedade, na pele. Quem não fez uma tatuagem nos anos setenta, certamente está fazendo agora. Quem não usou uma bata indiana nos anos setenta, certamente está usando agora. Foram anos de paz e amor, de flower power. Todo mundo era tranqüilo, desencanado, não existia stress. Liberdade era uma calca velha, azul e desbotada. E todos achavam super normal ter que virar o disco quando acabava de tocar um lado....Todo mundo praticava ioga, tomava chá. De cogumelo, claro. Uma das musas da década era a Baby Consuelo! A Baby era linda, magra, com seu cabelão liso e comprido...Debaixo do braço. Foram anos de muita solidariedade. Todo mundo dividia tudo: A casa, a grana, a cama, o corpo. Se um comia, todo mundo comia. Todo mundo comia todo mundo. Que beleza, não? Nem sombra dessa assepsia de hoje. Ah! E não havia photoshop! Todo mundo era crespo e feliz...O John Travolta bombava, As Frenéticas bombavam, os Dzi Croquettes bombavam. Aliás, quando os Dzi vieram fazer uma temporada de shows aqui em São Paulo, dizem que fez muito frio e, como eles não tinham trazido agasalhos, teve muita gente que foi lá e...Levou agasalhos pra eles.
A impressão que dá é que dez anos não foram suficientes pra que o espírito da década se expressasse. Ainda mais que foram anos de ditadura. Por isso esse espírito errante vaga até hoje por aí...Blowing in the win, saca?
PS: A foto é do "compacto simples" que ganhei de presente das minhas irmãs, pois adorava a música Why cant we live together, que era tema da personagem Jô, de Beth Faria, na novela Cavalo de Aco...

Um comentário:

  1. Cara...parabéns...viciei no seu blog, continue assim sempre!
    Ahh...Puts viver hoje em dia sem photoshop, muita gente ñ consegui!
    Beijoos

    ResponderExcluir