sexta-feira, 31 de outubro de 2025

AVE NOTURNA

Eu amo os animais. Em vários aspectos eu acho que eles são melhores do que nós, os pretensiosos humanos. Aliás, como já afirmei aqui no blog, amo cada vez mais os animais. Não apenas a Lina, minha gatinha, mas o reino animal como um todo. O que não gosto é de barulho. E tem uns sabiás que me incomodam muito! Rsrs. Adoro, por exemplo, o canto do bem-te-vi: harmônico, melódico, uma musiquinha feliz em tom maior. Já o do sabiá é atonal, dissonante, quase dodecafônico. Uma vez ou outra, vá lá. Mas aqui onde moro eles cantam o dia inteiro, incluindo a madrugada. Em um cantinho do prédio ao lado, que dá bem na janela do meu quarto, tem um ninho deles. Desde que moro aqui, há quase trinta anos, já vi muitos ficarem com as peninhas todas brancas e serem substituídos por novos integrantes da família. Como também já afirmei aqui, sou um velho chato e rabugento que reclama de tudo o que me perturba os ouvidos. Dia desses um deles me acordou em plena madrugada, acho que não eram nem três e meia, cantando a plenos pulmões. Era tão intenso o seu cantar que acabei achando engraçado, bonitinho, não consegui me irritar. E ri sozinho na cama pensando: esse sabiá deve ter transado! Essa animação toda nesse horário só pode ter sido em consequência de um orgasmo rsrs… Tadinhos dos sabiás! Devem andar perdidos com todas essas alterações do clima, primaveras que se parecem com outonos, invernos que lembram verões. Eu os amo também, só quis tirar alguma graça da situação. Perco a Luiza Mel, mas não perco a piada…

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

ALÉM DO HORIZONTE

Acordei às quatro horas da manhã para ir ao hospital, onde seria acompanhante de um amigo em um procedimento cirúrgico. Ainda não tinha amanhecido quando cheguei, no horário marcado, às cinco horas. Depois de preencher todos os documentos necessários para a internação, fomos conduzidos a uma sala onde, isolados por uma cortina de plástico, ele despiu suas roupas, vestiu aquele avental constrangedor que deixa a bunda de fora e me entregou todos os seus pertences. Durante o tempo em que ficamos nesse “cercadinho” cortinado conversamos sobre diversos assuntos (não nos víamos há meses) e colocamos a conversa em dia. Distraídos pela conversação fomos surpreendidos por uma luz que invadiu o recinto vinda da janela. Era o sol, que finalmente surgia por trás dos edifícios que desenhavam o skyline da cidade. A vida nos grandes centros urbanos acaba nos privando desses espetáculos diários da natureza: um nascer ou pôr de sol, uma noite estrelada, um horizonte que se estende ao infinito. Me levantei da cama onde estava sentado e mirei pela janela esse momento de pura inspiração em meio à fria e pragmática manhã de primavera. Um funcionário veio, acomodou o meu amigo em uma maca e o levou para a sala de cirurgia. Me despedi dele desejando-lhe boa sorte. Fui até a cafeteria do hospital para fazer meu desjejum e, enquanto tomava minha xícara de café, fiquei pensando em como eu estaria me sentindo se estivesse no lugar dele. Me imaginei percorrendo corredores, entrando e saindo de elevadores, sempre deitado na maca a olhar para o teto. Vi diversas luzes passando sobre a minha cabeça. Eu estaria calmo ou nervoso? Tranquilo ou com medo? Acho que certamente estaria rezando... Também faço isso quando vou ao teatro assistir ao espetáculo de algum colega: Quando soa o terceiro sinal e as luzes se apagam, fico imaginando como será que ele está se sentindo na coxia, minutos antes de entrar em cena. E como eu estaria, se estivesse no seu lugar. Da mesma forma quando vou me despedir de alguém no aeroporto: No momento em que a pessoa some após ultrapassar a catraca me imagino no lugar dela indo embora pra qualquer lugar… É interessante a gente sair de vez em quando da nossa vida e se projetar na vida de uma outra pessoa. Talvez seja um vício, uma deformação profissional, já que é isso o que faço há pelo menos quarenta anos trabalhando no teatro. Mas é um exercício estimulante e ao mesmo tempo agradável. Sobretudo nos ajuda a compreender o outro antes de simplesmente julgar, por exemplo. Sem falar que faz com que a gente se conheça mais e melhor… Agora o sol já está alto e eu sigo esperando o meu amigo sair da sala de cirurgia. Esperar é outra atividade interessantíssima na qual sou bastante treinado. E também faz um bem enorme. Mas isso já é assunto para uma outra postagem… Mais um tempo se passou e já estou na minha casa, assim como meu amigo já está na casa dele. O procedimento foi um sucesso, ele nem precisou ficar hospitalizado, esperamos apenas algumas horas até ele receber a alta. Nesse tempo conversamos ainda mais e matamos a saudade. Uma brecha no cotidiano atribulado da grande metrópole, onde para encontrar um amigo é toda uma questão de disponibilidade de agendas… O entardecer eu vi daqui mesmo, da janela do meu apartamento. Com uma agradável sensação de dever cumprido. Com amor! E, lembrando os versos de Roberto Carlos: Além do horizonte existe um lugar bonito e tranquilo pra gente se amar...

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

LÁ EM NOVEMBRO…

O mês de outubro já está na segunda quinzena e eis-me aqui a postar pela primeira vez... É que já estou com a cabeça lá em novembro, em Porto Alegre, onde irei comemorar meus quarenta anos de teatro apresentando meu solo Caio em Revista no Estúdio Stravaganza. Já vejo jacarandás em flor pintando de roxo as ruas do Centro e do Bom Fim. Ah, o Bom Fim! Bairro onde vivi toda a minha juventude... Ouço Ney Lisboa no iPad, no iPhone, o tempo todo no modo repeat: Minha gata não insista, Disneylândias não vão nos levar ao céu... A Feira do Livro ocupando a Praça da Alfândega, livros à mancheia. Memórias de um tempo que já não sei se existiu de fato ou se fantasio na minha imaginação de new old man. E, depois da meia-noite, a fauna ensandecida do Ocidente... Os palcos em que subi na capital. Renascença, São Pedro, Bruno Kiefer, Leopoldina, Câmara, Bourbon. Meus colegas e amigos, mestres, diretores. Lembro em flashs, cheios de carinho e saudosismo, o que fiz, o que vivi, o que experimentei. Marcelo et moi tomando chopps no Líder em plena segunda-feira. As aulas de acrobacia da Wal. As entrevistas para Tania Carvalho, Mery Mezzari, Ivete Brandalize, Ruy Carlos Osterman... Incontáveis pores de sol, os saudosos Ivo Bender e Tatata Pimentel, happy hours com Miriam Ribeiro, Ida Celina e Paulo Vicente. Os pedalinhos no lago da Redenção... Porto Alegre me mostrou as inúmeras possibilidades que a pequena Soledade me escondia. Nunca vou esquecer as noites do Bom Fim, os bares da Osvaldo Aranha, os projetos Seis e Meia e Pixinguinha, a Reitoria da UFRGS, a UFRGS em si, minha escola de teatro prestes a desabar desde os anos oitenta do século passado até hoje em dia. Meus amigos, namorados, namoradas & amantes. Minhas fantasias e meus sonhos realizados. O Espaço IAB! O Teatro da Assembleia, o estúdio de gravação do Bira Valdez, o Bira em si, com seu charme, talento e delicadeza, o apartamento térreo da Claudinha Meneghetti na Travessa Cauduro, o primeiro comercial que fiz na vida, da Casa dos Gravadores, gravado no recém-inaugurado Shopping Iguatemi, o Claudinho descendo a escada do Fim do Século do jeito que quisesse... Minha Vespa subindo e descendo veloz a Protásio indo e vindo do Porto de Elis. As noites de verão no Escaler e no Luar Luar, meus shows com a Marione no Richard Arte & Café, a luz da Marguinha sempre botando tudo pra cima... Estou contando os dias, mal posso esperar! Ingressos à venda no Sympla! Aloka... Na foto, meu saudoso amigo Marcelo Pezzi e os jacarandás em flor da janela do meu quarto no Bom Fim.