segunda-feira, 7 de outubro de 2019

ESTRELA DO BRASIL

Eu, que no post anterior declarei não estar mais indo ao cinema fui, inesperadamente, na sexta-feira passada, ao entardecer, assistir a Hebe, a Estrela do Brasil. Sem nenhuma expectativa, confesso. E tive uma agradável surpresa. Pensei que seria algo na linha "chapa branca" mais ou menos como foi o musical a ela dedicado. Mas felizmente não era. O filme mostra uma espécie de lado B da apresentadora mais querida do Brasil. Traz uma Hebe de carne e osso, angustiada, envolvida em polêmicas, brigas conjugais e muito álcool. Sempre amei a figura dela, não apenas como a excelente enterteiner, one woman show que era, mas também como pessoa; uma mulher à frente de seu tempo, cheia de empatia pelo outro, sempre preocupada em dar voz aos excluídos, desmistificar tabus e combater preconceitos. Hoje, nessa era tosca de polarização que vivemos, ela estaria lascada. Aliás, já se lascava bastante à época. Hebe era acusada pela esquerda de ser de direita e pela direita de ser subversiva. Era, na verdade, adorada por todos. Lidem com esse barulho! Ela lidou. E teve uma trajetória louvável... Mas percebo agora que não estou falando do filme e sim da personagem em si. Que seja. Se não fosse por ela o filme não seria tão bom. Mas tem muito mais: A admirável performance da atriz Andréa Beltrão, de quem também sou fã de carteirinha. Andréa traz uma Hebe humana e cheia de falhas, bem como a gente gosta de ver uma celebridade na vida real. E o melhor: Não imita Hebe Camargo, risco em que nove entre dez atrizes cairiam... Marco Rica como o marido Lélio também está impecável. Estive algumas vezes no programa da Hebe. A primeira, logo que me mudei para São Paulo, ainda no teatro da Barra Funda, como integrante do elenco da peça O Pequeno Mago, do grupo XPTO. Depois fui como diretor do show de Edson Cordeiro; e uma terceira vez como ator de três cenas que fiz ao vivo com Grace Gianoukas e Carla Fioroni, ilustrando situações do tema abordado no programa. Sempre simpática, o que me impressionou desde a primeira vez que a vi pessoalmente é que ela era a mesma o tempo todo, estando no ar ou no comercial. Não mudava quando as câmeras estavam ligadas ou desligadas. Coisa rara de se ver... O filme ainda relembra figuras lendárias como Chacrinha, Dercy Gonçalves, Patrício Bisso e Roberta Close. Adoro a cena em que o produtor do programa, já cansado dos rolos em que Hebe se metia, ao ver que ela queria falar da inflação e do custo de vida, sugere que ela só fale de coisas leves, pois em momentos de crise o povo quer mais é esquecer dos problemas. Ao que ela responde: Voce já passou fome? Ele diz que não. E ela encerra, categórica: Eu já passei... Palmas para o filme de Maurício Farias. E viva Hebe Camargo!
Nas fotos, Andréa Beltrão esfuziante como Hebe no cartaz do filme e eu com a Hebe em si, recém chegado na Pauliceia, de mala e cuia, nos bastidores do seu programa.

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