sexta-feira, 28 de julho de 2017

O LUGAR DA LÍNGUA

Muito já falei aqui no blog sobre o mau uso que se faz da nossa inculta e bela Língua Portuguesa. Sei que poderia até soar pernóstico pretender que se fale e escreva corretamente o idioma em um país que tem tantos problemas sociais e políticos, vive uma crise sem precedentes e tem uma desigualdade social inaceitável. Mas certas coisas, que nem seriam propriamente erros, mas vícios de linguagem, tiram muito da pouca paciência que tenho... Ultimamente, o uso da palavra "lugar" para designar coisas que não são lugares tem me irritado sobremaneira. Por exemplo: "Esse espetáculo é um lugar de reflexão". Espetáculo não é lugar. O teatro seria... "Eu estou num lugar de auto-conhecimento". Momento seria mais adequado... Mas acho que só eu me importo com esses detalhes. E por falar em lugar, outra coisa que me incomoda bastante é o uso de "onde" e "aonde" se referindo a coisas que também não são lugares. "É um filme aonde eu contraceno com fulano". Um filme no qual contraceno seria bem mais agradável aos ouvidos. Pelo menos aos meus ouvidos... "É uma medida onde o supremo revê a sua postura". Que saco! Medida não é lugar... Eu gostaria muito de saber quem começa a usar esses termos dessa maneira e porque todos passam a fazer o mesmo achando que está super correto. Vai saber! Outra modinha chata é o tal de "sobre". Esta, imagino que venha de tradução literal do inglês, como about last night. E é um tal de "sobre ontem à noite", "sobre dar e receber" e "sobre estar em boa companhia"... Haja! Tem até uma música chata, interminável e com mensagem de auto-ajuda que diz: Não é sobre ter todas as pessoas do mundo pra si, é sobre cantar e poder escutar mais do que a própria voz... Sem falar no hábito de terminar as frases com: ...que você respeita. Por exemplo: A melhor banda de rock que você respeita. Ãh? E as palavras da moda, que de repente as pessoas não conseguem dizer uma só frase sem utilizá-las pelo menos duas vezes? Do tipo superação, empoderamento, protagonismo... Ai que preguiça! Tem também os que reforçam o sujeito da frase colocando o pronome logo após: "A lei, ela é para todos". "Meus amigos, eles são poucos". Enfim, vou parar por aqui porque eu mesmo já estou me tornando irritante... E, para terminar citando Olavo Bilac: Amo-te, ó rude e doloroso idioma. És, a um tempo, esplendor e sepultura...
Na foto, a biblioteca Mario de Andrade. Um bom lugar para se estar em contato com a nossa língua. E é lugar mesmo! Rsrsrs...
PS: Acabei de lembrar de outra! Arquitetos e decoradores tem usado muito o verbo conversar para dizer que determinados móveis ou objetos combinam com a decoração. Assim: Esse abajur conversa com a cortina. Pano rápido.

Um comentário:

  1. Adorei o post, só você mesmo para ficar preocupação com o palavreado do século 21. Desde que o Pedro Bial declarou num dos episódios do BBB, não me lembro qual, que a palavra falada pode ser usada de qualquer forma desde que se faça entender, que o mundo virou de cabeça para baixo. Mas concordo contigo e... tipo... fiquei com a alma lavada, enxaguada e ensaboada de saber... tipo... que não estou sozinho.

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