quarta-feira, 13 de janeiro de 2010


PARA GOSTAR DE LER

Esse é o título de um livro de contos de Clarice Lispector que acho bastante apropriado para o que pretendo abordar nesse post: o gosto pela leitura. Lembro muito bem que tal gosto me foi despertado por um tio avô meu, Tio Cantídio Borjes – Borjes com jota, ele dizia ao se apresentar – que, ao me ver lendo revistas em quadrinhos aos oito anos, disse para minha mãe:
Já que este menino gosta tanto de ler, está na hora de ele começar a ler livros. E, na visita seguinte à minha casa, me trouxe um exemplar de O Saci, de Monteiro Lobato. A partir daí todo um mundo novo – admirável, para citar Huxley – se descortinou à minha frente. E, depois de devorar O Saci em poucos dias, descobri na biblioteca do colégio a Coleção Monteiro Lobato. E foi assim que, um a um, li toda a sua obra. E nunca mais abandonei esse prazer que se tornaria um hábito pra mim. Eu já havia sido picado, contaminado pela febre da leitura. Depois veio Maurice Druon, Antoine de Saint-Exupéry, e o que me caísse nas mãos. De Lucíola a Tereza Batista Cansada de Guerra. Lembro que na época do lançamento do filme O Exorcista, em que Linda Blair fazia a possuída pelo demônio que girava a cabeça 360 graus, encontrei o livro na casa de um outro tio avô em Porto Alegre - Tio Nerinho - e comecei a ler com muita curiosidade, pois não tinha idade para entrar no cinema e assistir ao filme. Quando Tio Nerinho me viu com o livro ficou furioso, dizendo que eu não tinha idade para ler aquela indecência, e tomou o livro das minhas mãos...Como podemos ver, há tios avôs e tios avôs, nem todos são iguais. Quando, aos catorze anos, mudei para Porto Alegre, minha irmã Rita era sócia do Círculo do Livro e aí foi uma festa: todo mês chegavam as novidades que encomendávamos. Alguns nós líamos juntos para poder comentar as aventuras dos personagens. Teve Mutações, da Liv Ulmann, Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach, No Ritmo Dessa Festa, poemas de Bruna Lombardi, O Senhor Embaixador, de Érico Veríssimo, todos os do Gabeira, que voltava do exílio, enfim, de best sellers a clássicos da literatura brasileira e mundial. Teve também Carlos Castañeda, que me apaixonei e mergulhei de cabeça na obra: de A Erva do Diabo a Portas da Percepção, passando por Viagem a Ixtlan e O Segundo Círculo do Poder. Um delicioso misticismo pré-Paulo Coelho. Aliás, sempre me perguntei se não foi de lá que ele tirou suas historias...Teve minha fase poeta: um dia encontrei com Mario Quintana na Praça da Alfândega, em Porto Alegre, me apresentei como tal e ganhei um autógrafo dele me chamando de colega!
Mas tenho uma dúvida: o hábito da leitura é um gosto adquirido ou já vem de nascença? Às vezes acho que faz parte do DNA de cada um gostar ou não de ler. Digo isso porque já fiz como Tio Cantídio: dei livros de presente a crianças que, nem por isso, desenvolveram tal gosto. Mas, como não custa tentar, eu continuo incentivando esse hábito até mesmo em adultos que não lêem...Pois, assim como minha “ídola” Clarice Lispector, acho que tudo vale a pena Para Gostar de Ler.



5 comentários:

  1. Carambaaa um autografo do Mario, que tesouro!!! Realmente ler é uma dádiva que poucos sabem aproveitar!! Adorei o texto...bjin ;@@

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  2. Eu tambem tive a oportunidade de conviver com Mario Quintana enquanto trabalhava no Jornal Correio do Povo e foi mesmo um presente inestimavel......O habito da leitura para mim e um deleite e continua sendo um grande aprendizado. Excelente texto, bj.

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  3. Bob, tenho lido tuas palavras. Me encanta o teu gosto pelas coisas. Isso me inspira e me leva até você. Grande abraço.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Magnique, por estas e mil outras je t'aime.

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