sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Quase Natal, diz o título do post, en français... E eu estou quase na minha cidade natal. Mais exatamente, estou no ônibus que me leva a Passo Fundo, para visitar minha irmã Regina, e, na sequência, irei a Soledade rever amigos e a minha cidade natal... Faz anos que não visito Soledade. Depois que minha mãe faleceu, há quatro anos, acho que é a segunda vez que retorno. Uma torrente de lembranças passa pela janela do ônibus: Cada curva da estrada, cada ponte, cada rio ou montanha. Tudo já visto, muitas vezes, em diferentes épocas da vida, com diferentes olhares e maturidades... A vida passando como uma linha de tempo, nítida, clara, cronologicamente desenhada. O momento presente ligado a todos os momentos passados e caminhando constantemente em direção a um futuro próximo, que se revelará presente e, em seguida, passado também... Não sou muito chegado ao futuro do pretérito, por exemplo. O que poderia ter sido. Gosto do que foi, do que é e do que será, que ainda não sei. Esse mistério, essa possibilidade de materialização do desconhecido é o que move... O trem das cores, de Caetano, me vem à memória. Encontros e despedidas, de Milton. Morro Velho, também de Milton, que eu cantava mentalmente para meu amigo Jorginho, que ia com meus pais me levar na rodoviária toda vez que eu deixava Soledade em direção à cidade grande...Não me esqueça, amigo, eu vou voltar. Some longe o trenzinho, ao Deus dará... Ouço o novo CD de Amy Winehouse no diskman. Quer passado mais presente? Tanto Amy quanto o diskman... E mais um ano termina, cheio de lembranças, viagens, histórias. Para dar lugar a um outro, que irá gerar mais viagens, lembranças, histórias. Se a gente não se falar mais, Feliz Natal e um ótimo Ano Novo!
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Que o Brasil é um celeiro de cantoras todo mundo já sabe. Elas surgem aos borbotões, todos os anos, semestres, meses. Aliás, arrisco dizer que todos os dias surge uma nova cantora. São centenas de novas Gais (adoro esse plural), novas Bethânias, novas Simones e, até mesmo, novas Marisas Montes - que já era uma nova Gal... Mas pouco se fala dos rapazes. E, de mansinho, eles começam a despontar. Eu gosto particularmente de três: Dan Nakagawa, Thiago Pethit e, mais recentemente, Filipe Catto. Três vozes, estilos e timbres completamente diferentes. Em comum, o fato de serem também compositores das próprias canções. Além de excelentes intérpretes. O Dan eu já acompanho há mais tempo. O Thiago, descobri há dois anos. E o Filipe, venho de conhecer, tipo semana passada. Mas já fui ao show, comprei CD, virei fã... Eu, que sempre idolatrei Milton Nascimento, fico muito feliz de ver esses novos talentos surgindo, se afirmando e renovando a cena musical brasileira. Edson Cordeiro, outro expoente da categoria, atualmente brilha em Berlim e adjacências europeias. Ainda bem que existe vida inteligente fora do circuito Luan Santana – Michel Teló...
sábado, 17 de dezembro de 2011
BODAS DE ALGODÃO
Hoje meu blog está completando dois anos de existência. São as nossas bodas de algodão. E a nossa relação está cada vez melhor. Penso nele todos os dias. Quando vejo coisas interessantes, fico louco pra chegar aqui e dividi-las com ele... Ando sempre com a máquina fotográfica na bolsa e quase todas as fotos que tiro são pensando em postar aqui... Claro que, como em toda a relação, a nossa tem altos e baixos. Às vezes fico irritadíssimo com ele. Quando, por exemplo, não consigo postar um texto no formato que desejo, ou quando o tamanho da fonte não fica no padrão que estabeleci desde o início da nossa relação. Detesto quando ele GRITA o título do post em um negrito gigantesco... Uma amiga já me disse que essa falta de controle sobre o blog é porque ele é gratuito. Será? Não sei. O fato é que, nesses dois anos, as alegrias e satisfações superam largamente os desagrados. O número de seguidores aumentou significativamente do ano passado pra cá. Os comentários diminuíram. E isso também se deve a um descontrole, pois mesmo seguidores que antes conseguiam postar seus comentários, não conseguem mais. Mas, tudo bem, porque eles comentam pelo Facebook ou por e-mail. O número de visualizações também aumentou bastante. Já são mais de vinte e duas mil! Gosto de ter o blog porque me sinto conectado com o mundo. Adoro a idéia de jogar opiniões em um lugar que sempre será visto por alguém. Sinto-me integrado, participante. É, também, um desafio para mim. Afinal de contas, sempre tenho que ter assunto. E, para tanto, preciso estar ativo, por dentro, informado. Gosto da idéia de divisão que ele me dá: Tudo o que vejo, leio, aprecio, experimento, conheço, eu divido aqui com os leitores. Sinto-me acompanhado. Atenção solitários: Blog é excelente remédio para a solidão! Hoje estou comemorando nossas bodas de algodão: Dois anos de conectividade. Comigo mesmo, com a vida e com vocês, leitores ocasionais e seguidores. Bebo champanhe ouvindo novo CD de Amy Winehouse... Joyeux Anniversaire!
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
SEU ZARPELLON
Seu Zarpellon era fotógrafo. O fotógrafo de Soledade, minha cidade natal. Mais do que isso, ele era a memória da cidade. Todo o que acontecia, ele registrava. E o que acontecera no passado, também. Seu estúdio ficava em frente à praça, bem no centro da cidade. Era uma pequena casa de madeira, no fundo do terreno do prédio no qual ele morava. Entrava-se pela garagem do edifício, que ele transformou numa espécie de galeria, onde fixava quadros com as fotografias dos últimos eventos da sociedade. Sempre que íamos passear na praça, dávamos uma passada por lá para saber das novidades. Uma espécie de coluna social ilustrada... Cada vez que ia tirar uma foto, Seu Zarpellon ficava um tempão dirigindo os modelos. O que deu origem à expressão: Vai, Zarpellon! Usada sempre que alguém demorava demais para bater uma foto... Sua filha Marília foi minha professora de história no ginásio. Eu adorava a Marília. Ela era interessantíssima. A única pessoa que eu conhecia que já havia feito várias viagens à Europa... Um dia, numa das minhas visitas à Marília, pedi ao Seu Zarpellon que posasse para mim. Já que ele fotografava todo mundo, eu queria ser a pessoa que iria fazer o mesmo com ele. Então subimos no terraço do prédio, onde fiz a foto que ilustra o post... A maior parte dos retratos de família que tenho foram feitas por ele. Tenho especial carinho por um que ele fez da minha mãe, fantasiada de cigana no carnaval. Fez a foto em preto & branco e depois coloriu-a à mão. Hoje ela está emoldurada e tem lugar de destaque na sala da minha casa... Adoraria ter acesso aos arquivos do Seu Zarpellon, espécie de google images da época. Aliás, onde estará guardado tal tesouro?
Na foto, Seu Zarpellon contempla Soledade do alto do seu edifício.
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
NATALIZAÇÃO PRECOCE
Adoro o Natal e desde criança essa sempre foi a minha época preferida do ano. Mais do que a data em si, com os presentes, a decoração, a família reunida, as comidas deliciosamente diferentes, o que me encantava e continua encantando era a chegada das férias e do verão. Fim de um ano e início de um outro, cheio de expectativas e sonhos a realizar. Eu fico muito mais feliz nesse período em que os dias são mais longos, as noites agradáveis, todo mundo fica muito mais à vontade no verão do que no inverno, escuro, frio e fechado por natureza. Mas o que tem me irritado bastante, de uns tempos pra cá, é o que chamo de natalização precoce. Com o explícito intuito de incentivar o consumo, começa-se a viver o Natal cada vez mais cedo! Gente, pelo amor de Deus, esse ano já tinha enfeites de Natal no mês de outubro! Quer dizer, o Papai Noel ainda nem pensou em entrar na chaminé e o Natal já está sendo gozado... Outra coisa que me irrita sobremaneira é a permanência, em pleno século vinte e um, da reprodução, aqui nos trópicos, do Natal dos países do hemisfério norte. Há tempos atrás, tudo bem. Não se tinha muito acesso à informação e éramos colonizados mesmo, logo, aceitávamos essa aculturação sem muito questionamento. Mas hoje em dia, com a globalização, a internet e tudo o mais, continuarmos representando o Natal com neve, renas e trenós é no mínimo insólito... E o Papai Noel com aquela roupa de pelúcia? Aliás, será que alguma criança com mais de dois anos de idade ainda acredita em Papai Noel? Muitos gostam de destacar, principalmente nas redes sociais, que perdeu-se o “verdadeiro sentido” do Natal e que agora é só consumo. Pois bem: Eu fui criado numa família católica e juro a todos vocês que nunca soube o que vem a ser esse tal “verdadeiro sentido” do Natal. Pra mim, e acho que pra todas as crianças do meu tempo, o sentido do Natal sempre foi ganhar presentes. De preferência coisas mais caras, que durante o ano, nas datas menores, não ganhávamos... E, claro, festejar com parentes, amigos, comidas e bebidas especiais...
E, cá entre nós, não é uma delícia?
Joyeux Noël à tous!
Nas fotos, a Fiesp toda trabalhada no dourado e a reciclagem de pets que adorna a fachada do Conjunto Nacional.
domingo, 11 de dezembro de 2011
O domingo amanheceu nublado e eu não dava nada por ele... De repente se encheu de sol e tudo começou a acontecer! Fui almoçar com minha amiga Adriane Mottola, que está de passagem por São Paulo, e colocamos o papo em dia. Depois fui ao Sesc Belenzinho para assistir ao espetáculo Alguém Acaba de Morrer lá fora, texto do jovem dramaturgo Jô Bilac, de quem já ouvira muito falar, com direção de Pedro Neschling. Adorei. Fico muito feliz quando vejo gente jovem produzindo trabalhos relevantes e de qualidade. Ótimos texto e direção. Pedro revela-se excelente diretor, claro, limpo, seguro, moderno. Como disse minha professora Irene Brietzke ao avaliar a primeira cena que dirigi na faculdade de teatro: Tem postura de diretor. O que, nos dias de hoje, já tem valor de ouro... Sem falar que no elenco está a musa da minha adolescência Lucélia Santos, que vem a ser a mãe do Pedro e está na sua melhor forma, uma menina em cena... O Sesc Belenzinho é um luxo e merece um post à parte aqui no blog. E nos brindou com um entardecer encantador, com direito a por do sol do terraço do café do teatro... Agora escrevo
admirando a lua cheia, que resolveu não deixar por menos e dar um show digno de abafar as luzinhas do Natal, que atravancam a Avenida Paulista e adjacências. O fim de semana foi pródigo em artes cênicas. Na sexta, fui assistir à Dona Fernanda Montenegro com seu solo chiquérrimo Viver Sem Tempos Mortos. O título diz tudo e é exatamente o que a dama do nosso teatro faz desde que põe o pé sur la scène e senta-se na sua cadeira: Vive sem tempos mortos a vida de Simone de Beauvoir e nos leva junto com ela. Só voz, expressão facial, pouquíssimos gestos e uma dicção impecável. Fernanda, do alto dos seus oitenta, não erra uma sílaba. É um luxo em tempos de atores que mal sabem falar... No sábado foi a vez do novo Almodóvar: A Pele que Habito. Sempre amei, idolatrei Almodóvar, salve, salve. Ele está cada vez melhor e mais louco, o que, por si só, já quer dizer melhor. Entendam como quiserem. O que é melhor para uns pode não ser melhor para outros. E deixa eu sair do computador que a lua grita lá fora!
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
JUDY IN RIO...
sábado, 3 de dezembro de 2011
BATE PERNAS...
Adoro bater pernas no Rio de Janeiro, de Ipanema ao Centro, passando por Copacabana com suas riquíssimas fauna & flora. E, claro, seu mundo mineral também... Aliás, esse é um hábito que tenho. Sempre que viajo, gosto de me deixar levar pelas cidades. Programo uma atividade ou lugar que quero conhecer e, a partir daí, acabo indo a vários outros, que surgem ao acaso. E assim, desvendo as cidades... Ao meu modo. Quando vou a lugares turísticos, gosto de observar os turistas estrangeiros que fazem todos os passeios usando aquelas horríveis sandálias de tiras de nylon e grossas solas pretas de borracha, com bermudas, camiseta e mochila. E fico me perguntando: De que adianta conhecer lugares incríveis e sair horroroso nas fotos? Sim, porque ninguém, nem a mais loura e alta das suecas, fotografa bem usando trajes tão deselegantes...Tudo bem, eu sei que é em nome do conforto. Mas, se unissem conforto a um mínimo de elegância, ficaria melhor pra todo mundo... E as gerações futuras, ao admirarem velhos retratos, teriam outra impressão dos seus antepassados... Os espelhos art- nouveau da Confeitaria Colombo, por exemplo, devem contemplar incrédulos a ação do tempo sobre a indumentária dos seus frequentadores... Estive no Centro do Rio, fui ao Paço Imperial, à Colombo em si, ao Convento de Santo Antônio, meu santo de devoção, ao Centro Cultural Banco do Brasil, onde visitei a exposição da Índia e assisti ao espetáculo Não me Diga Adeus, com direção de Gilberto Gavronski e fui também ao Centro Cultural dos Correios, onde estão expostas as fotografias de Brassaï, reunidas na mostra Paris la Nuit.... Ou seja, uma coisa leva à outra e à outra e etc...
Nas fotos, o Largo da Carioca visto do Convento de Santo Antonio, a fachada da Colombo e a colorida rua Primeiro de Março.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
LEME
Se você estiver de frente pro mar, na ponta esquerda de Copacabana, lá no finzinho, fica o bairro do Leme. Ele não é moderno como Ipanema, nem sofisticado como o Leblon. Tampouco esfuziante, como sua feérica e já muitas vezes cantada vizinha, Copacabana. O Leme é discreto, pequeno e charmoso. Quase todos os moradores se conhecem e se cumprimentam pelo bairro. As ruas são mais tranqüilas, sem aquele trânsito constante de carros e ônibus das suas vizinhas. Tem restaurantes charmosos e modernos, como o já aqui citado La Fabrique, e tradicionais, como o Amicci e o Shirley, onde se come os mais incríveis frutos do mar... No início dos anos noventa, quando voltei de Paris e vim para o Rio trabalhar com Luiz Arthur Nunes, morei no Leme, na rua Gustavo Sampaio, que é paralela à Avenida Atlântica. O bom é que da minha janela dava pra ver uma nesga de mar... Clarice Lispector morava no Leme. Nessa mesma rua... É da Pedra do Leme que se tem uma das mais belas vistas da praia de Copacabana. Ela tem esse nome porque, quando vista do alto, tem a forma de um leme de navio. Lá fica o Caminho dos Pescadores, de onde eles lançam seus anzóis ao mar. Lá tem também um senhor japonês de quase oitenta anos que mergulha pulando do alto da pedra e volta por uma corda que deixa amarrada nas pilastras de proteção... Os cachorros dos moradores se encontram, latem uns para os outros, se cheiram e seguem o passeio. No Leme fica o prédio do antigo Hotel Méridien, cuja cascata de fogos iluminava o révéillon de Copacabana. No subsolo do Méridien ficava o Rio Jazz Club, onde assisti, nos anos noventa, ao show da banda paulista Vexame... Sempre vou ao Leme. Se por mais não for, para fazer belas fotos, como essas que ilustram o post. E sempre me vem à memória os versos da canção de Carmen Miranda: Paris, Paris je t’aime, mas eu gosto muito mais do Leme...
Nas fotos, o Leme em si, com o Méridien ao fundo, e o Caminho dos Pescadores.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
ENCORE RIO...
Ainda no Rio. E ele não pára! Sábado à noite teve a inauguração da árvore de Natal da Lagoa, com direito a show de Gal Costa e Frejat e queima de fogos de fazer inveja ao Révéillon. Gal e Frejat vimos/ouvimos do telão, tal a quantidade de gente se espremendo na direção do palco. Mas os fogos foram mesmo de emocionar. Depois, jantar japonês no restaurante Manekineko, o gato da sorte, em Ipanema, deliciosa combinação de sabores que traz a cozinha tradicional japonesa para o Brasil da atualidade com ares de world cuisine. Domingão sem sol, teatro no fim da tarde na Maison de France, com Emilinha e Marlene, musical animadíssimo que transporta espectadores para o auditório da Radio Nacional, onde as disputas de torcidas das duas divas da canção transcorriam aos gritos e ovações. Recomendo! Mas como nada acaba assim, no mais, La Fiorentina para fechar os trabalhos. Sim, ela continua lá, firme e forte na praia do Leme, com Ari Barroso recebendo na claçada, eternizado em bronze para deleite de turistas fotografantes. Como eu, bien sur. Eu comi o Marco Nanini e a Shala, o Rodrigo Santoro. Explico, para desavisados: Os pratos do La Fiorentina levam nomes de atores e atrizes, tá? Escrevo na chuvosa manhã de segunda-feira, que não deu praia. Mas ainda tenho muito o que fazer por aqui. À tout à l'heure!
domingo, 27 de novembro de 2011
MINHA AVÓ
Minha avó materna se chamava Adelaide. Mas todos a chamavam de Laida. Nós, os netos, a chamávamos de Vó Laida. Seu marido se chamava Democratino. Mas todos o chamavam de Democrata. Ou Demo. Nós, os netos, o chamávamos de Vô Democrata. E assim a vida ia passando... Eu adorava passar os fins de semana na casa da minha vó. Morávamos mais ou menos na entrada da cidade e meus avós, no extremo oposto. Digamos que na saída. Então, no sábado depois do almoço eu pegava minha bicicleta Tigrão verde (Depois substituída por uma Monareta vermelha), minha mochila com pijama, escova de dentes, alguma roupa e livros para fazer os temas de casa e atravessava a cidade feliz da vida com a aventura... Tudo era divertido na casa da minha vó. Era uma casa de madeira, de dois pisos. No andar superior, por onde se entrava, tinha o quarto dos meus avós, a sala, um quarto de hóspedes de solteiro e um quarto de hóspedes de casal, onde eu dormia. Uma cama de casal inteira, só para mim! Tinha um armário com espelho na porta e uma cômoda com tampo de mármore. Gostava tanto desse quarto que herdei o armário e a cômoda. Mas, como não tenho espaço para eles no meu apartamento, ficaram com minha irmã Raquél. Descendo a escada chegava-se ao andar de baixo, onde ficavam a cozinha, a sala de jantar, uma espécie despensa e o banheiro, que era separado em sala de banho e toilette... O supra sumo do fim de semana chez-grand-mère era ficar assistindo TV até tarde. Minha avó ficava até o encerramento da programação, o que eu quase nunca conseguia fazer, pois pegava no sono bem antes e ela me levava pra cama no colo. O encerramento da programação da TV era com uma animação de carneirinhos pulando sobre uma criança que dormia e tinha uma musica cuja letra dizia: Já é hora de dormir, não espere mamãe mandar. Um bom sono pra você, e um alegre despertar... Minha vó fumava, bebia e gostava de ler... Ou seja, era todo um universo a se descobrir, sempre encantador. Tinha, no quarto de hóspedes de solteiro, um armário biblioteca, todo envidraçado, onde ela guardava seus livros. Tinha um livro sobre nudismo que eu adorava folhear escondido para ver as fotos das pessoas peladas, o que naquele tempo era praticamente impossível, principalmente para uma criança... Dos livros a que eu tinha acesso permitido, meu preferido era As Aventuras do Avião Vermelho, de Érico Veríssimo. Lembro que numa das aventuras os personagens iam parar na lua e lá tudo era escrito de trás pra frente. E no letreiro da sorveteria, por exemplo, estava escrito Setevros... O café da manhã era outra das minhas atividades preferidas. Minha vó tomava cafés da manhã muito longos, fazendo palavras cruzadas Coquetel. Como ela era craque, fazia as mais difíceis. E eu a acompanhava com minha versão facilitada, para iniciantes, o Picolé... Minha vó tinha guardados pequenos tesouros que eu adorava pedir para que ela me mostrasse. Como a caixinha de música com a bailarina que dançava girando em frente a um espelho. Ou o boneco João Bêbado, espécie de João Bobo que a gente fazia cambalear com um copinho imantado... Quando meus avós fizeram bodas de ouro, toquei órgão na missa: A Sonata ao Luar, de Beethoven, na entrada dos noivos, e a Ave Maria, de Gounoud, na saída... Lembro até hoje do cheiro da minha vó, que eu adorava. Era uma mistura de Maderas de Oriente, da Myrurgia, com cigarro e bafo de pinga. Ah! E uma pitada de talco, da Myrurgia também. Acho que Maja. Ou Promesa... O cigarro que ela fumava era Kissme. Sem filtro... Minha vó nos levava no cinema. Viajava e nos trazia presentes que sempre eram novidades. Pelo menos para nós, que morávamos em Soledade, quase tudo era novidade. Foi com minha avó que conheci São Paulo, aos onze anos... O post está ficando longo e ainda tenho tanta coisa pra dizer sobre ela. Quem sabe no próximo fim de semana. Agora é hora de pegar a bicicleta e atravessar a cidade de volta pra casa...
Na foto, Vó Laida com sua filha Doracy, a minha mãe.
sábado, 26 de novembro de 2011
ALÔ, RIO DE JANEIRO!
E a minha temporada carioca de 2011 começou em grande estilo, com show de Dan Nakagawa e Ney Matogrosso no Studio RJ, filial carioca do paulistano Studio SP. Ambos impecáveis, Dan revisitando antigos sucessos da MPB com roupagem inédita e totalmente autoral. E Ney é Ney... Só de erguer a camiseta revelando uma segunda pele que simula tatuagens, a galera vem abaixo. O ícone do cult pornô movie francês François Sagat desfila pelas areias e ruas de Ipanema. O Mix Brasil, Festival do Cinema da Diversidade Sexual, estreou dia 24 e vai até primeiro de dezembro. Praia tranqüila, brisa amena que sopra do mar. Meu amigo Fred Mallet, devidamente adaptado aos trópicos, faz reviver no seu mais amplo sentido a expressão “Tem francesa no morro”, criando cenários para espetáculo de Gilberto Gavronski, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil... Ainda estou chegando, de mansinho, mas quero assistir pelo menos aos musicais Emilinha e Marlene, na Maison de France, e Judy Garland, o Fim do Arco-íris, no Teatro Fashion Mall. Ainda na linha francesa no morro, fui, com minha amiga Shala Felippi, ao restaurante La Fabrique, que fica no Leme, de frente para o mar, e serve uma interessante mélange das cozinhas francesa e brasileira no melhor clima descontraído chic... O Felice continua agradável, com a gerente me recebendo pelo nome, simpaticíssima, fazendo a gente se sentir em casa. O meu Ritz do Rio. No mais, corridas pelo calçadão, de Copacabana à Ipanema, porque senão não há corpinho que se mantenha... À tout á l’heure!
Nas fotos, Dan & Ney causando e Copacabana vista da pedra do Leme.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
CRÔ
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Nos já distantes anos oitenta os geniais Paralamas do Sucesso profetizaram, na canção que dá título ao post, a nossa triste realidade atual: Está todo mundo falando e escrevendo errado a nossa inculta e bela língua portuguesa... Assaltaram a gramática, assassinaram a lógica, sequestraram a fonética, violentaram a métrica. De tanto programas de humor insistirem em tirar sarro de personagens que falam errado, acabamos nos transformando em uma geração de descendentes de Seu Creysson. A internet, então, veio para sacramentar essa dura e triste realidade pois, por escrito, a coisa ganha ares de regra e passa a ser repetida por todos. Quando parecia que não poderia ficar ainda pior, veio um Presidente da República que também falava errado e aí liberou geral. Oficializou-se o uso inadequado do português. E a primeira pessoa do plural virou definitivamente nóis, ao invés de nós... Hoje vê-se pessoas falando errado em programas de televisão, coisa impensável há não muito tempo atrás. E não estou me referindo a gente do povo, mas a apresentadores. Créditos são escritos errados na tela, sem concordância, sem plural. Aliás, plural é uma coisa tão antiga, alguém ainda se lembra? Não vou nem ousar cobrar o uso correto da crase e da vírgula, o que já seria, nos dias atuais, uma sofisticação reservada a pouquíssimos intelectuais especialmente dedicados a estudar esses requintes de altíssimo nível. Me refiro ao básico: Nos dias de hoje, ao invés de nos dia de hoje. Demais, ao invés de de mais. Em mim, ao invés de nimim. Conosco, ao invés de com nóis. Facílimo, ao invés de facinho. De repente, ao invés de derrepente. E com certeza, ao invés do inacreditável concerteza. Mas seria pedir demais, não?
Mesmo assim, como diria Bilac, amo-te, ó rude e doloroso idioma. És, a um tempo, esplendor e sepultura...
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Acabo de adquirir o novo livro de Danuza Leão, É tudo tão simples. Eu que já estava há dias sem postar nada aqui no blog, me senti completamente inspirado a escrever com o simples manuseio desse novo exemplar da sabedoria e do bom humor dessa mulher que admiro tanto. Cheiro de livro novo é sempre um deleite para o olfato. Mas o livro de Danuza parece exalar perfume francês. Graficamente, o livro é uma festa de cores e elegância, tudo obra de sua filha Pink com ilustrações da neta Rita. Ainda nem li e já adorei! As frases destacadas na contracapa são antológicas, verdadeiras pérolas da experiência de vida aliada à inteligência e ao bom humor. Sou daqueles que esperam ansiosamente o lançamento de seus livros. Conto os dias. Já tinha ido duas vêzes à livraria e ele ainda não havia chegado. Como geralmente são curtos – esse tem apenas cento e noventa páginas – fico primeiro admirando a arte, lendo as orelhas, as frases da contracapa, o índice, e imaginando o quanto irei me divertir nos próximos dias. Ou horas, pois esse acho que se lê muito rapidamente. É o caso de poupar, esticar ao máximo a leitura. Sempre admirei pessoas refinadas, cultas, educadas, viajadas e inteligentes. Danuza reúne todos esses predicados, aliados ao excelente senso de humor, com a leveza e a naturalidade de quem viveu muito. O que faz dela uma pessoa ímpar, daquelas que a gente tem que seguir. Tenho todos os seus livros e a leio semanalmente na Folha de São Paulo. Seu livro de memórias, Quase Tudo, revela um ser humano riquíssimo, com uma história de vida muito interessante, por vezes sofrida, mas sempre engrandecedora. Eu poderia ficar horas falando da minha admiração por essa mulher incrível e do sonho que tenho de um dia conhecê-la e me tornar seu amigo... Aliás, acho que ela já deve conhecer gente demais e, nessa onda de simplificação em que se encontra, nem deve querer fazer mais amizades... Dommage pour moi! O mais próximo que já estive dela foi umas fotos que fiz para a primeira coleção de sua neta Rita Wainer que é estilista. Sim, do alto dos meus modestos um metro e sessenta eu fui modelo por um dia! Fotográfico, evidentemente... Felizmente, quando cheguei agora há pouco em casa com o livro, tinha um Frascatti aberto, geladinho, me esperando na geladeira. Escrevo sorvendo refrescantes goles de vinho branco. Não sei se teria coragem de abrir uma garrafa de vinho só para mim às cinco da tarde... Quer saber? Abriria sim. Para brindar o bom gosto e a elegância de Danuza Leão. Agora dá licença que eu vou ler... À bientôt!
sábado, 5 de novembro de 2011
Minha semana foi pródiga em eventos circenses, o que me deixou melancólico e cheio de recordações... É sempre emocionante esse universo que mistura risco e poesia, emoção e risadas, lirismo e miséria... Logo na segunda-feira fui assistir ao filme de Selton Mello: O Palhaço. O trailler já tinha me pegado bastante, com seu clima Bye, Bye, Brasil, Caravana Holiday, Betty Faria e Fabio Junior no auge da juventude e beleza, saudades de um tempo que já se foi e ainda está tão presente... O filme passeia por inúmeras referências de filmes do gênero, tanto circenses quanto road movies, mas traz muita emoção na exposição e composição dos personagens, tão humanos, tão possíveis, tão reais... Moacir Franco dá um show quase solo em seu monólogo assistido por personagens mudos que parecem atores mudos diante de tamanho virtuosismo. E tem mais: Jorge Loredo, Fabiana Carla, Teuda Bara, Ferrugem, muitos outros e, last but not least, Paulo José. A cena de Paulo e Selton na volta do palhaço Pangaré ao circo é antológica: Quem ainda não havia chorado ao longo do filme, com certeza chora nesse momento... Na quinta fui ao Cirque du Soleil assistir ao espetáculo Varekai. Lindo demais. Já tinha assistido ao DVD do show e acompanhado a minissérie, também lançada em DVD, que mostra o processo de criação desse espetáculo da troupe canadense. Agora estou em Presidente Prudente, interior de São Paulo, onde me apresentarei logo mais à noite com a turnê de dez anos da Terça Insana. Essa minha volta temporária à Terça Isana é quase que uma volta ao circo. Me vejo um pouco como o Pangaré de Selton Mello, na sua crise de identidade... A cada fim de semana uma cidade difrente, públicos diferentes, diferentes experiências e reações. Já estava sentindo falta... Minha ligação com o circo vem da infância. Sempre que ia ao circo chegava em casa e começava a reproduzir tudo o que vira... Meus pais não gostavam muito do programa, então quem me levava era um amigo do meu pai, o Seu Lothar. Íamos, Seu Lothar e eu, sob o frio inverno de Soledade, debaixo de grossa neblina, assistir aos mais mambembes e fuleiros circos que chegavam à nossa cidade... Anos depois, em Paris, tive o privilégio de estudar na École Nationale du Cirque, de Annie Fratellini... Mas há coisas que, se a gente as abandona, depois não tem mais como retomar. Quando já estava morando em São Paulo tentei recomeçar as aulas de acrobacia na Escola do Circo, que ficava ali no final da Cidade Jardim, mas, infelizmente, recomeçar a acrobacia depois de quase dez anos parado quando já se tem trinta anos, fica bem complicado... Dói tudo! Por isso me deleito assistindo ao que outros artistas fazem nessa área da atuação que amo tanto. Varekai foi meu quarto espetáculo do Soleil. O primeiro a que assisti, e nem me lembro o nome, foi quando morava em Paris, no começo dos noventa, quando eles ainda não eram essa multinacional toda e se apresentavam no Cirque d'Hiver, um circo antigo de alvenaria que vale a pena conhecer quando se vai à Cidade Luz. Depois assisti ao de Orlando, La Nouba, de novo em Paris Alegria e, na quinta-feira passada, Varekai em São Paulo... Enquanto escrevo esse texto no meu quarto de hotel do interior, ecoam na minha cabeça os versos: Hoje tem marmelada? Tem sim senhor... Impossível não lembrar também dos álbuns Drama e Drama Terceiro Ato, de Maria Bethânia: Todo mundo vai ao circo, menos eu, menos eu...
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
No meio do caminho tinha uma pedra: O Halloween, dia das bruxas que nada diz da nossa cultura, mas que os brasileiros insistem em copiar dos americanos. A partir de hoje, todos os anos será comemorado em 31 de outubro o Dia D, homenagem ao poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade. Adorei a idéia. Um dia dedicado à poesia. Deveria existir vários! Um para cada poeta: Dia M, de Mario Quintana; Dia C, de Cecília Meireles; Dia V, de Vinícius; Dia A, de Álvares de Azevedo... Um alfabeto inteiro de homenagens aos criadores do sonho, da beleza, da inspiração e do encantamento que tornam a nossa existência um pouco mais palatável... Sem poesia, não dá. Sobretudo nesses tempos que vivemos, em que todos dizem o que pensam e o que pensam que pensam. Principalmente os anônimos, na internet. Poeta anônimo não existe. Ele cria e assina a sua criação. Tempos de crueza e crueldade. De humilhação e de deboche. Tempos discriminatórios que confundem preconceitos com liberdade de expressão. Ou que, pelo menos, tentam confundir... Meu Deus, por que me abandonaste, se sabias que eu não era Deus, se sabias que eu era fraco? Indaga o poeta... A poesia deveria ser obrigatória. Obrigatória, não. Não combina com ela. Estimulada. Indicada. Premiada. Incentivada. A poesia deveria ser patrocinada, para usar um termo bastante em voga. No trabalho, deveria haver a pausa da poesia, assim como a do cafezinho. Na TV, o horário poético, assim como o assustador horário político. E assim por diante. A gente acha tempo pra tanta coisa, já está mais que na hora de abrir uma brecha poética na nossa agenda, mundo, mundo, vasto mundo! Eu não devia te dizer: Mas essa lua, esse conhaque...Botam a gente comovido como o diabo!
Nunca me esquecerei desse acontecimento, na vida de minhas retinas tão fatigadas: No meio do caminho tinha uma pedra, agora tem o Dia do Poeta.
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Há muito tempo atrás, no arco da velha, quando ainda se amarrava cachorro com linguiça, a pressa resolveu desafiar a preguiça para um duelo. A preguiça, que estava sempre cansada, sugeriu à outra que deixasse o duelo para dois dias depois. A pressa, que estava sempre correndo, exigia que fosse no ato. Após consultarem o departamento de meteorologia, a numeróloga e o astrólogo da época, decidiu-se que o duelo ficaria para o dia seguinte. Os pecados capitais reuniram-se e fizeram uma torcida organizada para a preguiça. A luxúria, que tomou para si o título de líder da torcida, aproveitava para levantar a blusa e mostrar os peitos para todos, deixando a inveja roxa de inveja, enquanto a cobiça ficava de olho no troféu. A soberba, como se achava importante, fingia que nada estava acontecendo, mas a ira mal disfarçava que estava puta com a gula, que torcia para que tudo acabasse em pizza... Já a pressa, como nunca tinha tempo para nada, nem mesmo para os amigos, ficou sem torcida nenhuma. Mas, como também não dormia no ponto, mandou releases para todos os meios de comunicação e teve ampla cobertura da imprensa. Foi capa de todos os cadernos de esportes da época e teve até mesa redonda em diversos canais de TV... A justiça foi chamada para ser o juiz, mas, como era cega, pediu à honestidade para ficar de olho. E quando esta gritou: escolham as armas! A pressa teve uma espécie de chilique, rodou a baiana e bradou: não vou sujar as minhas mãos duelando com você, que não passa de um simples pecado capital! Ao que a preguiça lentamente respondeu: e você, é inimiga da perfeição! Em seguida as duas se engalfinharam, os pecados e as virtudes foram entrando no bolo um a um, a coisa foi crescendo, crescendo, tomando proporções gigantescas até que... Foram felizes pra sempre! Moral da história: Passarinho que come pedra sabe o cu que tem!
Essa singela parábola, que encerra em seu conteúdo mensagem tão enobrecedora, fez parte do meu texto de abertura para o espetáculo homônimo da Terça Insana há muito tempo atrás, no arco da velha, quando ainda se amarrava cachorro etc...
terça-feira, 18 de outubro de 2011
DARLENE GLÓRIA
Quando assisti, no começo dos anos oitenta, ao filme Toda Nudez Será Castigada, fiquei imediatamente apaixonado pela atriz Darlene Glória, a inesquecível Geni da versão cinematográfica de Arnaldo Jabor para a peça homônima de Nelson Rodrigues. Eu tinha tanta vontade de saber mais sobre ela, de saber tudo sobre ela, de assistir a todos os seus filmes. Não existia Google, Wikipédia, nenhuma dessas facilidades de hoje e apenas começavam a despontar as primeiras locadoras de vídeo. Sonhava com um ciclo dedicado à sua filmografia no Cine Bristol, pequena sala de cinema em Porto Alegre dedicada a filmes de arte. Foi bem difícil, mas, aos poucos, eu fui descobrindo mais sobre minha diva do cinema. E quanto mais descobria, mais gostava: Que tinha sido vedete no teatro de revista, que bebia, que era louca, que se drogava, tudo me encantava. Depois, soube que tinha virado religiosa e mudado o nome para irmã Helena Brandão. Foi um choque e uma decepção. Mas o amor tudo perdoa e eu segui idolatrando minha musa. No final dos oitenta, acho que lá por oitenta e sete, minha amiga Shala Felipe, então Xala, foi para o Rio de Janeiro para trabalhar na novela Carmen, da extinta Rede Manchete. Quem estava no elenco com ela? Darlene, que retomava a carreira de atriz após o afastamento evangelizante... Não pensei duas vezes: Quando minha amiga Marta Biavaschi disse que ia ao Rio de Janeiro, escrevi uma carta à minha ídola e pedi à Martinha que desse para a Shala entregar. Tempos depois soube, pela Shala, que ela teria dito ser a carta mais linda que jamais recebera. Isso me fez muito feliz. Quem tem ídolos sabe do que estou falando... Não muito depois fui ao Rio e, quando passava de ônibus pela Praça Paris, à noite, vi que estavam gravando uma cena com uma mulher de vestido de noite dentro do chafariz, bem no estilo Anita Ekberg em La Dolce Vita, de Fellini. Dias depois, assistindo à novela, vi a tal cena e feliz descobri que a Anita que eu vira na Praça Paris era Darlene... Recentemente soube que ela filmou com Selton Mello, mas ainda não tive o prazer de assistir. Ao me deparar com essa foto na internet, lembrei dessa antiga paixão e tive vontade de compartilhar aqui... Parece que estou ouvindo agora sua entonação para a fala inicial de Toda Nudez: Herculano, quem te fala é uma morta! Eu morri! Me matei!
Viva Darlene Glória, estrela do cinema brasileiro!
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Há vinte anos atrás eu tinha vinte e oito anos
Há vinte anos atrás eu estava morando em Paris
Há vinte anos atrás eu tinha muitos sonhos a realizar
Há vinte anos atrás eu tinha muitas ilusões...
Há vinte anos atrás eu frequentava aulas de acrobacia na escola de circo
Há vinte anos atrás eu não tinha barriga
Há vinte anos atrás eu não tinha rugas...
Há vinte anos atrás eu não tinha maturidade
Há vinte anos atrás eu não tinha casa própria
Há vinte anos atrás eu era feliz e sabia...
Há vinte anos atrás eu acreditava em todo mundo
Há vinte anos atrás eu não via maldade em ninguém
Há vinte anos atrás eu estava descobrindo o mundo...
Há vinte anos atrás eu não tinha e-mail
Há vinte anos atrás eu não tinha computador
Há vinte anos atrás eu tinha pai e mãe...
Há vinte anos atrás eu chorava a morte de Cazuza
Há vinte anos atrás eu sonhava encontrar o amor da minha vida
Há vinte anos atrás eu estava realizando o sonho de conhecer a Grécia...
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Tem gente que treme ao escutar essa frase. Outros vivem a pronunciá-la. Eu proponho o seguinte: Vamos dar um tempo para certas coisas, modas, expressões e comportamentos que já encheram o saco de tanto que se repetem? Por exemplo: um tempo para os crocs, para os sapatênis, pro gergelim (deixem-no para os passarinhos) e para a calça saruel, que tal? Acho que também já está na hora de dar um tempo para as redes sociais... E o stand up comedy? Vamos sentar para conversar? E que tal se aproveitássemos e déssemos um tempo também para o gerúndio, para os aplicativos do iPhone, para a Grazi Massafera e pra Ivete Sangalo? Elas fazem tantos comerciais que, não raro, passam seguidos dois de uma delas e dois da outra logo na sequência... Da mesma forma, a gente podia dar um tempo para os reality shows, para os programas de auditório, para as mulheres fruta, para o homem picanha (??) e para os termos galera, bora, bora lá, balada, ta ligado e, tipo assim: tipo. Vamos parar de uma vez por todas de falar “na verdade” e “com certeza”? Ah! Vamos dar um tempo pros cabelos do Neymar? E que tal darmos um tempo também para aqueles adesivos de familias na traseira dos carros? Ãh? E homem segurando a bolsa da mulher? Eu adoraria que toda, mas absolutamente to-da a humanidade parasse de fazer aquele coraçãozinho com as mãos! Ave Maria, nem a pomba da paz encheu tanto... Cantores e bandas deveriam ser proibidos de mandar o público sair do chão, tirar o pé do chão e de gritar: Quem gostou faz barulho aeee!!!Vamos dar um tempo para piadas velhas? E cutucadas no facebook, que tal darmos um tempo também? Vamos dar um tempo pro tomate seco? Deixa ele se re-hidratar, depois a gente conversa...Mas, se você fizer mesmo questão de comer algo seco, coma funghi. Ou, sei lá, a Deborah Secco... E o cream cheese na culinária japonesa, vamos dar um tempo? E braços cobertos de tatuagens, como se fosse uma manga? Sejam longas ou curtas, vamos dar um tempo? Ah! Vamos dar um tempo para pastores pregando na TV? E apresentadores de comerciais de varejão, que vendem tudo aos gritos, vamos dar um tempo? Vamos dar um tempo para o sertanejo universitário? Enfim, vamos dar um tempo para tudo o que abunda? E para o que já virou bunda também... E o pagamento? É só pra agosto!
Quase esqueço: Cachorros usando sapatinhos também não dá...
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
Lembra dessa senhora da foto? Não tem importância, como diria minha amiga Agnes Zuliani, no seu personagem Senadora Biônica. Pois ela é Solange Hernandes, a ex-temida chefe do Departamento de Censura da Polícia Fedral. Mereceu até música de Léo Jaime, gravada pelo Ultraje a Rigor, versão de So Lonely, do The Police. Tenho a impressão que desde o fim da ditadura militar no Brasil não se ouvia falar tanto em censura como agora. Eu cresci nesse obscuro período da nossa história. Lembro que antes de começar qualquer programa na televisão, era exibido o certificado de censura na tela, dizendo qual o limite de idade para se poder assisti-lo. Ninguém ligava muito pra isso e lá em casa eu só não podia mesmo assistir à novela das dez. Mas isso porque meus pais dormiam cedo... E também cheguei a pegar, já como profissional do teatro, o temido ensaio geral para a censura, no qual um funcionário da polícia, o censor, determinava se a peça podia ou não estrear. Foram tempos duros, de cerceamento das liberdades, sobretudo da liberdade de expressão, também tão falada hoje em dia. Tem-se usado muito expressões como censura e liberdade de expressão, para se referir a um possível policiamento politicamente correto que estaria tentando cercear humoristas. Ora, era natural que algum tipo de reação surgisse nessa avalanche de mau gosto que parece ter tomado conta do país. Em nome da liberdade de expressão diz-se, escreve-se, posta-se, transmite-se, enfim, propaga-se toda espécie de bobagens e grosserias. A falta de respeito com o próximo foi institucionalizada e qualquer reação de alguém com um mínimo de bom senso passa a ser considerada patrulhamento do politicamente correto. Que saco! Que coisa mais chata! Quando é que vamos nos tornar adultos? “Zoar” pode ser muito engraçado, e até divertido, quando se tem doze anos e se está no colégio. Se a pessoa não tem nada de relevante para dizer, fique quieta! É óbvio que não estou defendendo nenhuma espécie de censura, mas deveria existir algum tipo de controle - não, essa palavra é péssima - algum tipo de filtro ético e estético do que se divulga como bom, inteligente, esperto, descolado ou, sei lá, stand up comedy. Expressão que também não suporto mais ouvir, tal o nível de desgaste e deturpação que já atingiu por aqui. Não há a menor dúvida de que é horrível se tratar a mulher como se trata nos comerciais de cerveja, não há a menor dúvida de que os programas de humor da TV, na sua maioria, são grosseiros, não há a menor dúvida de que nós, brasileiros, somos machistas, preconceituosos e sexistas. Só que muita gente ganha dinheiro agindo assim. E qualquer tentativa de se elevar o nível passou a ser vista como censura da liberdade de expressão. Acho que quem afirma isso com certeza não viveu ou não se informou acerca do que foi o triste período da censura no nosso país. Não se trata de censura ou de ser politicamente correto: Trata-se de bom gosto, de gentileza, de cortesia, de delicadeza, de elegância. Trata-se, senhores, de Educação.
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Noite quente de primavera. Sentado na frente do Ritz, sorvo goles de Baby Chandon. Uma onda doce, de perfume, invade o ar. Primaveras. Jasmins. Damas da Noite... Não é de hoje que me sento aqui. É de muitas primaveras. O aroma de flores me leva pra longe... Soledade nos anos setenta. Porto Alegre nos anos oitenta. Paris nos anos noventa... Ritz em casa, Domênica, boa noite? O motoboy dá a partida. Acelera pra esquentar o motor, súbito odor de gasolina invade a cena, as narinas, a memória. Sou trazido imediatamente de volta: São Paulo 2010. Onde está a poesia? Em um beco grafitado na Vila Madalena. Na dança contemporânea de Jorge Garcia. Na área reescrita, obra em construção no Centro Rio Verde. Na reutilização de espaços. No uso de máscaras. No ato de despir-se delas. No filme Medianeras. Nas futilidades públicas do banheiro de Patrícia Gaspar. No trailler do filme Palhaço, de Selton Mello, que emociona tanto que estou contando os dias para assistir. Eu sigo sonhando com sossego, uma casa modesta numa praia deserta, uma pequena cidade. Paradoxalmente me mantenho na cidade grande. Como aquelas plantas que crescem no meio do concreto. Nas rachaduras dos prédios. Ninguém sabe como nem porquê. Sol entre nuvens. Possibilidade de chuvas. Quer previsão mais vaga?
Outra Baby, por favor. E odor de flores...
terça-feira, 4 de outubro de 2011
A solidão nas grandes cidades é um tema que me atrai, me intriga e me fascina desde os anos oitenta. Sempre quis entender o que leva as pessoas a morarem todas no mesmo lugar e, ao mesmo tempo, se manterem tão distantes. Como imensas massas de seres solitários. O surgimento da internet parece ter elevado essa condição a um paroxismo sem precedentes. Parece ter potencializado o isolamento intrínseco dos seres urbanos contemporâneos. E antes que eu comece a falar besteira, qual filósofo de botequim, vou direto ao ponto: Acabo de assistir ao filme argentino Medianeras, que explora de maneira inspirada e poética o tema que tanto mexe comigo há quase trinta anos. Estamos muito mais próximos uns dos outros do que imaginamos. Nossa solidão roça a do outro o tempo todo, atropela, esbarra, risca, trisca, produz faíscas e eletricidade. Apenas não nos permitimos percebê-lo. Já estamos cansados de olhar para os lados, procurar, buscar, querer descobrir onde está Wally. Quando entramos no elevador mal olhamos pro outro. E, quando dizemos bom dia, é um custo ouvir bom dia de volta. O que vem é um sussurro, um grunhido emitido por obrigação. Pelo convívio involuntário. Que beleza, então, podermos fazer tudo pela internet. Até mesmo se relacionar. Muito mais prático. Limpo. Seguro. Mas chega uma hora que a natureza animal se manisfesta. O instinto se sobrepõe à razão. E algum tipo de feromônio nos empurra uns para os outros. Seja em Buenos aires, São Paulo, Rio de Janeiro, Paris ou Nova Iorque. Solidão é lava que cobre tudo. Como nos versos da canção de Paulinho da Viola, danço eu, dança você na dança da solidão...
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Recentemente vivi uma experiência única. Uma espécie de volta no tempo, como acontece no filme de Claudio Torres protagonizado por Wagner Moura. Fui, no dia 17 de setembro, a Florianópolis para assistir ao show das Frenéticas no Floripa Music Hall. Quem tem mais de quarenta anos sabe de quem estou falando. Ou melhor, do que estou falando. Me refiro ao fenômeno Frenéticas, que tomou o Brasil no final da década de setenta. Eu tinha catorze anos de idade no ano do lançamento do primeiro LP do sexteto, formado por Leiloca, Lidoka, Dudu, Edir, Regina e Sandra Pera. Vivíamos o auge da era disco, aqui no Brasil batizada de discoteca. As meninas fizeram estrondoso sucesso, com vários hits nas paradas e trilhas sonoras de novelas. Lembro que nas festas que fazíamos no nosso apartamento de Porto Alegre, eu e minhas irmãs colocávamos o LP das Frenéticas para repetir na vitrola diversas vezes o lado A, e, depois, diversas vezes o lado B. Diversão garantida. Ninguém ficava sentado. Quem viveu, curtiu. Mas quero falar é do que vivi agora. Ou revivi. Não sei exatamente. Achei as Frenéticas tão vivas, tão atuais, com suas músicas trazendo tanta alegria a uma casa de shows lotada de gente que foi para se divertir e se divertiu muito, que o termo reviver soa inadequado. Tratava-se de algo que estava sendo vivido, vivo. Já assisti a shows de artistas que fizeram sucesso no passado e que agora não passam de uma lembrança difusa do que foram, pálida sombra da glória de outrora. Esse decididamente não é o caso das Frenéticas. Elas estão muito vivas e sacudidas. Senhoras Frenéticas, sim senhor. E é tão bom constatar que a diversão sobrevive, que a felicidade bate à sua porta, que o trem da alegria promete, mete, mete, mete, garante....Tenho a honra e o prazer de ser amigo pessoal de uma delas, Maria Lídia, a Lidoka. Lidoka e eu nos conhecemos durante a temporada da Terça Insana no Rio de Janeiro, entre 2004 e 2005. Nossa identificação foi quase que imediata e, desde então, somos muito presentes um na vida do outro. Irmãos astrais, como ela nos define, pois nascemos no mesmo dia, com alguns anos de diferença. Fiz questão de ir até Floripa conferir o show e foi realmente maravilhoso. Mais do que um show, foi uma festa. A platéia dançou, cantou e se divertiu o tempo todo, em pé, comemorando a alegria de viver. Nada mal em tempos tão bicudos, de crises econômicas, greves e catástrofes naturais, para dizer o mínimo. Nada daqueles shows-truque, com o artista cantando sobre bases gravadas em playback. As Fre mandaram ver com banda mesmo, ao vivo, e uma puta banda, diga-se de passagem. Com direito aos irmãos Mimi e Marcos Lessa, ex-integrantes do Bixo da Seda, e Guto Goffi, baterista do Barão Vermelho. Fiquei louco para vê-las cantar outra vez. Ou melhor, outras vezes. E, a julgar pela resposta que tiveram do público, qualitativa e quantitativamente falando, isso vai acontecer. Sem dúvida alguma.
As Frenéticas tem que voltar!!!
Na foto, minha irmã astral e frenética preferida, Lidoka.
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
Terminei, emocionado, a leitura da biografia de Plínio Marcos, Bendito Maldito, escrita por seu amigo Oswaldo Mendes. Durante todo o tempo que durou a leitura acompanhei com paixão as peripécias desse que foi um dos nossos maiores dramaturgos. Fora toda a importância de Plínio como o homem de teatro que foi, o que encanta nessa obra é conhecer o personagem, o palhaço, o Bobo Plin, como ele se denominava. Uma figura simpática, cheia de causos, de artimanhas, de truques, de histórias, de folclores, de mentiras, de brigas, de solidariedade, de princípios e de muito, mas muito carisma. A história de Plínio é um pedaço da história do Brasil. E o livro ilustra com detalhes interessantíssimos o período que foi marcado pela passagem desse ilustre cidadão santista na cultura, na sociedade e no teatro brasileiros. Do futebol ao samba, da dramaturgia às palestras, da política ao misticismo, da boemia aos cuidados com a saúde, da novela à resistência ao regime militar, da primeira à última página foi empolgante acompanhar a trajetória desse bendito maldito. Sua amizade com grandes damas da cultura brasileira como Pagu, Cacilda Becker e Tônia Carrero. Seu casamento com Walderez de Barros, a sua Dereca. Eu, que só conhecia Plínio Marcos através da força de seus textos no teatro, fiquei encantado com a força que ele teve na vida. Lembro que uma das primeiras peças a que assisti, logo que fui morar em Porto Alegre no fim dos anos setenta, época de censura fortíssima na qual um adolescente de catorze anos como eu não conseguia entrar em nada, foi Dois Perdidos Numa Noite Suja, com Cláudio Marzo e Pedro Veras, no auditório da Famecos, faculdade de jornalismo da PUC, onde minha irmã Rita estudava e pude assistir sem que nenhum segurança me impedisse. Depois conheci Navalha na Carne e Abajur Lilás e isso foi, durante todos esses anos, o que eu soube dele. O curioso é que ganhei esse livro de presente da Grace Gianoukas há quase dois anos e ele estava na pilha de espera para ser lido. Se soubesse que ia gostar tanto, o teria passado na frente. É com grande satisfação que confesso aqui essa minha tardia descoberta do incrível personagem que foi Plínio Marcos. E fico feliz de constatar, mais uma vez, que nunca é tarde para aprender...
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Éramos seis: Meu pai, o Valpides, minha mãe, a Doracy, minhas irmãs, a Raquél, a Rita e a Regina, e eu, o Robertinho. Meu pai e minha mãe se casaram nos anos cinquenta, e sua primeira filha, a Luciara, morreu aos três meses de idade. Depois viemos nós quatro, na sequência: a Ra, a Ri, a Re e o Ro. Nascemos e nos criamos em Soledade. Bem, na verdade eu e a Rita nascemos em Espumoso, cidade vizinha. Mas, como fomos lá só para nascer e, em seguida, voltamos para Soledade, meu pai nos registrou como soledadenses mesmo. Soledade é uma pequena cidade, no interior do Rio Grande do Sul, conhecida como a capital das pedras preciosas. Na verdade, semi-preciosas. Mas eu prefiro chamá-las preciosas, pois, para mim, o são. Os invernos da minha infância em Soledade eram muito frios. Quando a gente ia para a escola de manhã cedo ainda era escuro e o gelo cobria os gramados. Meus pais nos ensinaram, desde pequenos, a respeitar os mais velhos. E nós os respeitávamos, só por serem mais velhos do que nós. Chamávamos de senhor e senhora qualquer pessoa de idade. Se fossem parentes ou professores, então, nem se fala. Pedíamos a benção aos nossos pais, tios e padrinhos. Ganhávamos presentes basicamente em datas como Natal, Páscoa, Dia da Criança e aniversários. Sendo que os de Natal eram os mais importantes, como bicicletas, que sempre tive e tenho até hoje. Meu pai trocava de carro todos os anos e, durante muito tempo, o modelo foi a Variant, da Volkswagen. Das cores mais inacreditáveis. Teve até uma verde metálico, que chamávamos de verde periquito. Meu pai nunca tirava férias. E, portanto, nunca veraneávamos. Veranear, lá no sul, quer dizer ir passar uma temporada no litoral, durante o verão. Por causa disso, só fui conhecer o mar com catorze para quinze anos. E assim mesmo em Capão da Canoa, praia do litoral sul cuja água normalmente era marrom. Todo o primeiro grau eu estudei em escola pública e meus amigos e colegas eram das mais variadas classes sociais. À noite, depois do jantar, o que acontecia entre sete e sete e meia, brincávamos de esconder na frente de casa, onde se reuniam todas as crianças da vizinhança. Era quando aproveitávamos para caçar vagalumes... Durante um bom tempo, minha casa era das poucas que tinham televisão e juntava gente nas janelas para ver. A TV era preto e branco e só pegava a Globo. Ou melhor, a Gaúcha. De cujo slogam lembro até hoje: Puxa, é a Gaúcha! O número do nosso telefone tinha só três dígitos. Ainda sei de cor: 103. O da casa da minha avó era 295. Mas porque eu estou falando todas essas coisas? Ah, já sei. Tudo começou quando parei diante dessa foto da minha família, que está emoldurada e pendurada no corredor da minha casa aqui em São Paulo... Hoje não tem mais meu pai e minha mãe, mas temos novos integrantes: Cunhados e sobrinhos. E, aos poucos, novas famílias estão se formando a partir da nossa. E eu, que era o caçula, estou ficando cada vez mais velho...
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Ontem participei do show comemorativo dos dez anos da Terça Insana, projeto teatral da minha amiga Grace Gianoukas, do qual fui um dos fundadores e no qual permaneci por oito anos. Foi muito emocionante dividir mais uma vez o palco e os aplausos do público com essa trupe que, apesar de mutante, conserva a essência da insanidade e dos princípios norteadores da direção de sua criadora. Muitos atores e atrizes já passaram pela Terça Insana, trazendo diversidade, acrescentando estilos, imprimindo suas marcas e deixando na memória do público as suas criações. Impossível pensar em Terça Insana e não lembrar imediatamente da Irmã Selma, criação de Otávio Mendes, ou da impagável Dona Edith, do camaleônico Luiz Miranda, para citar apenas dois dos inúmeros personagens marcantes que por lá desfilaram. Lembro como se fosse hoje do dia em que estava na minha casa, no ano de 2001, o telefone tocou e era a Grace me convidando para ser o apresentador de um show que ela estava organizando para inaugurar o Next Cabaret, na rua Rego Freitas. Não tinha nenhum cachê, nenhuma verba de produção ou patrocínio. Apenas alguns atores com idéias e vontade de dizer algo através do humor. A coisa cresceu rápida e espontaneamente e o resto da história o Brasil todo já conhece: Um espetáculo de enorme sucesso, que vem lotando teatros de Porto Alegre a Manaus ao longo dessa última década... Eu me sinto muito à vontade para falar da Terça Insana porque, apesar de não fazer mais parte do elenco fixo, ainda me sinto um de seus integrantes. E, mesmo já fazendo quase dois anos que deixei o projeto, as pessoas ainda me abordam como se eu fizesse parte dele. E eu gosto que seja assim. Quando me perguntam: Você não é aquele ator da Terça Insana? Eu respondo, bem orgulhoso: Sou. E foi assim que me senti na noite de ontem, com o teatro Bradesco lotado: Orgulhoso de fazer parte dessa história. Uma história de sucesso. Um marco no humor nacional. Uma retomada de formato e de espaço. Infelizmente, na avalanche que veio de carona no sucesso da Terça Insana, veio muita coisa ruim. Muita cópia fajuta. Gente que imita a forma, mas que não tem originalidade no conteúdo. E toda a forma que é esvaziada de seu conteúdo original fica sem relevância, sem expressão. Encontra-se em toda a parte, até no camelô... De qualquer maneira, o saldo é positivo. Como realizadora e agregadora que é, a Grace sempre acaba trazendo os outros consigo. Mesmo que seja no rastro das suas empreitadas, aproveitando as trilhas que ela abre à faca na floresta da mesmice e das obviedades. Parabéns à Terça Insana pelas suas Bodas de Estanho ou Zinco. Eu acho que são Bodas de Bravura, de Coragem e de Sucesso!