sábado, 5 de novembro de 2011









O CIRCO
Minha semana foi pródiga em eventos circenses, o que me deixou melancólico e cheio de recordações... É sempre emocionante esse universo que mistura risco e poesia, emoção e risadas, lirismo e miséria... Logo na segunda-feira fui assistir ao filme de Selton Mello: O Palhaço. O trailler já tinha me pegado bastante, com seu clima Bye, Bye, Brasil, Caravana Holiday, Betty Faria e Fabio Junior no auge da juventude e beleza, saudades de um tempo que já se foi e ainda está tão presente... O filme passeia por inúmeras referências de filmes do gênero, tanto circenses quanto road movies, mas traz muita emoção na exposição e composição dos personagens, tão humanos, tão possíveis, tão reais... Moacir Franco dá um show quase solo em seu monólogo assistido por personagens mudos que parecem atores mudos diante de tamanho virtuosismo. E tem mais: Jorge Loredo, Fabiana Carla, Teuda Bara, Ferrugem, muitos outros e, last but not least, Paulo José. A cena de Paulo e Selton na volta do palhaço Pangaré ao circo é antológica: Quem ainda não havia chorado ao longo do filme, com certeza chora nesse momento... Na quinta fui ao Cirque du Soleil assistir ao espetáculo Varekai. Lindo demais. Já tinha assistido ao DVD do show e acompanhado a minissérie, também lançada em DVD, que mostra o processo de criação desse espetáculo da troupe canadense. Agora estou em Presidente Prudente, interior de São Paulo, onde me apresentarei logo mais à noite com a turnê de dez anos da Terça Insana. Essa minha volta temporária à Terça Isana é quase que uma volta ao circo. Me vejo um pouco como o Pangaré de Selton Mello, na sua crise de identidade... A cada fim de semana uma cidade difrente, públicos diferentes, diferentes experiências e reações. Já estava sentindo falta... Minha ligação com o circo vem da infância. Sempre que ia ao circo chegava em casa e começava a reproduzir tudo o que vira... Meus pais não gostavam muito do programa, então quem me levava era um amigo do meu pai, o Seu Lothar. Íamos, Seu Lothar e eu, sob o frio inverno de Soledade, debaixo de grossa neblina, assistir aos mais mambembes e fuleiros circos que chegavam à nossa cidade... Anos depois, em Paris, tive o privilégio de estudar na École Nationale du Cirque, de Annie Fratellini... Mas há coisas que, se a gente as abandona, depois não tem mais como retomar. Quando já estava morando em São Paulo tentei recomeçar as aulas de acrobacia na Escola do Circo, que ficava ali no final da Cidade Jardim, mas, infelizmente, recomeçar a acrobacia depois de quase dez anos parado quando já se tem trinta anos, fica bem complicado... Dói tudo! Por isso me deleito assistindo ao que outros artistas fazem nessa área da atuação que amo tanto. Varekai foi meu quarto espetáculo do Soleil. O primeiro a que assisti, e nem me lembro o nome, foi quando morava em Paris, no começo dos noventa, quando eles ainda não eram essa multinacional toda e se apresentavam no Cirque d'Hiver, um circo antigo de alvenaria que vale a pena conhecer quando se vai à Cidade Luz. Depois assisti ao de Orlando, La Nouba, de novo em Paris Alegria e, na quinta-feira passada, Varekai em São Paulo... Enquanto escrevo esse texto no meu quarto de hotel do interior, ecoam na minha cabeça os versos: Hoje tem marmelada? Tem sim senhor... Impossível não lembrar também dos álbuns Drama e Drama Terceiro Ato, de Maria Bethânia: Todo mundo vai ao circo, menos eu, menos eu...


Por isso, senhores, vos peço: Não deixe o circo morrer, não deixe o circo acabar!


Nas fotos, o impressionante número aéreo dos gêmeos de Varekai e os palhaços Selton e Paulo José.

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