terça-feira, 24 de dezembro de 2019

PACTO DE NATAL

Meu amigo Marcel Bahlis e eu, quando ainda éramos bem jovens, fizemos um pacto de Natal. Todos os anos, no dia 24 de dezembro, nós nos telefonaríamos de onde estivéssemos para saber como estávamos. Lembro que no dia em que firmamos esse pacto dissemos: Mesmo que um de nós esteja no Brasil e o outro, nos Estados Unidos. Ou, sei lá, um no Japão e o outro na África. Um dos dois sempre irá ligar para o outro. Depois que fizemos o trato, ainda passamos alguns Natais juntos. Com o tempo, fomos nos afastando sem nunca ligar de fato um para o outro na data combinada. Mas todos os anos, desde então, eu sempre me lembro dele no dia 24 de dezembro. Algumas vezes eu quase liguei. Depois, pensava: Bobagem. Coisa de adolescente. Antes tivesse ligado! Agora, que meu amigo já nos deixou há quase dois anos, não tenho mais para onde ligar... Quando nos conhecemos eu ainda morava em Soledade. Ele morava em Porto Alegre, mas passava as férias na minha cidade, pois a família da mãe dele era de lá. Depois me mudei para Porto Alegre e ficamos ainda mais unidos. Viajávamos juntos, saíamos, fazíamos planos para o futuro. Até que meu amigo, que tinha mar no nome, foi levado por ele... Hoje estou aqui, humildemente tentando contato. Tentando honrar nosso pacto, ainda que com alguns anos de atraso. E desejando que seja, tenha sido, venha a ser um dia, sempre, no mínimo, doce. Pois, como já cantou Caymmi, é doce morrer no mar, nas ondas verdes do mar... Feliz Natal, meu amigo. Eu estou bem, morando em São Paulo, como já sonhava desde então. Sigo atrás dos meus sonhos, já realizei alguns deles, não desisti de quase nenhum. Sempre vou lembrar da gente ouvindo Milton Nascimento, até quando saíamos de bicicleta pela estrada levando meu toca-fitas portátil. Dos nossos porres, das nossas noites de boemia, das viagens que fizemos juntos. Das nossas poesias e romances. Da nossa utopia... E, para terminar citando Unencounter, a versão em inglês da Canção da América, de Milton, “now you left the town and I’m here looking for you”...
Nas fotos, tiradas por mim, Marcel em três momentos: Me servindo uma pizza no quintal da casa da minha mãe em Soledade, fumando no campo durante a lida campeira com meu pai e posando para mim no riacho.

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