quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

ELIS & EU

Um pôster do show Essa Mulher, de Elis. A coleção O Mundo da Criança. O troféu Açorianos de melhor direção de 1988. Alguns porta-retratos sobre o armário dos livros. Muitos livros. Bonecos. Plantas aqui e ali. Uma sombrinha oriental pendurada no teto à guisa de lustre. Cartões postais pendurados na parede. Almofadas. Um tapete branco. Um retrato de Clarice Lispector feito a lápis por uma amiga. Uma canga de praia cobrindo uma antiga poltrona. Um pufe em formato de feijão forrado de veludo com uma pilha de livros de arte encima. Uma TV de plasma fixada na parede. Um armário embutido de madeira pintado de branco. Uma escada guardada atrás da porta. Um sofá-cama. Uma trama de fios ligando aparelhos eletrônicos a um tê. Uma janela com vista para os prédios do outro lado da rua. Haddock Lobo. Dois prédios acima morava Caio Fernando Abreu. Seríamos vizinhos. Um prato de porcelana com a foto de um casal tirada no Pão de Açúcar. Basta de clamares inocência, canta Elis Regina no toca-discos. Ah, um toca-discos. Cadernos de notas. De viagem. Arquivos de computador. CDs. Disquetes. Anotações que não foram utilizadas. Do tipo: “Sabe quando a esmola é demais e o santo desconfia? Quando é bom demais para ser verdade? Quando parece um sonho e você não quer acordar por nada? Pois meu agosto estava sendo assim. Até que acordei e vi que realmente era um sonho. Um sonho que vivi acordado mas, ainda assim, um sonho. Me dei conta de que apesar de velho e vivido eu continuo com a cabeça nas nuvens”... Ou então: “Fui convidado para um evento LGBT. Fiquei pensando no que seria exatamente um “evento LGBT”. E também se eu teria roupa adequada para a ocasião”... Ou ainda uma lista de coisas para fazer em Paris na próxima vez que eu for até lá, cujo título é Paris Prochaine Fois... Fotografias. Nem sei quantas. Os assuntos e épocas todos misturados. Daria um trabalho incrível organizá-las. Nem pensar. Pelo menos eu sei em que caixa estão cada uma delas. Ou penso que sei... A lembrança de um sonho em que eu podia voar. E era muito fácil: Me concentrava, agitava os braços, pegava impulso e voava. A cidade vista de cima. Ruas, avenidas, prédios, monumentos. Minha casa. A da minha infância, em Soledade. As ruas de Soledade. O açougue que tinha uma cabeça de boi na fachada e que eu morria de medo quando era criança. Engraçado, pensei no sonho, já não me amedronta... A praça, a igreja. Tudo lá. No sonho... E eu aqui, no quarto de hóspedes do apartamento. Nas minhas mãos, o livro Elis e Eu, de João Marcelo Bôscoli, que acabei de ler. Um pôster do show Essa Mulher. A coleção O Mundo da Criança. Completa, quinze volumes. O troféu Açorianos de melhor direção de 1988. Basta de clamares inocência...
Na foto, o referido pôster, que guardo desde 1979.

Um comentário:

  1. Bob, que tal o livro do João Marcelo? Vi na vitrine da livraria e o preço me assustou. Como não tinha tempo para entrar e folhear, deixei para uma próxima vez.

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