OH MY BLOG!
Ando muito relapso com o blog. Sim, isso é um pedido de desculpas a quem porventura me ler. E não é que esteja ocupado demais. Pelo contrário, tenho tido tempo de sobra. Não sei se não é justamente esse tempo livre a mais que me silencia. Mais um ano está terminando. Ano que vem vou fazer cinquenta anos de idade. Algo que até bem pouco tempo era impensável para mim. Nada disso é desculpa, eu sei. Preciso me voltar mais para fora do que para dentro de mim. Olhar mais em volta. E, claro, dividir com os leitores as minhas observações. Me preocupar, como disse Fernando Henrique Cardoso à Revista GQ, mais com o que está por vir do que com o que já passou. Mas, que fazer, se sou um saudosista... Hoje mesmo, enquanto cozinhava as comidas para a ceia de Natal de logo mais à noite, tirei do baú um CD da diva Annie Lennox, Medusa, que não escutava há um tempão. E a década de noventa imediatamente voltou à minha cabeça. É claro que estou apontado para o futuro, para os anos dois mil e muitos que estão por vir. Mas não dizem que recordar é viver? Viva o passado e o futuro! Mas, principalmente, viva o momento presente, o hoje, o aqui, o agora. Esse é o nosso maior "presente" nesse Natal. Espero que no ano que vem a gente se veja mais. Se leia mais. Se escreva mais. Se inscreva na vida, na memória dos que estão por vir, na história. Feliz Natal e Feliz Ano Novo!
Na foto, obra do artista Juarez Machado que celebra o amor, o prazer e a alegria de estar vivo.
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
BODAS DE TRIGO
Amanhã, dia 19 de dezembro, o blog vai completar três anos
de existência. Serão as nossas bodas de trigo... Resolvi escrever hoje mesmo,
pois acabo de chegar do almoço de Natal do Ritz com algumas flûtes de champagne
borbulhando na cabeça. Coloquei um dos meus CDs preferidos pra tocar: Ella
Fitzgerald Sings Colle Porter. E achei que seria bobagem esperar até amanhã
para comemorar esse singelo aniversário. Ainda mais nesses tempos apoteóticos
em que só se fala do fim do mundo... Segundo a nomenclatura dos aniversários de
casamento, três anos correspondem a bodas de couro ou trigo. Como prefiro o
trigo ao couro, optei pela segunda possibilidade. Acho trigo lindo, dourado. Um campo de
trigo ao vento, ondulando, não tem como não lembrar de O Pequeno Príncipe, de
Exupéry, quando a raposa diz ao principezinho que recordará de seus cabelos
louros sempre que contemplar uma plantação desses mágicos grãos que simbolizam
a vida. Vida breve, três aninhos apenas, mas repletos de informação, humor,
crítica, memórias, cultura, entretenimento, arte, opinião, experiências
partilhadas, viagens, vivências. Espero continuar alimentando esse blog de
conteúdos interessantes por muitos anos ainda... Espero ter a inspiração comigo, me ajudando a transpor em palavras o que vejo e vivo. E espero ter sempre leitores a
quem possa tocar com minhas divagações... Desejo um excelente Natal e Ano Novo
a todos que por aqui passarem. Que em 2013 a gente possa ser muito mais do que
ter. E no dia 19 de dezembro de 2013 comemoraremos os quatro anos do blog! Se o mundo
não se acabar...
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
VIAGENS
& BIVAR
Já falei inúmeras vezes aqui no blog, mas volto a afirmar:
Adoro viajar e sou fã do escritor Antonio Bivar. Todo tipo de viagem me
interessa: A trabalho, a passeio, de férias, fim de semana, no Brasil, no
exterior, na praia, na montanha, no sítio, enfim, por qualquer motivo e para
qualquer lugar. Até para o ABC! E, quando não estou viajando de fato, viajo na
leitura de Antonio Bivar. Fico esperando, todo mês, sair a revista da Joyce
Pascowitch só para ler sua coluna De Conversa em Conversa. Que, ultimamente,
tem sido de viagem em viagem, pois ele tem relatado suas idas a Londres,
Espanha e França. Adoro também sua biografia da Yolanda Penteado, os Contos
Atrevidos, as primeiras peças: Cordélia Brasil, Alzira Power e Abre a Janela e
Deixa Entrar o Ar Puro e o Sol da Manhã... Mais do que adoro, Bivar é um
escritor com o qual me identifico. E viajar é viajar, seja para onde for. Dos
oito anos que fiquei na Terça Insana, os últimos cinco eu passei viajando em
turnês. Viajava quase todo fim de semana, com uma pequena parada em dezembro e
janeiro. Foi ótimo! Apesar de cansar, evidentemente, pois eram viagens de
trabalho, valeu muito a pena porque conheci quase todo o Brasil e fiz amigos em
diferentes cidades. A temporada de seis meses no Rio também foi maravilhosa,
como a cidade... Adoro ir a Paris todo ano (Esse ano não fui!), fugir para
alguma praia durante a semana e, pasmem, meu dentista até hoje é em Porto
Alegre, apesar de eu já morar em São Paulo há dezesseis anos, só para ter a
desculpa de ir pra lá duas vezes por ano... Se Deus quiser, ainda descolo um
trabalho que me faça viajar muito. Como os do Zeca Camargo ou do Pedro
Andrade...
Nas fotos, Yolanda Cardoso e Antonio Fagundes em cena de Alzira Power e o bar Petit Fer à Cheval, um dos meus preferidos à Paris.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
UMA PRAIA DISTANTE E DESERTA II
Quem segue o blog sabe que um dos meus sonhos de consumo vem sendo há muito tempo uma praia distante e deserta. O II é porque já existe um post aqui no blog com esse título. Pois bem, tenho conseguido realizar um pouco desse sonho nos últimos dias. É que estou passando uma curta temporada em Cananéia, no litoral sul de São Paulo. Com uma rápida travessia de balsa, que não chega a durar nem quinze minutos, já é possível se desfrutar de Ilha Comprida, uma imensa faixa de praia de muitos quilômetros de extensão, cuja única sonoplastia é o barulho das ondas... Há inúmeras outras praias e passeios para se fazer por aqui. Como, por exemplo, a Cachoeira do Pitú, que fica no meio do mato e pode-se mergulhar à vontade. Mas um dos meus programas preferidos é ficar de frente pro mar, sem uma só família, sequer uma criança, sem um único carro com o som ligado a todo volume tocando funk ou axé. Sim, porque quem gosta de ouvir música alto jamais ouve coisa boa. Inimaginável uma boa Ella tocando no talo no som de um carro... Nem ao menos, pasmem!, um vendedor de cerveja... Apenas alguns quero-queros e gaivotas que passam voando.Uma ou outra embarcação pesqueira e ah! De vez em quando um ônibus local que passa levando os moradores da ilha e que tem a praia como avenida... Que sonho morar em um lugar onde o trajeto do ônibus diário fosse uma praia distante e deserta!
Na foto, a vila de Cananéia, vista da balsa durante a travessia.
sábado, 1 de dezembro de 2012
CORINE...
Batem à porta. Corro abrir e não é ninguém. Engraçado, eu poderia jurar que ouvi alguém bater. Agora é o telefone que toca. Atendo e não há ninguém do outro lado. Apenas a linha: __________________________________________________. A caixa de e-mails está vazia. Como vazia e branca está a página do Word na tela fria do computador. Os discos de vinil jazem mudos no armário sem agulha para percorrê-los. Por baixo da porta só passam contas a pagar. Dentro do peito, o coração. Batendo apertado. No calendário, o último dia do penúltimo mês do talvez, quem sabe, último ano. O iPad toca a bela voz de Corine Bailey Rae. A música de Corine me toca. Tateio as palavras querendo tocar alguém. Ou, pelo menos, me tocar. E o pensamento, urdindo tramas, trama em segredo seus planos. Coração leviano. Paulinho da Viola nem sabe o que fez do meu. Girl, put your records on. Tell me your favorite song. O espumante que bebo tem nome sugestivo: Tournée. E eu, louco para entrar em uma turnê, me contento com a taça. Com a garrafa. Não basta... Ou melhor, já basta. Desta bosta. Escrita torta. Logística indireta. Nem lembra dos meus desenganos. Fere quem tudo perdeu. Coração leviano! Nem sabe o que fez do meu... Batem à porta. Desta vez, não abro. Não sou bobo. Nem nada. Sei que lá fora não há ninguém.
Na foto, a bela Corine Bailey Rae.
Batem à porta. Corro abrir e não é ninguém. Engraçado, eu poderia jurar que ouvi alguém bater. Agora é o telefone que toca. Atendo e não há ninguém do outro lado. Apenas a linha: __________________________________________________. A caixa de e-mails está vazia. Como vazia e branca está a página do Word na tela fria do computador. Os discos de vinil jazem mudos no armário sem agulha para percorrê-los. Por baixo da porta só passam contas a pagar. Dentro do peito, o coração. Batendo apertado. No calendário, o último dia do penúltimo mês do talvez, quem sabe, último ano. O iPad toca a bela voz de Corine Bailey Rae. A música de Corine me toca. Tateio as palavras querendo tocar alguém. Ou, pelo menos, me tocar. E o pensamento, urdindo tramas, trama em segredo seus planos. Coração leviano. Paulinho da Viola nem sabe o que fez do meu. Girl, put your records on. Tell me your favorite song. O espumante que bebo tem nome sugestivo: Tournée. E eu, louco para entrar em uma turnê, me contento com a taça. Com a garrafa. Não basta... Ou melhor, já basta. Desta bosta. Escrita torta. Logística indireta. Nem lembra dos meus desenganos. Fere quem tudo perdeu. Coração leviano! Nem sabe o que fez do meu... Batem à porta. Desta vez, não abro. Não sou bobo. Nem nada. Sei que lá fora não há ninguém.
Na foto, a bela Corine Bailey Rae.
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
MACK THE
KNIFE
Na minha
lista de coisas para fazer e ver antes de morrer - ou antes que o
mundo acabe, para ser mais atual – constou durante muito tempo
assistir a um espetáculo de Bob Wilson. Finalmente a minha hora
chegou: Ontem à noite tive a oportunidade de assistir, no Sesc
Pinheiros, a um espetáculo dirigido por ele. Só que, além de se
tratar de uma encenação de Bob Wilson, a peça era a Ópera dos
Três Vinténs, de Bertold Brecht e Kurt Weill, que amo de paixão,
e, como se tanto não bastasse, o grupo era não menos que o Berliner
Ensemble, criado pelo próprio Brecht e sua mulher, Helene Weigel, em
1949. Meu chará Robert é um gênio da encenação contemporânea e
essa sua obra me deixou no mínimo perturbado. Inquieto. Feliz.
Satisfeito. Saciado. Meu Deus, como é gratificante assistir a um bom
espetáculo de teatro! E como é difícil que tal nível de
satisfação seja atingido. Eu falo porque vou à quase tudo e sei
que não é bem assim. E olha que sou bem bonzinho... Seu Mack
Navalha, totalmente desconstruído, reinventado, desfeito e refeito,
é algo como um cabaretier, uma Marlene Dietrich, uma figura
andrógina jamais pensada além do clichê do mafioso, do bandido, e
até mesmo do malandro, na versão brasileira de Chico Buarque. Seu
intérprete, Christopher Nell, é daqueles atores que encantam desde
o momento que pisam o palco. Ano passado eu assisti, em Paris, à
versão da Comédie Française, quase cinematográfica, de tão
realista, e me encantei. Mas, depois dessa essa encenação de Bob,
não tem pra ninguém. É quadrinho, é desenho animado, é Tim
Burton. É expressionismo alemão. Suas figuras são compostas corporalmente nos mínimos
detalhes e nenhuma movimentação sobre a cena é livre ou solta:
Tudo é milimetricamente marcado. Coreografado. E as canções de
Weill... Ah! As canções de Kurt Weill. Várias delas estão no
espetáculo Cabarecht, no qual tenho a honra de dividir o palco com
Cida Moreira e que conto os dias para que volte em cartaz. Cheguei em
casa tarde, o espetáculo dura três horas, mas não consegui dormir.
E mesmo quando deitei, já de madrugada, as cenas e canções ecoavam
na minha cabeça. A atualidade do texto de Brecht chega a ser
irônica, de tão adequada à realidade que vivemos. Como dizem os
versos da canção de abertura, Die Moritat von Mackie Messer:
Tubarões tem muitos dentes e os exibem sem pudor. E Macheath tem uma
faca, mas prefere não a expor. Tubarões no ataque deixam, como
rastro, sangue atrás. Mac põe luvas que não trazem traço algum do
que ele faz... E assim seguimos, sem expor nossas torpezas. Varrendo
a sujeira pra baixo do tapete.
Na foto, o
Mack Navalha do virtuoso Christopher Nell.
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
UM LUGAR NO MUNDO
Será que existe um lugar nesse mundo, um lugarzinho só para mim? Onde eu possa existir sossegadamente, sem ter que interagir muito com quem quer que seja. Aliás, onde eu possa me dar o luxo de só interagir com quem gosto? Um lugar, não sei qual, mas bem diferente da São Paulo onde vivo há dezesseis anos e que tanto já me encantou e me fez feliz. Agora eu gostaria de um pouco mais de tranquilidade. De silêncio, esse artigo de luxo que anda tão difícil da gente encontrar... Eu não gosto de barulho. Não gosto de aglomeração. Não gosto de filas. Não gosto de trânsito nas estradas. De feriados prolongados. Não gosto de shoping centers. De parques nos fins de semana. Não gosto de churrasco. De cerveja. De tecnobrega. Não gosto de pagode. Não gosto de excursão. De cruzeiros. Tenho horror a ir ao cinema em finais de semana. Pavor de salas lotadas de pessoas consumindo refrigerantes, pipocas, balas e amendoins. Falando no celular. Não gosto de celular. Não gosto de ir aos lugares da moda. Não gosto de usar o corte de cabelo da moda. Não gosto de música ao vivo. Não gosto de estreias. Não gosto de shows em estádios. Não gosto de futebol. Não gosto das novelas da Glória Perez. Não gosto de quem faz lobby. Não gosto de fazer lobby. Aliás, não sei fazer lobby. Quando tento, fica péssimo, super falso e desastrado. Não gosto de gente interesseira. De gente falsa. Não gosto de cuidar da vida dos outros. Muito menos, que cuidem da minha. Não gosto de fotos de comida no Instagram. Nem no Facebook. Não gosto do Facebook. Não gosto de gente que fala alto. Que mente. Que joga lixo na rua. Não gosto de muvuca. De barraco. De escândalo. Não gosto de quem grita chupa!!! em dias de jogos. Não gosto que soltem foguetes em dias de jogos. Sobretudo, à noite. Não gosto de quem buzina. De quem para em fila dupla. De quem leva crianças em lugares para adultos. Não gosto de academia lotada. De música de balada tocando alto na academia. Ainda mais de manhã, que é quando gosto de treinar. Não gosto de balada. Ou seja, sou um baita de um chato, neurótico e exigente. E esse mundo não é para mim... Mas haverá, por Deus, esse outro lugar? Aceito sugestões...
Na foto, La Figueira, em Piracaia. Um lugar possível, só que sem internet.
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
ADORÁVEL TATATA
Quem nos apresentou foi meu querido mestre e amigo, o Professor Ivo Bender. Assim mesmo, com letra maiúscula. Professores de verdade, o Ivo e o Roberto Pimentel, carinhosamente chamado Tatata, meu chará. Ontem o Tatata se foi. Nos deixou, pelo que soube, dormindo. Só tenho boas lembranças desse que era mestre não só da enorme cultura que possuia mas, também, da alegria, do bom humor, da comunicação. Suas tiradas eram inesquecíveis e invariavelmente viravam gírias entre os amigos do teatro. Como o "ficaste louca?" Que ele uma vez mandou na minha cara, em Florianópolis, quando eu, em plena praia, disse que gostaria de perder o desejo. E emendou: isso tu não vais perder nunca, nem aos noventa anos! Querido... Quando ia a Porto Alegre com as turnês da Terça Insana, eu nunca dormia sem antes assistir ao seu programa na TVCom, no qual ele circulava pela noite gaúcha distribuindo suas pérolas. Até hoje não esqueço do Tatata virando para um belo rapaz que servia champanhe em um evento e perguntando: o que tu fazes? O rapaz: sou garçon. E o Tatata: Ah... Não és manequim? Adorável. Grande apresentador, jornalista, grande homem das letras, das artes, da vida. Vai com os deuses, Tatata!
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
ELE
VOLTOU
Gilberto Braga está de volta. De forma discreta e
elegante, como é do seu feitio: Ele assina a supervisão de texto da novela das
seis, Lado a Lado. Que prazer encerrar as tardes de primavera, ainda com sol
devido ao horário de verão, assistindo a mais essa obra com o toque de Midas do
meu autor de novelas preferido. A trama e os atores são ótimos. A novela é
interessantíssima, pois mostra como surgiram diversos hábitos e costumes até
hoje muito característicos do Brasil, como o futebol e a capoeira. O surgimento
das favelas, nos morros. O alargamento das avenidas, ao estilo dos bulevares
parisienses. É uma visita ao passado com olhar crítico de hoje em dia. Dá uma
sensação que muito pouca coisa mudou. No bom e no mau sentido. A reconstituição
de época é impecável e possibilita um passeio pelo Rio de Janeiro do início da
República. Como se não bastasse tudo isso, a trama vem embalada por uma trilha
sonora da melhor qualidade. Não consigo deixar de me emocionar com Beth
Carvalho cantando O Mundo é um Moinho, de Cartola, ou Alaíde Costa e Milton
Nascimento em dueto para Me Deixa em Paz, do antológico álbum Clube da Esquina.
Milton Gonçalves e Lázaro Ramos são dois grandes atores, vê-los contracenando é
como assistir a uma aula de interpretação. É no mínimo reconfortante em tempos
de remakes e Glória Perez...
Na foto, Gilberto em si, como veio ao mundo.
sábado, 20 de outubro de 2012
EXAGEROS
Eu sei que exagero um pouco. Mas não consigo deixar de sentir uma certa onda de exageros no ar. Na cidade. No país. Na internet. Tá, no mundo. Divergências demais, concordâncias demais. Redes sociais demais. Em relação a qualquer coisa, qualquer assunto, opiniões muito exacerbadas. Seja a respeito de política, futebol ou televisão. Cultos desmesurados a uma determinada novela. Críticas desmesuradas a essa mesma novela. A esse ou àquele partido ou candidato. Fala-se demais, faz-se muito barulho por nada. Ou por o que quer que seja. Compra-se muito. Viaja-se muito. Ouve-se música muito alto. E como fala-se alto! Na rua, no ônibus, no restaurante, no cinema, no teatro. Usa-se muito o celular. Que, evidentemente, fica ligado no silencioso durante qualquer ocasião. Há exageros na moda, na gastronomia, na enologia. As saias estão curtas e justas demais, os saltos, altos demais. Os cabelos, lisos demais. Os corpos, sarados e tatuados demais. As caras plastificadas demais. Os perfumes são fortes e doces demais. Ta parecendo a música da Maysa: Todos acham que eu bebo demais, que faço anedotas demais... Saudades desse tipo de exagero: O do bom gosto. Maysa. Elis. Cazuza, o exagerado-mor, que seja. Há vinhos demais, uvas demais, terroirs demais, someliers demais, winebares demais. Há cebola roxa demais, fleur du sel demais...Há profissionais capacitados para fazer coisas demais. Outro dia, no Ritz, uma moça me deu seu cartão dizendo ser Personal Organizer... Me disse que, se eu quisesse, ela viria na minha casa e colocaria tudo em ordem: De cuecas a CDs! Também há humor demais, por toda parte: No teatro, nos barzinhos, na TV aberta, na TV a cabo, na rua, na chuva, na fazenda. Há humor no camelô. Se bobear, já tem stand up no sinal, como os meninos que fazem malabares com laranjas... Há carros nas ruas demais. Engarrafamentos demais. As pessoas são importantes demais. Elas tem profissões demais: Basta ler o perfil de qualquer um no instagram: Model, DJ, actor & personal trainer. Ah, tá. Acho que está tudo superlativo. Eu, inclusive.
Na foto, o exagero cult de Jorge Loredo.
terça-feira, 9 de outubro de 2012
LIVRO INSANO
Ando completamente envolvido com mais um projeto insano. Dessa vez trata-se de um livro que estou escrevendo, com o auxílio luxuoso da amiga Paula Dip, sobre a minha experiência na Terça Insana. O que, por sua vez, acaba sendo um pouco a história da própria Terça Insana, já que eu estava lá desde o primeiro dia e lá permaneci por oito anos. Eu já havia começado a registrar a minha história insana há anos atrás, quando estávamos viajando com a nossa primeira turnê. Depois engavetei. Depois, retomei. E esse ano, após vários engavetares e desengavetares, retomei os trabalhos encorajado pela Paula. É que comentei com ela, em uma das nossas idas ao Ritz, sobre o proto livro que engavetara e ela prontamente se dispôs a le-lo e me dar o seu parecer. Após sua apreciação dos meus escritos, Paula me disse que dava samba e pus, sob a sua orientação, mãos à obra. Retomei a escrita, passei a recolher material, fotos e depoimentos das pessoas que de alguma forma se envolveram, direta ou indiretamente, na história da Terça Insana. O processo tem sido muito interessante e tem me absorvido quase que completamente. Estou retomando o contato com gente que não via há um tempão, relembrando fatos, histórias, risadas, brigas, viagens, descobertas y otras cocitas más. E boas. Hoje, por exemplo, passei boa parte da tarde na companhia de Angela Dippe, colhendo seu depoimento. Lembramos pessoas queridas, fizemos um mergulho no passado e, acima de tudo, rimos muito. Já estive também com Carlos Eduardo Miranda, Cida Moreira e Cecília D'Antino. Outros tantos já me enviaram seus depoimentos por e-mail. A própria Grace Gianoukas, criadora e diretora do projeto/espetáculo, já me enviou vasto material e prepara seu depoimento. Outros ainda, estou no pé porque não mandam nunca... Mas acho que no final das contas vai ficar muito legal. Dou notícias aqui no blog... Ah! E aceito sugestões para o título do livro, ok?
Na foto, feita nos primórdios do Next Cabaret, o elenco original.
terça-feira, 2 de outubro de 2012
OUTUBRO
O mês de outubro chegou! Chegou com sol e calor. Outubro chegou trazendo esperanças. Chegou com muitos Miltons reeditados em coleção à venda nas bancas. Com Naras que vem desde setembro. Com a despedida de minha irmã Rita, que voltou pra sua casa em Miami. Minha irmã Regina em Brasilia, minha irmã Raquél na Califórnia, uma verdadeira diáspora de irmãs... Eu sigo em São Paulo outubro a dentro. Esse mês que prenuncia a chegada do verão, do fim do ano, das festas. Outubro já vem florido, na cidade inteira as flores espalham seu colorido. Seus aromas. Tem a nova Praça Roosevelt, recém inaugurada pós-reforma interminável. Tem remake de Guerra dos Sexos, tem a série Em Terapia, de Selton Mello. Tem as eleições para prefeito e vereador, nunca foi tão difícil escolher um candidato, mas, o que fazer, é o que temos para o momento... Os judeus do prédio ao lado entoam cânticos em uma espécie de barraca que armam todo ano nessa época. Fico feliz quando vejo essa barraca sendo montada: Me faz lambrar que vem chegando o verão. E um calor no coração... Setembro não ficou devendo nada, tivemos o Weidy dançando o Bolero de Ravel com o Bèjart Ballet de Lausanne, Philippe Decouflé com seu incrível Octopus, nossa amiga Ciça Meireles dançando Debussy em recital de Ines Stockler no Masp, o mesmo Masp nos mostrou Caravaggio e seus seguidores, deixa ver o que mais, ah!, teve o Cabaret da Claudia Raia, mas esse, abafa o caso...Teve a ópera Pelléas et Mélisande no Municipal, com cabelos e visagismo do meu amigo Cabral. Vinho & papos com Paula Dip. Ou, como dizia Caio, Deep. Infelizmente, setembro nos levou a queridíssima Hebe Camargo... A vida é assim mesmo, fazer o quê! Mas chega de falar de setembro. Outubro acabou de entrar com tudo e mal posso esperar por novembro e dezembro... Uma leitora do blog comentou que adora quando fico melancólico. Pois bem, acabou a fase mágoa. Adentro o novo mês no melhor estilo Polyana, assim uma Regina Duarte de tão catito... Já nadei mil metros pela manhã e aqui em casa Milton segue cantando: Ah, jogar o meu braço no mundo, fazer meu outubro de homem, matar com amor essa dor...
Na foto, euzinho desfrutando o sol de setembro.
terça-feira, 25 de setembro de 2012
TEM DIAS QUE A GENTE SE SENTE...
E não é? Tem dias que a gente se sente mesmo. Tudo está bem, tudo está lindo e a vida até parece de fato com aquelas imagens belas e felizes que a gente vê postadas nas redes sociais. Mas, como já cantou Chico, tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. Sem saber como se encaixar na realidade. Parece que não tem lugar pra gente nesse planeta. Nesse país. Nessa cidade. Nessa casa... Aí eu não consigo entender mais nada. No prédio ao lado, fazem uma poeira e uma barulheira infernais para trocar as pastilhas da fachada por tijolinhos. Era mesmo imprescindível? Ligo a TV pela manhã e fico pensando se a Ana Maria Braga não é um personagem do Cirque du Soleil que fugiu do Varekai sem tirar a peruca nem a maquiagem. A tarde cai e vem aquele aperto no peito, uma angústia que só começa a aplacar depois do segundo drink. Para dar lugar à paranóia que imediatamente se instala no seu lugar: Estou virando alcólatra? Ou, pior, será que eu SOU alcólatra? Influenciado pela leitura das crônicas de Caio Fernando Abreu, ouço Nara Leão. Eu, que sempre gostei de cantoras com vozeirão, nunca havia parado para apreciar a delicadeza da voz de Nara. E não é que ela nos ajuda mesmo a levar? Tem dias que só com gelo e Nara... Aí sim, a gente se sente como quem voltou ou viveu!
Na foto, Narinha em si.
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
NOS JARDINS NÃO EXISTE HAPPY HOUR
Subo e desço a Augusta. Faz horas que acabou a energia. Estou sem telefone, internet, televisão. Nem ler eu posso, sem iluminação. O Ritz só abre às oito. Criolo já cantou: Não existe amor em SP. Pois eu digo: Não existe happy hour nos jardins. Aquele café da Livraria Cultura, no Conjunto Nacional, é bacana mas está sempre cheio. E lá não pega direito o celular. Nem a internet. Entro na Lanchonete da Cidade. Me sento a uma mesa. Peço vinho. Ligo o ipad. A moça da mesa ao lado fala ao celular com um sotaque tão gaúcho que, por um instante, chego a pensar que estou em Porto Alegre. Bah, guria, to com uma dor na minha ciática! Não é ciático? Penso. Lembra Lazier Martins apresentando o Jornal do Almoço, na RBS TV. Lembro de Tatata Pimentel, Ivete Brandalise. Tania Carvalho, minha ídola do sul. Não temos mais Caio Fernando Abreu, de quem eu seria vizinho, pois moro na Franca com a Haddock Lobo. Ele morava na Haddock, quase com a Franca. Há uma conspiração universal querendo me fazer ficar of-line. Nem aqui na Lanchonete estou conseguindo acessar a internet. Que tédio! Não posso nem ficar lado a lado com Camila Pitanga... Aposto que os bares do Centro estão cheios de gente happy. Nessa hour em que ninguém aqui nos jardins parece fazer nada...
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
A VIDA GRITANDO NOS CANTOS
É justo uma pessoa que está às vésperas de completar cinquenta anos abrir a janela e só enxergar um muro e uma parede? Onde foi parar o horizonte, a perspectiva do sonho, a possibilidade de olhar mais além? Quando se tem trinta anos e se está deslumbrado com a cidade, o trabalho, as pessoas, isso passa batido. Em casa, é onde menos se fica... Não se tem tempo para o cotidiano, o dia a dia não interessa, não se para para viver os dias, tão ocupado se está em viver os anos... Agora, que os anos já foram vividos, os instantes precisam ser desfrutados: As nuances de cada momento. A cor das horas, que mudam o céu à medida que passam. Você não pode levantar os olhos do livro que está lendo e dar com a parede a menos de cinco metros. É aprisionante. Redutor. Sobretudo quando se está lendo as crônicas de Caio Fernando Abreu. E a vida, bem, a vida... Gritando nos cantos!
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
ABOMINAÇÃO COGNITIVA
Dois queridos amigos me enviaram, um pelo Facebook e outro por e-mail, o vídeo da palestra da filósofa Marilena Chauí sobre o alargamento do espaço privado em detrimento do espaço público. Nesse vídeo, Marilena narra, entre outras coisas, sua indignação com a falta de educação de um casal que a destrata em uma agência bancária e xinga a moça de "abominação cognitiva", o que a antagonista, certamente, não tem a menor ideia do que significa. Fiquei lembrando de quando, nos anos oitenta, todos lemos o seu livro Repressão Sexual, na escola de teatro em Porto Alegre. Quem não tivesse lido esse livro, à época, não tava com nada. Era uma espécie de abominação intelectual. Seria mais ou menos como não ter lido Camille Paglia nos anos noventa. Ou, nos dias de hoje, sei lá, não acompanhar a novela Avenida Brasil. Sim, tudo muda... Adorei o xingamento de alto nível! Fiquei mesmo admirado com a intelectual que, mesmo sob pressão, mantém o grau elevado da discussão e não perde a elegância nos argumentos. Logo hoje, nesse mundo estranho onde vivemos e no qual as pessoas desconhecem as regras mais básicas de civilidade e convívio social. Ela diz que basta entrar em um automóvel para a pessoa mais sensata se transformar em um animal selvagem. Eu diria que não precisa nem entrar em um carro, basta que saiam dos seus casulos de segurança com dez mega e wi-fi grátis... É como disse meu amigo Fabio Martinusso ao motorista do táxi que nos levava ao Igrejinha Bar no último domingo. Ao ver o motorista rir sem se conter de uma desmunhecada menos comedida do meu amigo, este exclama: Moço, eu quero fazer um curso para engrossar a voz. E o motorista: É só você gritar logo de manhã, quando acordar, uns dez palavrões que a voz engrossa. Ao que o Fabio retruca: Ai, moço! Eu não falo dez palavrões nem em um ano! Fabio, como Marilena, é uma avis rara. Ou seria uma abominação social? E esse calorão todo que está fazendo em pleno inverno? Seria uma abominação meteorológica? O fato é que vivemos rodeados de abominações de todos os tipos. É só parar pra pensar...
terça-feira, 28 de agosto de 2012
A VELHA
Não acredite no título dessa peça. De velha, ela não tem nada. Muito pelo contrário. Eduardo Esterblitch prova, com mais esse espetáculo, que é a melhor novidade no humor brasileiro. Um vento de originalidade sopra desde que se entra no teatro ao som de uma seleção musical de primeira. E a peça ainda nem começou. Quando o pano abre, o inusitado se estabelece: Trilha, luz, cenário, tudo fala, tudo comunica. Em seguida, entra o primeiro e surpreendente personagem: Uma porca. Ela anda pelo cenário, come, deita, dorme, acorda, anda e come novamente. E, por fim, ela, A Velha em si, adentra a cena. Música, fumaça, ação. Eduardo Esterblitch domina espaço e audiência do momento em que pisa o palco até deixá-lo. Tudo o que faz e diz tem alguma relevância, mesmo que, às vezes, só para ele. Ou para a sua geração. A Velha diverte e puxa as orelhas. Afaga e dá tapas na cara. De qualquer maneira, sacode a mesmice. Eu pensava que Grace Gianoukas era a nova Dercy Gonçalves. Era. Até o surgimento dessa velha. Eduardo é a nova Dercy. Faz o que quer em cena. Abandona e retoma a história ao seu bel prazer. Improvisa. Incomoda. E faz isso com tal habilidade, carisma e timming, que é um enorme prazer acompanhá-lo. Essa velha é muito da safada, também. Bebe, fuma, fala palavrões e dispara sua metralhadora de impropérios para todos os lados. Cutuca com vara curta a burrice estabelecida. E dispara: No meu tempo, quando os jovens queriam dizer alguma coisa, escreviam livros... Bem, no caso de Eduardo Sterblitch, peças de teatro. E essa, ao invés de A Velha, deveria se chamar A Boa Nova...
É imperdível. Mas, se você ainda não foi, perdeu. Ontem foi o último dia...
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
WELCOME, NEW SONG
Eu não podia ter trazido companhia melhor para passar uns dias comigo em Ilhabela (além, é claro, do Weidy recém-chegado de Londres): O álbum Estrela Decadente, de Thiago Pethit. Ele, que já me encantara com seu Berlim, Texas, agora me conquistou definitivamente. Impossível não se deixar levar. Gosto de iniciar a audição pela última faixa: Surabaya Johnny, de Bertolt Brecht e Kurt Weill, que o produtor Kassim transformou em fanfarra que adentra uma pequena cidade anunciando a chegada do Grand Circo. E a função traz artistas ilustres no programa: A cantora Cida Moreira empresta seus graves, agudos e savoir-faire acrescentando ainda mais brilho ao já imperdível espetáculo. A doce Malu Magalhães nos faz lembrar como era bom ter vinte anos e ser feliz... As guitarras nos transportam para os anos sessenta. E Thiago soa, na boa, ora Lou Reed, ora Devendra Banhart. Ora Mutantes, ora Serge Gainsbourg, como sugere, sutilmente, a capa do CD. Jovem poeta, compositor e cantor. Desde Cazuza, quem o seria? Sim, trata-se de uma estrela. Sans aucune décadence... Thiago Pethit é uma boa nova para quem gosta de boa música. Bom saber que ainda se faz música de qualidade. Em um contexto musical estranhíssimo, no qual até Marisa Monte se rende a uma espécie de pop brega, Thiago é luz, é raio, estrela e luar... Aumente o som, abra a garrafa de vinho, jogue um lenço de cores quentes sobre o abajour. Fumaça, copos, cigarros, batom. A festa vai começar. So long, new love. Welcome, new song...
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
FELICIDADE
Enquanto faço meu cooper na areia, observo alguns casais que repousam nas suas espreguiçadeiras. Fico pensando se eles compraram aqueles pacotes que pregam: A felicidade é ficar sem fazer absolutamente nada a não ser encher a pança de cerveja de frente para o mar. Saia da rotina em suaves prestações. Só alegria com traslado e café da manhã incluídos. Incluídos, não. Inclusos, para usar um termo bem comum a essas promoções. As fotos, devidamente postadas ao vivo em todas as redes sociais, com certeza (outro termo bastante usado nesses casos) serão seguidas de comentários do tipo: Ê vidão... Tá loko, só curtindo... Você merece, velho...E por aí vai. À noite, pelo amor de Deus, não marca nada cedo. Só depois da novela. E quer saber? Talvez felicidade seja isso mesmo! Oi oi oi...
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
MAIS QUE A
PAIXÃO
Retomo o
hábito, há muito tempo deixado para trás, de escutar o álbum
Circense, de Egberto Gismonti, que contém uma das mais belas canções
da minha trilha sonora pessoal: Mais que a Paixão. Agora, por
exemplo, estou em Ilhabela, de frente para um céu lindamente
estrelado, ao som dessa canção, me perguntando como pude ficar
tanto tempo sem ouvi-la... Eu tenho, desde os anos oitenta, o LP. Mas
há muitos anos não tenho mais toca-discos e nunca encontrei em CD.
Agora, moderno que sou, tecnológico que me tornei, baixei o álbum
no meu iPad. A canção diz: Não espere de mim nada mais que a
paixão. Como se paixão fosse pouco! Às vezes paixão é,
simplesmente, tudo. Tudo o que se pode esperar. Tudo o que poderia
salvar a vida de uma pessoa. Ilhabela, por exemplo, é amor. Fazia
quase dois anos que não vinha e ela está aqui, linda, perene e bela
na sua constância. O oposto da paixão, inconstante, fugaz, bipolar
eu diria. Mas tão necessária! E a canção segue dizendo coisas
como: A infinita vontade de arrancar de dentro da noite a barra clara
do dia. Isso não é total e completamente paixão? Querer o
impossível, desejar o inatingível, para, logo em seguida, deixar de
querê-lo? Botar fogo na água, nublar o visível, confundir a
compreensão, ofuscar as idéias... E Gismonti prossegue: Não espere
encontrar numa canção nada além de um sonho. Nada além de uma
ilusão. Transposto para a obviedade esvaziada de sentido das canções
de hoje em dia, esse verso provavelmente diria: Não espere encontrar
numa canção nada além de um tchu. Nada além de um tcha. E tchum
tcha tcha tchum tchum tcha! Brincadeira. O vinho já está subindo à
cabeça. E eu espero encontrar muito mais que a paixão nesses dias
em Ilhabela. Às vezes a gente deseja mesmo é arrancar de dentro da
noite a barra clara do dia. Nem que seja em sonho. Ou, quem sabe, em
poesia. Ou talvez numa ilusão...
domingo, 12 de agosto de 2012
TUDO
PASSA...
Dizem
que na vida tudo passa. Até mesmo as uvas! (Desculpem, não resisti). Mas houve
um tempo em que tudo passava – literalmente - em frente à minha casa. Morávamos
na avenida principal de Soledade, que corta a cidade de um lado ao outro. Guardando
as devidas proporções, seria mais ou menos como morar em plena Avenida
Paulista, aqui em São Paulo. Assim, vivíamos em uma espécie de camarote diante
do qual a vida desfilava. Tudo era tão simples... No mês de setembro, um
cortejo de cavaleiros, com seus trajes típicos, passava anunciando as
comemorações da Semana Farroupilha. Havia também o desfile das candidatas à
Primeira Prenda, que vinham sentadas sobre o capô dos carros acenando como
misses. Isso também acontecia no verão, com as candidatas a Rainha das
Piscinas, e quando havia a escolha da Rainha do Baile do Chopp. No Sete de
Setembro eu adorava ver passar a banda do Grupo Escolar Álvaro Leitão, cuja ala
Contos de Fadas, vinha cheia de personagens das histórias infantis. My own Disney Parade... Circos e teatros mambembes anunciavam seus espetáculos com carros de
som, o que continua acontecendo até hoje. Alguns anos atrás eu estava de férias
em Soledade e, ao ver passar um desses carros anunciando uma função para a
noite, Igor, o filho da empregada da minha mãe, que na ocasião devia ter uns
seis anos de idade, me perguntou: Tio Beto, lá em São Paulo tem um carro que
passa anunciando a Terça Insana? Ri da ingenuidade daquela criança, cujas
referências se limitavam ao que passava diante da minha casa. Igor certamente
não imagina, mesmo hoje que já é um jovem, as dificuldades para se divulgar um
espetáculo em uma grande cidade. Mas isso já é outro assunto... Nunca esqueço
de uma corrida de carros que aconteceu em plena avenida. Colocaram cordões de isolamento
nas calçadas e nós, as crianças, fomos proibidos de ficar sobre elas. Eu e meus
amigos subimos na casa e assistimos à corrida de cima do telhado... Mas nada se
compara ao dia em que um elefante passou anunciando a chegada de um circo.
Felizmente deu tempo de correr para pegar a máquina fotográfica e registrar...
Tudo era tão simples, volto a dizer. Vivemos, hoje, a era do espetáculo. Não me
refiro às artes nem ao entretenimento, mas à espetacularização da própria vida.
Não temos mais a vida como ela é. Mas, sim, como ela deveria parecer aos olhos
dos outros. Por que será que isso não me impressiona? Por que não tem a força
do elefante desfilando em frente à minha casa do interior? A avenida continua
lá, testemunhando sabe Deus que atuais cortejos... Aquele tempo passou, levando
consigo os eventos que por lá desfilavam. Eu continuo passando, assim como as
uvas e tudo o mais. E os cães, que ladrem...
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
IGREJINHA
Desde o mês de maio deste ano São Paulo ganhou um lugar agradabilíssimo para se tomar uns "bons drink" com os amigos: O bar Igrejinha, do meu amigo Ricardo K. O ambiente é super descontraído, parece que a gente está em uma festa, tal a quantidade de pessoas legais e conhecidas reunidas. O Ri é aquela simpatia que vem de anos, todo trabalhado na gerência do Ritz: Querido, fofo, atencioso, esperto, ligadérrimo, organizado, eficiente, enfim, japa. Isso sem falar no igualmente querido sócio-gato Eduardo Revi... A decoração justifica o nome da casa, com muitas imagens de santos e símbolos religiosos mas, of cours, com pegada iconoclasta à la Madonna, presença musical constante na trilha sonora da casa. Assim como Hercules and Love Affair e quetais. O Ricardo também é excelente barman e faz o melhor Whisky Sour de São Paulo, na minha opinião. Diz ele que faz o melhor Cosmopolitan, mas isso eu não sei, acho Cosmopolitan muito girlie. Prefiro bebida de macho! Aloka... Eu contribuí modestamente para a decoração da casa com a doação de uma imagem de Santa Maria Madalena, que ganhei da minha amiga Claudia Wonder, que Deus a tenha em sua glória. Certa feita, Claudia tinha montado um enorme altar na entrada de seu apartamento, espécie de santeria que reunia dezenas de imagens dos mais diferentes credos. Sua mestre e guru achou que a presença maciça de santos guardando a casa da amiga a estava oprimindo e pediu à Claudia que se desfizesse do tal altar. Foi quando ela me presenteou com a Santa Maria Madalena, protetora dos artistas, das prostitutas, do povo da noite em geral. Não poderia estar, portanto, em melhor lugar... Não deixe de conhecer o Igrejinha: Fica na rua Fernando de Albuquerque, número 302. É quase em frente ao Mestiço, tem um neon com o nome na fachada, não tem como errar! Sempre que posso eu passo lá para dar uma rezada. E umas risadas também... Bons drink!
Na foto, o incrível Whisky Sour do Ricardo.
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
O DIA QUE BETINA BOTOX FOI A PARIS
Betina não
acreditou quando entrou na aeronave da Air France – classe
executiva – e a aeromoça lhe ofereceu champanhe... Finalmente ela
iria conhecer a cidade com a qual sempre sonhara... Estava tão
ansiosa, nervosa e excitada que, junto com o champanhe, resolveu
tomar um Lexotan. Instantes depois, apagou. Não percebeu a travessia
do oceano, o desembarque, a alfândega, nada. Quando recobrou os
sentidos já estava bebendo com as amigues em um barzinho do Marais.
Estavam todas excitadíssimas com o show de Lady Gaga a que
assistiriam logo mais, à noite. Afff!
Show da Lady Gaga? Não posso perder! Mas, e o ingresso? Indarguiu. Em
seguida as amigues mexeram os pauzinhos e um ingresso, lindo e pink,
chegou às mãos de uma incrédula Betina ainda no jet lag... Mais uns drinks e
barzinhos depois, ainda deu tempo de passarem no apartamento de uma
delas para um rápido esquenta. Betina ficou passada quando viu o
apê da amiga, na rue de Rivoli, com vista para o Hôtel de Ville.
Na sacada, teve surtos estéticos que levaram as amigas a
fotografá-la em ensaio totalmente inaudito! Mais uns
drinks e clics e ela já se encontrava em pleno ginásio, de frente
para o palco, esperando sua diva pop entrar em cena... Mesmo do alto
dos inseparáveis saltos, Betina, pequeninha que era, mal
conseguia ver La Gaga. O que não era problema, pois as outras bees a
erguiam nos braços e ela se deleitava com os modelos escândalo da
cantora... De repente, um empurra-empurra, um desconforto, cutucadas
indesejadas. Pára, não empurra! Não empurra! Não empurraaa... Ei,
garoto, acorda! Betina não acreditou quando viu o condutor
sacudindo-a no último banco do último vagão do trem que a levava
para casa. Como assim? E Paris? E as amigues? E a Lady Gaga? Que mané
Lady Gaga, menino. Eu, heim? Disse o condutor. Você já está em
Itaquera! Aff, ela
pensou. O after foi babado...
terça-feira, 24 de julho de 2012
PÉ NA ESTRADA
Tinha fraturado a falangeta do dedo médio do pé direito saltando sobre um mini-trampolim no treino de ginástica olímpica. Era julho, férias da faculdade. Resolveu ir, com o dedo imobilizado, passar uns dias em Florianópolis, na casa de seu amigo Jorge, que conhecera no último verão. Jorge morava em uma casa art-déco que ficava em uma servidão, que é como chamam em Floripa umas ruazinhas tão estreitas que não passa nem carro... Jorge tinha um namorado chamado Alexandre, que passava a maior parte do tempo com eles. Era totalmente inusitado estar em Florianópolis naquela época do ano, quando, da praia vazia, contemplava os surfistas pegando onda indiferentes ao frio...Com uma cerveja na mão anotava pensamentos em um caderno que comprara especialmente para a ocasião. Pensava em como transformar O Vampiro Lestat, de Anne Rice, em um roteiro para uma peça de teatro... Jorge tinha muitos discos de vinil em casa e foi lá que conheceu My Baby Just Cares For Me, com Nina Simone, e gravou o álum em uma fita K7 à qual chamou Floripa 1989... Floripa de tantos verões, de tantos carnavais, de tantos porres e chapações. Onde uma vez, fumando um baseado com seus amigos do interior foi abordado pela polícia e engoliu o baseado aceso. Liberados na sequência depois de explicações sobre o cheiro de maconha que deles emanava... Floripa do bar do Deco, do Fulanos & Florianos, do carnaval de rua em frente ao Roma... De tantas experiências e intercâmbios com hermanos del mercosul. De natureza sexual, inclusive...Floripa da praia da Galheta, na qual se pode ficar pelado... Sempre gostou de viajar, de sair da rotina. De tempos em tempos seu habitat se tornava opressor, o ar irrespirável, as pessoas inabordáveis, a própria vida, impossível de se viver. Ou, como dizia seu escritor preferido, invivível... Então saía, viajava, pirava, se reinventava e, finalmente, voltava para a vida, para o ar, o habitat, as pessoas. Assim tudo parecia mais leve, plasmável, administrável...
Esse post foi inspirado pel filme Na Estrada, de Walter Salles Jr.
Na foto, Nina Simone, chiquérrima...
domingo, 15 de julho de 2012
DOMINGO
Cidade fantasma. Céu cinza sobre ruas vazias. Asfalto sobre antigos paralelepípedos. Frio de rachar. Folhas secas são levadas pelo vento que uiva acrescentando melancolia ao vazio da cena. Antigas tardes de domingos frios voltam à lembrança. Quando o piano de Keith Jarrett enchia o quarto com vista para o Bom Fim. Ao longe, morros com antenas cercavam a cidade e a imaginação, jovem, sempre além das antenas dos morros... Sonhos eram projetados nas paredes do quarto. Muitos já realizados. Outros ainda por. Ninguém anda nas ruas. Nem um pássaro corta o ar. As crianças saíram de férias. Os adultos parecem ter ido para a praia. Ou para Campos do Jordão. Talvez a gente possa então se amar um pouco mais... Segundo pesquisas, mais de trinta mil brasileiros de classe C já compraram passagens para Londres. Para assistir aos jogos olímpicos. Eu fico. Da janela contemplo. Até que um dia, vou... Não como foi Ana C. Que pulou do sétimo andar. Vou pela porta e com os pés no chão. A cabeça, não sei. Não sou poeta, para voar. Antes da derradeira saída pela janela do sétimo andar, Ana C. teria tentado dar adeus à vida de outras formas. A que mais me impressionou: Depois de tomar uma caixa de tranquilizantes, entrou no mar e foi nadando em direção ao horizonte. Pode haver imagem mais triste e mais bela? Foi salva por um surfista, que a encontrou boiando. Os plátanos são para mim as árvores que mais embelezam o inverno com suas folhas secas caindo até formar tapetes no chão. No vazio das ruas os fantasmas interiores desfilam seu desassossego. Jogam-se pela janela. Voam além das antigas antenas. Nadam em direção ao horizonte. O piano de Keith Jarrett enche a sala, agora em CD. E escrever continua salvando vidas...
Na foto, a bela Ana Cristina Cezar.
terça-feira, 3 de julho de 2012
PRAQUELE LUGAR
Dia
desses li no jornal Zero Hora uma matéria sobre músicas chiclete, que grudam na
cabeça da gente e não saem mais. Não consigo lembrar em que região do cérebro
elas se instalam, aflitivas, e mesmo durante a noite, quando a gente vira de
lado na cama, elas continuam lá, nos torturando o sono. Gostaria muito de poder
bloquear essa região cerebral, blindá-la, instalar uma cerca elétrica ou, pelo
menos, um insulfilme. Nunca me senti tão bombardeado assim. Antigamente era um
Luiz Caldas aqui, uma banda Kaoma ali, nada grave, havia toda uma safra de
Chicos, Miltons e Caetanos para compensar. Mas, hoje em dia, a coisa está
séria, ultrapassou os limites do suportável. Não dá mais para assistir às novelas:
Elas estão em todas as trilhas. Não quero tchu! Não quero tcha!! Li, também, e
isso foi na biografia de Clarice Lispector, que uma pesquisa constatou a
existência de pessoas “amortecedoras”,
para as quais barulhos, cheiros, agitação, provocam leve desconforto, e pessoas
“amplificadoras”, para as quais o volume de todas as experiências sensoriais é
elevado ao máximo, gente que se incomoda com o som do rádio, com a voz das pessoas, com o tempero da comida, com o caráter
berrante do papel de parede. Eu, obviamente, me incluo nessa última categoria,
um amplificador que sonha desesperadamente com sossego, silêncio e paz. Nossa!
Assim vocês me matam... Se juntarmos todo esse lixo sonoro que está bombando as
mídias em um pacote, ou melhor, em um container, tal o volume, ele nem vai valer
um e noventa e nove...E só o que eu desejo é bloquear meu cérebro a essa
invasão ou, sei lá, mandar esse lixo todo praquele lugar...
segunda-feira, 2 de julho de 2012
JULHO ALEGRE
Que delícia entrar o mês de julho vivendo dias de verão em Porto Alegre... Sim, verão. As temperaturas tem se mantido em torno de vinte e cinco, trinta graus, dias de sol e céu azul, noites estreladas e de lua. Os entardeceres de Porto Alegre já são famosos e falar deles seria chover no molhado. Por isso, vou me ater às surpresas que a cidade sempre me apresenta. Logo na chegada fui à estreia do espetáculo Artimanhas de Scapino, no Teatro São Pedro, no qual meu amigo Paulo Vicente interpreta o velho Gerôncio. É sempre bom e gratificante assistir ao Paulo Vicente representar. Sua interpretação tem tamanho frescor que nem dá para dizer que ele já conta mais de trinta anos nos palcos. Paulo é dono de um estilo próprio de fazer comédia e suas criações, não importa qual seja o autor, vem grifadas, com sua assinatura pessoal... No bairro do Menino Deus, a surpresa da vez foi conhecer o restaurante La Taverne du Chat Noir, um simpático sobrado com mesas no quintal, cuja dona, simpaticíssima, entretém os clientes contando suas inacreditáveis histórias de vida... No domingo, mais duas excelentes surpresas: conhecer o teatro do CIEE, maravilhosamente bem instalado no bairro de Higienópolis, e assistir ao show do cantor Tiago Iorc, do qual nunca tinha ouvido falar e de quem já me tornei fã... Sem falar em todos os amigos que estou reencontrando. Olha só quanta coisa! E ainda tenho o resto da semana pela frente! Ah! A lua cheia chega amanhã...
Na foto, Tiago Iorc empunha seu violão.
sábado, 30 de junho de 2012
PARIS PELA PRIMEIRA VEZ...
Você decidiu conhecer Paris? Que bom! É uma cidade
encantadora, pela qual sou completamente apaixonado e fico muito feliz sempre
que alguém decide conhecê-la. Então, aí vão algumas dicas: A primeira delas - para
depois não sair dizendo que os franceses são mal educados - é sempre se dirigir
a quem quer que seja com as seguintes expressões: Bonjour e s´il vous plait.
Pronuncia-se bonjur e silvuplé. Depois, então, você pode dizer – seja em qual
for o idioma - que não fala francês. Eles já serão uns amores, só pelo fato de
você ter se esforçado em dizer bonjour. Isso é muito importante e nós
brasileiros, acostumados a ir direto ao assunto, principalmente quando nos
dirigimos a prestadores de serviços, não estamos acostumados... Se você vai
ficar poucos dias, acho que nem vale a pena ir ao Louvre, pois ele é muito grande
e você certamente vai querer aproveitar seu pouco tempo para ver mais da cidade
luz. No que, aliás, faz muito bem, já que se trata de uma cidade que quanto
mais a gente vê, mais descobre que tem para ver... Prefira o Museu D'Orsay, que
é lindo e não é tão grande, numa manhã você consegue ver tudo. Adoro fazer coisas
bem turísticas como passear de Bateau Mouche. A visão da cidade a partir do rio
é linda. Eles saem todos da Pont Neuf, a ponte mais famosa da cidade, no
coração de Paris, facílimo de achar. Ainda na categoria coisas bem turísticas,
é imperdível assistir a um show de revista no Lido, no Moulin Rouge ou no Crazy
Horse. Ou nos três. Fui a todos e adorei... Ainda me falta o Folies Bergère. Um
happy hour inesquecível? No Le Fumoir. Fica em frente ao Louvre. Nada como
tomar uma coupe de Deutz, meu champanhe preferido, olhando gente do mundo todo
passar... Em Paris você nunca irá beber sem degustar algo. O drink sempre vem
acompanhado de amêndoas ou petites olives... O metro de Paris é um dos maiores
do mundo, é possível se ir a qualquer lugar da cidade com ele. Mas prefira
andar a pé, vale muito mais a pena. Não há nada como se perder nas ruas de
Paris. A gente sempre acaba descobrindo algo que não poderia ter deixado de
conhecer... Para quem esperava dicas incríveis e completamente não turísticas
foi uma decepção. Mas, quer saber? O bom mesmo é cada um descobrir a sua
própria Paris. Esse meu rompante de guia turístico não passa de uma grande saudade de ir visitá-la...
Bon voyage!
Na foto, a Place des Voges, também imperdível, como quase tudo em Paris...
domingo, 17 de junho de 2012
ESTRELAS MUDAM DE LUGAR...
Hoje a Claudia Meneghetti nos deixou. Se ela fosse uma reles mortal eu diria que faleceu. Como era uma estrela, apenas mudou de lugar: Foi para o firmamento, que é onde as estrelas devem estar. A primeira vez que a vi em cena ela já arrasava ao lado de Dilmar Messias interpretando Karl Valentin. Claudinha era uma excelente atriz. Tragicômica. Fazia bem qualquer papel em qualquer registro de interpretação. Um deleite para o diretor. Sem muita explicação, Claudinha, totalmente intuitiva, pegava o "tom" da cena no ar... Que delícia trabalhar com ela. Toda à flor da pele. Um dia chegou no ensaio atrasada, tensa, e me pediu dois minutos para desabafar. Chorou, bradou, reclamou, execrou céus e terra e, num rompante comum às grandes divas, exatos dos minutos depois, enxugou as lágrimas e disse: Agora podemos começar o ensaio... Inesquecível. Outra feita, Ciça Reckziegel, sua parçeira na cena, sofria dizendo não encontrar a emoção da sua personagem. O tempo passando, a Claudia já inquieta, mandou essa : Finge! Adorable... Uma vez fui visitá-la, no seu apartamento térreo da Travessa Cauduro, e umas crianças da escola ao lado, penduradas na janela da sala, gritavam insupotáveis, não nos deixando conversar. Claudinha abriu a janela e soltou o verbo: Saiam daqui! Vão fazer uma coisa da idade de vocês, fumar um baseado, bater uma punheta! Me deixem em paz! Inesquecível... Vou guardar para sempre a imagem da sua personagem Urânia entrando em cena com uma mala estampada de oncinha feita pelo querido Alziro Azevedo. E a Ciça jogada aos seus pés chorando ao som de Maysa cantando Ne Me Quitte Pas...
Foto de Zeca Felipe.
sexta-feira, 15 de junho de 2012
DESIGN
Ele me disse para ficar à vontade. Eu estava com uma certa dificuldade para me sentir assim: À vontade. Disse para eu me sentar. Olhei em volta e não vi nenhuma cadeira. Tudo era tão design. Tão clean. Tão high... Fiquei parado em frente a um objeto me perguntando se ele seria realmente utilitário, algo para, por exemplo, se sentar, ou se seria meramente decorativo. Impossível não lembrar de Danuza Leão e suas restrições a Philippe Starck... Sirva-se de algo para beber, ele disse, agora já se dirigindo para o banheiro. Com essa onda de arrastões nos restaurantes tenho preferido ficar em casa, emendou. E eu, estático diante de tantos recipientes de cristal, tentei decifrar seus conteúdos: Seriam bebidas? Perfumes? Essências? E todos esses objetos, seriam copos? Vasos? Cinzeiros? Ouvi sua voz, vinda do quarto: Gosta de Cole Porter? Sim, tentei me fazer ouvir, intimidado pela suntuosidade decorativa do ambiente. Gosta mesmo ou só está dizendo que sim para me agradar? Redarguiu inquisidor. Quer mesmo saber? Pensei. Não quero agradar você. Essa frase se concluiu no meu pensamento quando eu já adentrava o elevador, que saía da própria sala de estar... Respirei aliviado ao chegar na rua. Entrei no primeiro boteco, sentei-me a uma mesa, dessas bem mesa mesmo, com tampo quadrado e quatro pernas, pedi um uísque que me foi servido em um copo bem copo mesmo, redondo, de vidro, e bebi feliz ao som do velho e bom Roberto Carlos que tocava na jukebox: Nunca mais você ouviu falar de mim...
segunda-feira, 11 de junho de 2012
CARTA
Querido leitor, o que me move a escrever esse post é a saudade. Saudade que sinto do tempo em que escrevia e recebia cartas. Para quem não tem a menor idéia do que estou querendo dizer, cartas eram espécies de e-mails, torpedos, scraps, só que analógicas, escritas à mão em folhas de papel bem fino, envelopadas, seladas e enviadas via aérea correio postal. Ah, e não eram tão breves como as mensagens digitais. Tinha-se tempo de sobra para contar as novidades e, ainda por cima, desabafar. Sim, nas cartas a gente falava da alma. Das inquietações. Dos desejos secretos, conforme a intimidade que se tinha com o interlocutor. Tinha-se uma outra noção da passagem do tempo... Nada era tão fast como hoje em dia. Lembro com que incontida ansiedade esperava a resposta de uma carta de amor... Recortar e colar eram, literalmente, recortar com a tesoura e colar com cola. Fotos, frases, qualquer coisa que se visse em jornal ou revista e fizesse lembrar o destinatário... Quando morei em Paris, no começo dos anos noventa, ainda não havia internet nem telefone celular. Falar por telefone só com a família uma vez por semana, pois era caro. Para os amigos, restavam as cartas. Eu adorava! Algumas eram verdadeiras obras de arte. Lembro que um tempo que sempre dedicava a escrever minhas missivas era o que ficava na lavanderia esperando a roupa secar. Cartões postais também eram outra forma de comunicação bastante utilizada. Em Paris tinha cartões lindos, que à época ainda não havia aqui no Brasil. Eu gostava de escrever na parte de trás do cartão inteira e colocá-lo em um envelope, pois, se utilizasse apenas a parte destinada a escrever, para mim era pouco... Sinto saudade de escolher um belo papel. Saudade de decidir qual envelope usar. Que selo colar. Com que perfume borrifar a carta. Lembro que antes mesmo de entrar para a escola e ser alfabetizado, já escrevia cartas para minhas irmãs que moravam no internato em Cruz Alta e para as colegas delas que conhecia. Eu já sabia o nome de todas as letras e ia ditando para minha mãe o que queria dizer a elas... De uns anos pra cá eu tenho treinado o desapego de tudo o que é material. E isso faz com que a cada ano eu me desfaça de coisas que guardo e não utilizo de alguma maneira. Meio que para liberar espaço na casa. Foi assim que, há uns cinco ou seis anos atrás, me desfiz de toda a minha correspondência, que guardava desde há muitos anos. É claro que algumas – poucas – foram poupadas, como algumas cartas de amor e uma – a única – que meu pai me escreveu quando meu morava em Paris. Alguns anos depois eu me arrependi desse ato intempestivo. Ainda mais agora, que nem se escreve mais cartas. E eu fui ficar sem as minhas... Saudades. No mais, tudo bem. Sigo minha rotina de procurar não ter rotina... E alimento a fantasia de me corresponder com quem quer que seja via blog. Sem mais para o momento, me despeço aguardando ansioso por sua resposta.
Querido leitor, o que me move a escrever esse post é a saudade. Saudade que sinto do tempo em que escrevia e recebia cartas. Para quem não tem a menor idéia do que estou querendo dizer, cartas eram espécies de e-mails, torpedos, scraps, só que analógicas, escritas à mão em folhas de papel bem fino, envelopadas, seladas e enviadas via aérea correio postal. Ah, e não eram tão breves como as mensagens digitais. Tinha-se tempo de sobra para contar as novidades e, ainda por cima, desabafar. Sim, nas cartas a gente falava da alma. Das inquietações. Dos desejos secretos, conforme a intimidade que se tinha com o interlocutor. Tinha-se uma outra noção da passagem do tempo... Nada era tão fast como hoje em dia. Lembro com que incontida ansiedade esperava a resposta de uma carta de amor... Recortar e colar eram, literalmente, recortar com a tesoura e colar com cola. Fotos, frases, qualquer coisa que se visse em jornal ou revista e fizesse lembrar o destinatário... Quando morei em Paris, no começo dos anos noventa, ainda não havia internet nem telefone celular. Falar por telefone só com a família uma vez por semana, pois era caro. Para os amigos, restavam as cartas. Eu adorava! Algumas eram verdadeiras obras de arte. Lembro que um tempo que sempre dedicava a escrever minhas missivas era o que ficava na lavanderia esperando a roupa secar. Cartões postais também eram outra forma de comunicação bastante utilizada. Em Paris tinha cartões lindos, que à época ainda não havia aqui no Brasil. Eu gostava de escrever na parte de trás do cartão inteira e colocá-lo em um envelope, pois, se utilizasse apenas a parte destinada a escrever, para mim era pouco... Sinto saudade de escolher um belo papel. Saudade de decidir qual envelope usar. Que selo colar. Com que perfume borrifar a carta. Lembro que antes mesmo de entrar para a escola e ser alfabetizado, já escrevia cartas para minhas irmãs que moravam no internato em Cruz Alta e para as colegas delas que conhecia. Eu já sabia o nome de todas as letras e ia ditando para minha mãe o que queria dizer a elas... De uns anos pra cá eu tenho treinado o desapego de tudo o que é material. E isso faz com que a cada ano eu me desfaça de coisas que guardo e não utilizo de alguma maneira. Meio que para liberar espaço na casa. Foi assim que, há uns cinco ou seis anos atrás, me desfiz de toda a minha correspondência, que guardava desde há muitos anos. É claro que algumas – poucas – foram poupadas, como algumas cartas de amor e uma – a única – que meu pai me escreveu quando meu morava em Paris. Alguns anos depois eu me arrependi desse ato intempestivo. Ainda mais agora, que nem se escreve mais cartas. E eu fui ficar sem as minhas... Saudades. No mais, tudo bem. Sigo minha rotina de procurar não ter rotina... E alimento a fantasia de me corresponder com quem quer que seja via blog. Sem mais para o momento, me despeço aguardando ansioso por sua resposta.
Beijo
grande, já com saudades, do seu,
Roberto.
quinta-feira, 7 de junho de 2012
ILUSÃO
Uma das coisas mais impressionantes que vem com o amadurecimento é a perda da ilusão. Ou melhor, das ilusões. Impressionante no bom e no mau sentido. Melhor dizendo, em todos os sentidos. O passar dos anos acaba inevitavelmente trazendo a percepção de que nem tudo é de fato como imaginávamos. Como acreditávamos ser. Ou como gostaríamos que fosse... Em vários setores da vida: Pessoal, profissional, afetivo. E no campo das amizades, então, o que dizer? Tem coisa mais decepcionante do que perceber que uma pessoa que você sempre teve em alta conta não corresponde em nada à imagem que você tinha dela? Por um lado é bom, você fica esperto e passa a analisar mais detalhadamente as suas relações. Mas e a tristeza de ver um laço afetivo se romper? Como um vidro que trinca, um véu que rasga, uma névoa que se dissipa... Quando as máscaras caem, o que fica, no máximo, é formalidade, sociabilidade, fachada. Aparência, um arremedo do que antes fora uma relação. Puro teatro. Uma pantomima esvaziada de qualquer sentido. Uma foto para ser postada em redes sociais. Quando percebemos uma outra pessoa no lugar da que amávamos, nada será como antes. Um vaso quebrado, por mais lindo que seja, não fica igual depois de colado. É muito triste perceber que pessoas queridas traem, manipulam, inventam, agem segundo interesses próprios que se sobrepõem a quaisquer outros... Quase tão triste quanto perder entes queridos que morrem. Talvez mais triste ainda, pois trata-se de morte em vida. Nada além, nada além de uma ilusão. Ilusão à toa. Mentira, cansei de ilusões. Mentiras sinceras me interessam. A música popular brasileira está cheia delas. E não apenas nas letras, se é que me entendem... E o que dizer desse poema de Cecília Meireles, que há anos sei de cor? “Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda. Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti. Como sabia bem isso tudo, e dei-me ao teu destino frágil, fiquei sem poder chorar, quando caí”... Perfeito. Quase um hai kai. As desilusões de Cecília certamente não foram poucas...
sexta-feira, 1 de junho de 2012
TREZE TIOS
Meus
avós paternos, que não cheguei a conhecer, tiveram catorze filhos. Meu pai
tinha treze irmãos. E eu tinha, portanto, treze tios...Tia Branca era nossa
vizinha. Sua casa ficava ao lado da nossa, na esquina, e os terrenos eram
divididos por uma cerca de arame que, com o tempo, foi substituída por um muro
de alvenaria. Tia Branca era casada com o tio Arquilau, a quem chamávamos
carinhosamente Quilau. Eles passavam a maior parte do tempo na fazenda e,
quando vinham para a cidade, era uma festa de galinhas, pintinhos, ovos, frutas
e quetais. Uma vez, minha irmã Regina adentrou o quintal da Tia Branca em tal
velocidade que esmagou um pintinho, que nem teve tempo de piar... Quando o
Quilau ia para a fazenda e tia Branca ficava na cidade eu ia dormir com ela. Na
sua cama tinha mosquiteiro! Para mim era praticamente um palco... Nunca esqueço
de uma temporada que passei na fazenda deles e o Quilau me deixou dirigir o
trator... Foi o máximo! Do outro lado da esquina da tia Branca ficava a loja e
a casa do tio Antoninho, que ninguém nunca chamou de Antônio. Acho que herdei
dele esse anátema: Não consigo ser Roberto. Até para as crianças sou
Robertinho... Tiontoninho, como o chamávamos, tinha um armazém de secos e
molhados, a Casa Camargo, onde comprávamos desde mantimentos até ferramentas,
pregos, perfumaria e presentes. Tudo o que comprávamos era anotado na caderneta
e no fim do mês meu pai acertava... Tiontoninho era casado com a tia Célia,
figura ímpar, cuja casa era uma verdadeira mixórdia: Xícaras e pratos guardados
nas gavetas e, nos armários, uma incrível miscelânia de cama, mesa e banho, com
direito à sua gatinha Pitty dando à luz dentro da forma de pudim... Tia Célia
era prendadíssima: Fazia plissé! Ah, e incríveis compotas de tudo o que fosse.
Todo ano, na Páscoa, ela fazia deliciosos bombons de doce de leite recheados
com nozes, que embalava naqueles papéis de bala com franjas e nos levava de
presente. Lembro até hoje do sabor... Tia Morena morava no centro da cidade, em
frente à praça. Sua casa tinha dois andares! O que, para nós, significava um
edifício. Seu marido, tio Luizinho, era mágico e ventríloquo. Eu adorava
visitá-los para tio Luizinho me encantar com seus truques e bonecos. Ele também
colecionava gramofones e realejos, que fazia tocar para a nossa alegria...
Descer com tio Luizinho até seu porão oficina era das mais encantadoras
aventuras que vivia em minha infância. No centro da cidade também morava tio
Matuzalino, a quem chamávamos tio Matinhos. Tio Matinhos fazia visitas
infindáveis ao irmão – meu pai – que dormia com as galinhas. Quando a hora de
ir dormir se aproximava e nada do tio Matinhos ir embora, meu pai soltava
sonoros bocejos e ia fechando todas as janelas da casa. Nós corríamos colocar a
vassoura virada atrás da porta. E nada do tio se tocar... Um pouco mais longe
da minha casa, em direção à entrada da cidade, morava a tia Didi, cujo nome
verdadeiro nem eu nem minha irmã Raquel, a quem telefonei pedindo ajuda,
conseguimos lembrar. Visitar a tia Didi era o máximo porque ela sempre abria
uma gaveta de onde tirava surpresas deliciosas como balas, chocolates e os meus
preferidos: Tijolinhos de banana... Tia Didi era casada com tio Eugênio, que
era marceneiro e tinha uma oficina de marcenaria em casa. Devido a um problema
de artrite ou artrose, tia Didi tinha as mãozinhas engruvinhadas. Já na época
era bem velhinha. Devia ser das mais velhas dos irmãos, senão a mais velha de
todos. Tia Maria José, a quem
chamávamos tia Mozinha, morava em Cruz Alta e era casada com tio Amado. Tudo o que
tia Mozinha fazia para comer era delicioso... Em Cruz Alta morava também o tio
Alcides, casado com tia Esmeralda, que ele chamava de Merarda. Sim, tio Alcides
trocava o “ele” pelo “erre”. Uma vez, quando eu era bem pequeno, ele chegou
para nos visitar dizendo que passara pela Vorta Alegre, ao que o pequeno
Robertinho, implacável, corrigiu: É Volta Alegre! Já o Tio Artino, morava em
uma fazenda, pros lados de Espumoso e era meu padrinho. Quando se desquitou da
madrinha Badina, apelido da tia Garibaldina, tio Artino juntou-se com a Tereza,
que todos diziam que era china (em gauchês, mulher da vida) e que ele tirara da
zona... Eu não sei se isso era verdade. O fato é que lá em casa a Tereza sempre
foi muito bem recebida. Numa das visitas do tio com a Tereza à nossa casa,
minha irmã Rita estava usando aparelho ortodôntico e, ao ver o sorriso prateado
da Ritinha, a Tereza exclamou: Que coisa mais linda! Quero fazer igual nos meus
dentes...Tio Garibaldi também morava em uma fazenda perto de Espumoso e depois mudou-se
para o Paraná, onde também morava tio Fernando, que mal conheci e foi o
primeiro a falecer. Em Espumoso, onde nasci, moravam também tio João Manuel,
tia Leontina e tia Julieta, que foram os tios com os quais menos convivi. Tenho
tanto a mais para contar, mas já está muito longo. Hoje seguem firmes e fortes
apenas tia Branca e tio Matinhos. Ah! Esqueci de dizer: Chamávamos todos de
senhor e senhora e pedíamos a benção a todos eles, assim como a nossos pais. E
o tio Matinhos respondia, quando éramos pequenos: Deus te abençoezinho...Meu
pai já nos deixou há quinze anos, mas tudo permanece vivo na minha memória...
Imaginem a quantidade de primos que eu tenho? Mas isso já é assunto para um
outro post...
Na foto, meu pai e minha mãe, no dia do seu enlace.
quinta-feira, 31 de maio de 2012
REZA
Ando
ouvindo apaixonadamente a música Reza, de Rita Lee. Tão linda. Letra e melodia.
Tão apropriada para os tempos que vivemos. Deus nos proteja! Madonna também
voltou a me encantar com sua Masterpiece. Belíssima melodia e letra, idem. Já
nasce como hit. Deve mesmo ser sofrido amar uma obra de arte. Fixa.
Inacessível. Olhada e admirada por todos. Caríssima... A material girl ressurge
mais romântica do que nunca aos cinqüenta. Eu os estou beirando. Apesar de não
me ver como um homem de cinqüenta. Deus me conserve! Xuxa, que durante anos vem
abusando da nossa paciência, revelou-se abusada em rede nacional. Não faltaram
críticas, de todos os lados. Deus nos defenda! Como
bem cantou Annie Lenox: Some of them want to abuse you, some of then want to be
abused… A Grace
deu entrevista no Jô e o auê não foi menor: Deu pano pra todas as mangas.
Curtas e longas. É incrível a prontidão com que todos se lançam a atacar todos.
Deus nos dê forças! Ando tão sem inspiração para escrever. Deus me ilumine!
Ando tão avesso a barulho, agitação, perigo e multidões, Deus me guarde! Mas,
acima de tudo, vivo contente e feliz com o que faço, vivo, realizo, sonho,
imagino, deliro... Deus me abençoe! E por tudo o que fazemos, por bem ou por
mal, Deus nos perdoe!
Na foto, Rita praying.
quarta-feira, 23 de maio de 2012
PALAVRAS
Encantamento. Descoberta. Experiência. Aprovação. Bom proveito. Decepção. Esquecimento. Ilusão. Desilusão. Troca-troca. Escaramuça. Tardiamente. Sorrateiramente. Inesperadamente. De súbito. Dejà vu. Répétition. Cinema de arte. Aquecimento global. Globalização. Sustentabilidade. Portabilidade. Insustentável. Insuportável. Incompatibilidade. Silêncio. Tranquilidade. Maresia. Praia deserta. Lua cheia. Maré alta. Maré baixa. Baixa auto estima. Baixaria. Respeito. Cidadania. Pedofilia. Inspeção veicular. Rodízio. Quilômetros de engarrafamento. Greve dos metroviários. Índice down jones. Atentado a bomba. Comédia stand up. Sexo casual. Preservativo. Donativo. Dízimo. Pastoral. Estatuto da criança e do adolescente. Câmera de segurança. Carro blindado. Colete à prova de bala. Bomba de efeito moral. Possibilidade de chuva e granizo. Esperança. Renovação. Recomeço. Maturidade. Anti-depressivo. Marina Lima. Júnior Lima. Fabio Júnior. Palvras. Palavras. Palavras...
segunda-feira, 21 de maio de 2012
REDES SOCIAIS
A minha vida nas redes sociais resume-se a um discreto facebook (acho que posso chamar meu facebook de discreto diante dos exageros de autopromoção que vejo diariamente nessa rede) um extinto orkut e, mais recentemente, um instagram mais puxado para o artístico, digamos... Redes sociais são para mim um vício. E, como todo vício, elas tem também o lado mau. Além de me fazerem feliz elas me irritam muito. Mas não consigo ficar sem dar uma passadinha diária por lá. Tá, confesso: Várias passadinhas diárias por lá... Uma coisa que não suporto é ver foto de comida postada no facebook. Pior ainda se for no instagram. Quem quer saber o que você vai comer? Fez o pedido? A comida chegou? Você adorou a apresentação do prato? Então come, pelo amor de Deus!! Não fica tirando foto que esfria!! E qual é o intuito? Mostrar que você tem paladar apurado? Que pede pratos caros? Ou é pra fazer os seus amigos virtuais ficarem babando de inveja? Não consigo ver um motivo legal para isso... Outra coisa que me irrita sobremaneira é o tal do "bora". Bora fazer isso, bora fazer aquilo. Ou sua variação ainda mais irritante: O insuportável bora lá. Com tanta coisa boa para importar da Bahia, tinha que ser essa expressão? Mas sei, sou chato mesmo. E agora deixa eu comer que meu prato chegou. Mas sem fotos, ok?
Na foto, Elvis, meu gato, direto do meu instagram.
sábado, 12 de maio de 2012
WARHOL NO MIS
Sempre admirei o universo de Andy Warhol. A mística que o envolvia, o glamour e seu incrível entourage. Mais do que a obra em si. Se bem que, no caso de Warhol, fica difícil separar uma coisa da outra, mestre que era em fazer da própria vida um événement artístico, social e, sobretudo, midiático. Quem não lembra da sua profecia dos quinze minutos de fama? Pois é. O tempo passa, o tempo voa e Andy Warhol continua profeticamente atual... Fui ao Mis visitar a exposição Surface Polaroides, com fotografias feitas em polaroide pelo rei da pop art. Tem Bianca Jaegger no auge da beleza e Stallone e Schwarzenegger esbanjando juventude e vigor físico. Tem o próprio Warhol como drag queen. Candy Darling e todas as fofas amigas. E, claro, my dear Robert Mapplethorpe. E muitos detalhes da anatomia do astro pop Mick Jaegger. Depoi de me deleitar com as imagens de Warhol, fui almoçar no Chez Mis, restaurante do mesmo grupo do Chez Lorena e Chez Burger. Tomei uma taça de vinho e fiquei beem tonto. Sem mais para o momento, me despeço para começar a me preparar para logo mais à noite assistir à São Paulo Cia de Dança no Teatro Municipal, acompanhada da Osesp. Luxo só.
Na foto, Warhol em si, acompanhado de caveira, em polaroide, bien sûr.
sábado, 5 de maio de 2012
ORIGINALIDADE
Muito se fala dos animais em extinção, da escassez da água no planeta e até de um possível fim do mundo previsto ainda para esse ano. Mas e a originalidade? Ninguém se preocupa com a sua extinção eminente? Como já existem muitos ambientalistas e fenomenologistas debruçados sobre as questões anteriormente citadas, vou me dedicar a essa última: A supressão da criatividade em função da busca instantânea e desesperada pelo possível sucesso. Que traz consigo a questão: O que é o sucesso? A julgar pelo nível das infindáveis variações sobre o mesmo tema que tenho visto, sucesso seria se dar bem a partir das idéias alheias. Ou seja: O indivíduo percebe que alguém descobriu um estilo ou um modo qualquer de expressão original que dá certo; ao invés de pensar em uma maneira própria de se expressar, ele passa a pensar da seguinte forma: Como posso modificar o que o outro criou de modo que pareça meu, mas que seja, no fundo, a mesma coisa e tenha o mesmo resultado positivo? Desde que o mundo é mundo a coisa funciona mais ou menos assim. Mas agora, na era da competição em que vivemos, na qual TER se sobrepôs desmesuradamente a SER, a coisa atingiu limites por mim nunca imaginados. Na minha santa ingenuidade, diga-se de passagem. Acredito que realmente existam pessoas capazes de distinguir uma bolsa Louis Vuitton verdadeira de uma cópia bem feita, por exemplo. Mas, enquanto isso, os chineses vão enchendo o bolso de dinheiro. E esse conceito se espalhou a todas as áreas do conhecimento, da arte, da tecnologia, e passamos a viver a era da cópia. Sou engraçado, mas não sei escrever? Pas de problème: Pego o texto de um colega e dou uma modificada. Ou nem me dou a esse trabalho: Uso tal e qual. Quero entrar em cartaz com um espetáculo de sucesso? Copio a idéia de alguém que se deu bem, mas, claro, modifico o nome. Quero dizer coisas aparentemente relevantes nas redes sociais para ter muitas curtições e gerar polêmica? Faço um grande esforço mental, lembro de algo incrível que já ouvi ou li, mudo o formato e pimba! Aliás, as redes sociais contribuem em muito para esse “mais do mesmo” infindável a que assistimos dia após dia. Copia-se tudo: Imagens, frases, ideias, projetos, posts, personagens, tu-do. A publicidade vem fazendo isso com muito sucesso através de décadas. E tenho plena consciência que também não apresento nenhuma originalidade nesse comentário. É só para manifestar a minha preocupação mesmo. Fui criado no interior, fiz todo o primeiro grau em escola pública, mas sempre fui motivado a criar, a ser original, em todas as áreas. Principalmente na artística, pendor precocemente percebido por minhas professoras e pais. O inacreditável, para mim, é ver que hoje, nas capitais, nas melhores escolas, com a tecnologia mais avançada, as pessoas estejam aprendendo a copiar. Para isso, cá entre nós, já existia o xerox. No meu caso, o mimeógrafo...
Na foto, a original Gal, que vem sendo copiada à exaustão.
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