domingo, 12 de agosto de 2012



TUDO PASSA...
Dizem que na vida tudo passa. Até mesmo as uvas! (Desculpem, não resisti). Mas houve um tempo em que tudo passava – literalmente - em frente à minha casa. Morávamos na avenida principal de Soledade, que corta a cidade de um lado ao outro. Guardando as devidas proporções, seria mais ou menos como morar em plena Avenida Paulista, aqui em São Paulo. Assim, vivíamos em uma espécie de camarote diante do qual a vida desfilava. Tudo era tão simples... No mês de setembro, um cortejo de cavaleiros, com seus trajes típicos, passava anunciando as comemorações da Semana Farroupilha. Havia também o desfile das candidatas à Primeira Prenda, que vinham sentadas sobre o capô dos carros acenando como misses. Isso também acontecia no verão, com as candidatas a Rainha das Piscinas, e quando havia a escolha da Rainha do Baile do Chopp. No Sete de Setembro eu adorava ver passar a banda do Grupo Escolar Álvaro Leitão, cuja ala Contos de Fadas, vinha cheia de personagens das histórias infantis. My own Disney Parade... Circos e teatros mambembes anunciavam seus espetáculos com carros de som, o que continua acontecendo até hoje. Alguns anos atrás eu estava de férias em Soledade e, ao ver passar um desses carros anunciando uma função para a noite, Igor, o filho da empregada da minha mãe, que na ocasião devia ter uns seis anos de idade, me perguntou: Tio Beto, lá em São Paulo tem um carro que passa anunciando a Terça Insana? Ri da ingenuidade daquela criança, cujas referências se limitavam ao que passava diante da minha casa. Igor certamente não imagina, mesmo hoje que já é um jovem, as dificuldades para se divulgar um espetáculo em uma grande cidade. Mas isso já é outro assunto... Nunca esqueço de uma corrida de carros que aconteceu em plena avenida. Colocaram cordões de isolamento nas calçadas e nós, as crianças, fomos proibidos de ficar sobre elas. Eu e meus amigos subimos na casa e assistimos à corrida de cima do telhado... Mas nada se compara ao dia em que um elefante passou anunciando a chegada de um circo. Felizmente deu tempo de correr para pegar a máquina fotográfica e registrar... Tudo era tão simples, volto a dizer. Vivemos, hoje, a era do espetáculo. Não me refiro às artes nem ao entretenimento, mas à espetacularização da própria vida. Não temos mais a vida como ela é. Mas, sim, como ela deveria parecer aos olhos dos outros. Por que será que isso não me impressiona? Por que não tem a força do elefante desfilando em frente à minha casa do interior? A avenida continua lá, testemunhando sabe Deus que atuais cortejos... Aquele tempo passou, levando consigo os eventos que por lá desfilavam. Eu continuo passando, assim como as uvas e tudo o mais. E os cães, que ladrem...

3 comentários:

  1. Belíssimo texto. Eu também tive a sorte de ter a casa da minha avó na praça principal de uma cidade do interior. Da janela assistimos a vida passar e também um número incontável de manifestações.

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  2. Muito legal seu texto. Onde fica a casa de sua mãe aki em Soledade?

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  3. Oi João! Fica na Av. Marechal Floriano, 1414. A casa foi vendida, atualmente pertence ao Anselmo. Você mora em Soledade?

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