quarta-feira, 22 de agosto de 2012




MAIS QUE A PAIXÃO

Retomo o hábito, há muito tempo deixado para trás, de escutar o álbum Circense, de Egberto Gismonti, que contém uma das mais belas canções da minha trilha sonora pessoal: Mais que a Paixão. Agora, por exemplo, estou em Ilhabela, de frente para um céu lindamente estrelado, ao som dessa canção, me perguntando como pude ficar tanto tempo sem ouvi-la... Eu tenho, desde os anos oitenta, o LP. Mas há muitos anos não tenho mais toca-discos e nunca encontrei em CD. Agora, moderno que sou, tecnológico que me tornei, baixei o álbum no meu iPad. A canção diz: Não espere de mim nada mais que a paixão. Como se paixão fosse pouco! Às vezes paixão é, simplesmente, tudo. Tudo o que se pode esperar. Tudo o que poderia salvar a vida de uma pessoa. Ilhabela, por exemplo, é amor. Fazia quase dois anos que não vinha e ela está aqui, linda, perene e bela na sua constância. O oposto da paixão, inconstante, fugaz, bipolar eu diria. Mas tão necessária! E a canção segue dizendo coisas como: A infinita vontade de arrancar de dentro da noite a barra clara do dia. Isso não é total e completamente paixão? Querer o impossível, desejar o inatingível, para, logo em seguida, deixar de querê-lo? Botar fogo na água, nublar o visível, confundir a compreensão, ofuscar as idéias... E Gismonti prossegue: Não espere encontrar numa canção nada além de um sonho. Nada além de uma ilusão. Transposto para a obviedade esvaziada de sentido das canções de hoje em dia, esse verso provavelmente diria: Não espere encontrar numa canção nada além de um tchu. Nada além de um tcha. E tchum tcha tcha tchum tchum tcha! Brincadeira. O vinho já está subindo à cabeça. E eu espero encontrar muito mais que a paixão nesses dias em Ilhabela. Às vezes a gente deseja mesmo é arrancar de dentro da noite a barra clara do dia. Nem que seja em sonho. Ou, quem sabe, em poesia. Ou talvez numa ilusão...

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