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ILUSÃO
Uma
das coisas mais impressionantes que vem com o amadurecimento é a perda da
ilusão. Ou melhor, das ilusões. Impressionante no bom e no mau sentido. Melhor
dizendo, em todos os sentidos. O passar dos anos acaba inevitavelmente trazendo
a percepção de que nem tudo é de fato como imaginávamos. Como acreditávamos
ser. Ou como gostaríamos que fosse... Em vários setores da vida: Pessoal,
profissional, afetivo. E no campo das amizades, então, o que dizer? Tem coisa
mais decepcionante do que perceber que uma pessoa que você sempre teve em alta
conta não corresponde em nada à imagem que você tinha dela? Por um lado é bom,
você fica esperto e passa a analisar mais detalhadamente as suas relações. Mas
e a tristeza de ver um laço afetivo se romper? Como um vidro que trinca, um véu
que rasga, uma névoa que se dissipa... Quando as máscaras caem, o que fica, no
máximo, é formalidade, sociabilidade, fachada. Aparência, um arremedo do que
antes fora uma relação. Puro teatro. Uma pantomima esvaziada de qualquer
sentido. Uma foto para ser postada em redes sociais. Quando percebemos uma
outra pessoa no lugar da que amávamos, nada será como antes. Um vaso quebrado,
por mais lindo que seja, não fica igual depois de colado. É muito triste
perceber que pessoas queridas traem, manipulam, inventam, agem segundo
interesses próprios que se sobrepõem a quaisquer outros... Quase tão triste
quanto perder entes queridos que morrem. Talvez mais triste ainda, pois
trata-se de morte em vida. Nada além, nada além de uma ilusão. Ilusão à toa.
Mentira, cansei de ilusões. Mentiras sinceras me interessam. A música popular
brasileira está cheia delas. E não apenas nas letras, se é que me entendem... E
o que dizer desse poema de Cecília Meireles, que há anos sei de cor?
“Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda. Sabendo bem que eras
nuvem, depus a minha vida em ti. Como sabia bem isso tudo, e dei-me ao teu
destino frágil, fiquei sem poder chorar, quando caí”... Perfeito. Quase um hai
kai. As desilusões de Cecília certamente não foram poucas...
Caramba! Texto forte, é uma boa constatação.
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