domingo, 22 de agosto de 2010



SEXO
Sempre tive fascínio por essa palavra que, durante muito tempo, foi somente uma palavra para mim: SEXO. Eu ainda nem sabia direito o que significava, mas já me sentia completamente atraído pela idéia que ela evocava. Sempre era mencionada à meia voz, disfarçadamente, e isso fazia com que eu desejasse ardentemente saber do que se tratava. Só sabia que era proibido. E, se era proibido, alguma coisa me dizia que era bom. Uma vez anunciaram que iria passar na TV, bem tarde da noite, o filme Clamor do Sexo. Achei que finalmente teria acesso a esse segredo de estado mas, qual, não me deixaram assistir. E mesmo no primário, quando descobri na biblioteca do colégio o livro De Onde Vêm os Bebês, que era especificamente direcionado a crianças, a professora não me deixou retirá-lo. Meu pai tinha livros sobre sexo guardados no cofre. E quando, já aos treze anos de idade, pedi para lê-los, ele disse que eu ainda não estava preparado...Que saco! Por que algo tão natural e tão bom me foi proibido durante tanto tempo? O resultado é que passei a temer o SEXO e me mantive virgem até os dezenove anos! Tinha quase vinte anos quando transei pela primeira vez... E o pior: no ano em que comecei a transar, 1983, já se começou a ouvir falar de AIDS. Aí a paranóia se instalou e não teve jeito: Quando parecia que tudo iria liberar geral, a coisa se retraiu ainda mais. Pelo menos eu nunca tive problema com camisinha. Pelo contrário, sempre achei excitante. Quando criança, descobri que minha mãe guardava camisinhas na gaveta do criado mudo. Eu não sabia o que era aquilo e, quando perguntava, ela sempre disfarçava dizendo que eu era muito cirança para saber. O que só aumentava meu interesse em sabê-lo. Aos nove anos de idade eu tinha uma professora de piano, Tereza, uma jovem que morava interna no colégio das freiras, onde comecei meus estudos de piano antes de ir estudar com Dona Amélia, de quem já falei aqui no blog. Com Tereza eu conversava sobre tudo o que era proibido em minha casa. Foi ela que me disse que aquilo que eu vira na gaveta da minha mãe se chamava camisa de vênus, e que era usada durante o SEXO, para impedir que a mulher ficasse grávida. Imediatamente as camisinhas se converteram em objeto de prazer para mim. Eu passei a desejá-las e acalentava o sonho de um dia entrar na farmácia e poder comprar uma só para mim. Uma vez não resisti e roubei uma da gaveta. Foi uma experiência incrível. Ok, vou poupá-los dos detalhes...A palavra gay ainda não era usada e homossexual, ouvida muito raramente, era praticamente um palavrão. Uma vez, já adolescente, li na Veja uma matéria sobre o pintor Darcy Penteado, na qual diziam que ele era homossexual assumido. Fiquei apavorado e atraidíssimo por ele. O seriado Malu Mulher, que Regina Duarte protagonizava no início dos anos oitenta, teve um episódio sobre dois vizinhos gays de Malu, vividos por Buza Ferraz e Daniel Dantas que me marcou profundamente. Mas foi com muito desconforto que assistimos, eu, minha irmã e uma amiga. Sempre me lembro da história de minha tia avó, Tia Ceci, que minha mãe nos contava. Tia Ceci casou muito menina e, obviamente, sem saber nada sobre SEXO. À quela época as meninas casavam-se aos treze, catorze anos de idade. Alguém dissera à Tia Ceci, só de sacanagem, que se ela encostasse no namorado enquanto dançava, ficaria grávida dele. E, num baile em que dançavam animadamente, alguém esbarrou nela e fez com que ela e meu futuro tio se encostassem. Minha tia ficou muito mal e confessou à mãe, em prantos, que estava grávida do noivo. Perguntada sobre como havia engravidado, a história foi desmentida sem ser substituída pela realidade. E foi assim que, ao chegar na sua lua de mel, minha tia avó teve a maior decepção da sua vida quando foi "deflorada" por meu tio. Levou anos para entender e saber que era aquilo mesmo que se fazia para engravidar. Nunca consegui entender o porquê de tamanha ignorância, nem o que fazia os pais passarem adiante algo que já estava provado que era maléfico: tratar o SEXO como tabú. Obviamente, a sombra da igreja católica paira sobre tudo isso. E hoje, depois de muitos anos de divãs e consultórios de terapeutas lotados, finalmente a bruma começa a se desfazer. Mas a que custos!

2 comentários:

  1. Por isso eu gostei muito do filme Kinsey. É a história de Albert Kinsey, americano, o primeiro homem que começou a falar abertamente de sexo e a coletar depoimentos de milhares de pessoas no que depois ele publicaria como O Relatório Kinsey - dando às pessoas a oportunidade de comparar conceitos e ideias sobre sexo.
    Em um momento muito engraçado ele pergunta a uma moça durante uma aula "qual a parte do homem que aumenta até cem vezes de tamanho quando ele está excitado?". A moça fica extremamente constrangida e indignada com a pergunta, e ele acrescenta "Eu estou me referindo à pupila do olho - a senhorita vai ter uma grande decepção quando de se casar".

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