INFÂNCIA
Tarde fria e cinza de inverno em São Paulo. Estou mergulhado na infância de Clarice Lispector. Sua biografia, escrita por Benjamin Moser, capturou minha atenção de modo que não consigo desgrudar os olhos do livro. Quando, finalmente, paro de ler para fazer um café, a vontade de escrever me traz de volta ao blog. Eu, que sempre fui fã dessa misteriosa e enigmática escritora, percebo que sabia muito pouco sobre ela. O livro narra com detalhes os horrores do período nazista vividos pela família Lispector, que fez com que viessem para o Brasil. Confesso que tive bastante dificuldade para ler essa parte e muitos trechos eu pulei porque sou fraco demais para agüentar. Mas o meu esforço inicial foi recompensado pelo mergulho a que me referi no início do post: a infância de Clarice. As ruas e praças de Recife, as sinagogas, a Livraria Imperatriz, onde Clarice pode ler Monteiro Lobato e Machado de Assis, o carnaval, a imaginação fantasiosa de uma menina fazendo-a ser feliz em meio às dificuldades financeiras da família e aos problemas de saúde de sua mãe. Triste e poético. Belo e comovente. Impossível não me reportar à minha infância, à minha imaginação fantasiosa, à minha descoberta dos livros como possibilidade de ampliar os horizontes da pequena cidade do interior. Benjamin Moser revela nessa biografia o quanto da menina de Recife havia na escritora do Brasil e do mundo. Clarice morou em diversos países, diversas capitais, sem nunca deixar de ser a pequena Clarice da Praça Maciel Pinheiro e da Rua da Imperatriz. Impossível não constatar o quanto do Robertinho de Soledade ainda trago comigo, para o bem e para o mal. Eu também já morei em várias capitais e, até mesmo, no exterior. Mas o interior, de onde vim, é que reflete o meu interior. Digo para o bem e para o mal porque muitas características do chamado “ser do interior” atrapalham uma pessoa que vive nas grandes metrópoles. Uma certa timidez, que eu chamo de caipirice, que, muitas vezes, me bloqueia diante do desconhecido, me faz temer o que eu considero “maior do que eu”. A gente cresce, evolui, aprende, mas não deixa de ser a criança que fomos. Graças a Deus. Eu era muito pequeno quando datilografei, na máquina de escrever do meu pai, meu primeiro conto, a história de um crime, cujo título foi: Era o Mordomo. Infelizmente, não guardei por muito tempo. Ou felizmente, vai saber. Uma vez, inventei uma palavra, só para ser maior do que inconstitucionalissimamente, que minha mãe dizia que era a maior palavra que existia na nossa língua. E, por esses mistérios da memória que não sei explicar, até hoje ainda lembro de cor: Amigolaficaneblocubalaquiantiunicaniblociplicali. Não está escrita em lugar nenhum. Apenas na minha lembrança. Tiro os olhos da tela do computador e olho para a tarde fria de inverno em São Paulo. Me vem à mente o verso de uma canção de Baby Consuelo: Até nos dias turvos chega e mexe comigo. Impossível não lembrar de voltar à leitura da biografia de Clarice.
Lembro que nesse Natal da imagem acima um enfeite caiu da árvore e não se quebrou. Por isso, pedi que me fotografassem com ele na mão. Mas, na hora em que fui postar, descobri que a foto não está comigo...
sim, existe um robertinho dentro do robertinho!
ResponderExcluirQuanta saudade da nossa infancia querida e feliz na pequena Soledade. A rica carinha da foto me traz imagens nitidas desta noite de natal. Bjs.
ResponderExcluirLindão, li teu post e deu uma saudade de você, dos nossos cafés de fim de tarde de domingo.
ResponderExcluirTenho o privilégio de ter participado dessa infância...adorava os cafés da madrinha Baixinha (e nem era afilhada dela). Saudade!
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